KAT
Subo a cerca que circunda o estacionamento da escola secundária da Ilha Jar. A SUV de Alex está estacionada perto do campo de futebol americano, brilhando, recém-lavada para o primeiro dia de aula. Tento ignorar que meu coração está batendo no triplo da velocidade normal, enchendo de calor meu peito, minha garganta e meus ouvidos.
Sábado foi meu aniversário de 18 anos. Passei a noite diante da mesa da cozinha, tomando doses de uísque com meu irmão, Pat, e comendo a torta de chocolate congelada que meu pai comprou no supermercado.
- Ah, Judy - disse meu pai ao fim de uma dose, como se ela estivesse sentada à mesa, virando o copo junto com a gente. - Olhe nossa garotinha.
- Sou uma mulher agora - disse eu, corrigindo-o.
- Uma mulher e tanto - acrescentou ele, empurrando seu copo para ser enchido novamente.
- Credo, pai. Isso foi nojento - disse Pat, servindo-nos outra dose.
Alex devia voltar para casa naquele dia, mas eu não sabia a que horas. Nem se ele ligaria. Não queria pensar nisso. Já queimara muitos neurônios com ele.
Passei a maior parte da semana em que Alex estava fora repassando nossa última noite juntos.
Diferentemente dos músicos das bandas que eu conhecia na casa de Kim, com Alex, eu não tinha de
me preocupar com até onde a coisa iria, mas ainda assim fora bem quente, o modo como ele assumiu
o comando. E era tão improvável ele e eu juntos. Nós nunca devíamos ter nos tornado amigos, menos ainda ficarmos juntos no iate de milhões de dólares do tio dele.
Sei que Rennie arrasaria com Alex se soubesse que tínhamos ficado juntos. E eu sabia que receberia o mesmo tratamento, de Rennie, de Reeve, de todos. Não que nenhum de nós dois estivesse pensando nisso naquele momento. Mas isso deve ter passado pela cabeça dele depois, da mesma
forma como passou pela minha.
E então ele me mandou um torpedo.
Bem-vinda à festa na minha casa. Passe aqui se não estiver fazendo nada.
Afastei a cadeira, e Pat disse:
- Do que você está rindo?
Eu mal o ouvi. Estava pensando no meu top com renda preta e no short de calça jeans cortada, mas, daí pensei, e se os pais dele estiverem lá? Eu devia provavelmente vestir algo mais sofisticado.
Sentei novamente. Por que estava tão maluca com isso? Foi só uma noite. Eu tinha de pisar no breque. Desliguei o celular e pedi mais uma dose ao meu irmão. Lá pela uma da manhã, eu estava oficialmente bêbada. Meu pai fora para a cama, e Pat desmaiara no chão da sala. Nosso cachorro Shep estava raspando as unhas na porta dos fundos, por isso peguei a coleira e fui passear com ele.Claro que fui parar na casa de Alex. Apesar de White Haven ficar a bons nove quilômetros de T-Town.
Definitivamente, ocorrera uma festa ali, mas já acabara. Copos de plástico e lixo estavam espalhados pela passagem que levava aos fundos. Havia música tocando, aquele tipo de porcaria de música para dançar que toca no rádio, mas o volume estava baixo. As luzes ao redor da piscina estavam apagadas. Havia comida na mesa, potes com batata chips e uma travessa com hambúrgueres que não foram comidos, guacamole ficando marrom, copos cheios de uma bebida cor-de-rosa e guarda-chuvas de papel. Havia mais decoração também. Redes de pesca, tochas, conchas. Um quepe de capitão amarrotado pendendo de um poste. Ouvi Shep roendo alguma coisa que ele encontrara no chão. Tive de lutar para tirar a coisa da boca do cachorro. Era um tapa-olho de pirata de plástico.
Andei até a casa da piscina, onde Alex costuma ficar, e olhei pela janela para ver se ele estava acordado.
Ele dormia na cama, deitado de lado, por cima das cobertas. Parte do acobreado do seu cabelo estava mais claro, cor da areia. E ele estava bronzeado. Bronzeado e sardento.
Parecia tão lindo que levou um segundo até eu notar o corpo pequeno envolto nas cobertas junto dele.
Passo pela fonte a caminho da escola. Lá está Alex, com seus amigos. Rennie e Lillia estão vestidas para o primeiro dia de aula de algum filme idiota. Lillia tem um pirulito na boca. Aquela
patricinha tem uma séria fixação oral. E Rennie. Só pelo modo como ela fica de salto, o quadril todo para um lado, a mão nas costas, mostrando os seios pateticamente pequenos, posso ver que está pronta para dominar a escola, agora que é uma formanda. Ela esperou por esse momento toda a maldita vida.
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Olho Por Olho
ActionAlguma vez você já quis realmente se vingar de alguém que a ofendeu? Talvez uma ex-amiga que a apunhalou pelas costas, ou um namorado traidor, ou um estúpido da escola que a humilhou desde que você era pequena... Alguma vez você já sonhou em envergo...