Pirralho

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Acelerando para a zona rural de Derbyshire onde havia entrado em uma luta corporal com Nicholas, Emmat mordia o dedo tentando fazer algum tipo de ideia para seu futuro. Na sua jornada avançava com calafrios, reduzindo a todo momento a velocidade da picape e trocando olhares com o retrovisor a cada cinco segundos. Precisava de documentos, mas não sabia ao certo onde arrumá-los. Não poderia falar que fora roubada caso alguém perguntasse novamente, e os documentos do carro estavam em nome de Nicholas. Como poderia estar circulando sem ser parada por alguém?

A curva acidentada de onde havia atirado Nicholas despertou a menina, que deslizou a mão no volante com um giro de 90° brusco. Freou o veículo, ofegante, apalpou as mãos na trava da porta e a abriu; desceu e andou um pouco tonta, sempre encostando na lataria vermelha.
Estava desesperada em procurar Nicholas, mesmo que isso resultaria um belo enforcamento, precisava saber que ele não estava ali ainda. Os machucados de Emmat pareciam infeccionados, porém não teve muita preocupação com isso. Estava com os olhos mais voltados para o acostamento, que não havia ninguém, a não ser... o que seria aquilo? Ela andou mais um pouco e sem se aproximar, abriu uma expressão de susto e horror no rosto.

"Um braço" - concluiu.

O órgão parecia ter sido retirado com algum objeto pontiagudo improvisado, e estava profundo entre os espinhos. Estava roxo, e sangue seco banhara as pedras que 'dançavam' entre os espinhos. E o cheiro estava começando a formar força.
Uma pequena sombra se formou atrás de Emmat, o que fez com que se virasse rápido para atender a pergunta.

- Por que está aqui, moça? - O menininho encarou.
- Estava na estrada e... esse braço... me assustou. - mentiu. - Foi só isso.
- Escute - o menino levantou o rosto -, não fique aqui. Uma menina fugiu de um centro de tratamento aqui perto e com certeza, matou esse pobre homem. As autoridades estão tentando localizá-la, mas ela é boa demais. Querem desistir... - lamentou-se.
- E, não... não acharam o corpo? - Emmat balbuciou.
- Ela é boa. Deve ter escondido. Matou o pai quando pequena e a mãe dela mudou o nome, mas também mora em Derbyshire.

Emmat arregalou os olhos.

- E o que ela acha disso?
- Disse que espera não ver a filha novamente. Morreria de desgosto. Mas como disse, tome cuidado. Ligue para a polícia se a ver.
Fará um favor a todos! - afirmou. - Ninguém aqui consegue dormir.
- Enten...
- Chega de conversar. - o garoto a interrompeu. - Preciso voltar para casa antes que anoiteça, ainda preciso recolher água do poço.
- Mas ainda são 16h32, qual a pressa?
- Olhe para o céu, bobinha. Uma tempestade está se formando, deveria se abrigar. Depois que pára de chover começa o vento, e anoitece antes que qualquer outro lugar.
- Você explica bem para um pirralho - riu.
- Vou fingir que você não me insultou - ele estava sério para ser um pirralho - e irei para meus afazeres. Adeus, moça.

Emmat assistiu a ida do caipirinha batendo os sapatos e pulando a cerca do outro lado da estrada com um olhar de desdém. Ela pressionava em continuar a sua busca pelo resto de Nicholas, mas o menino estava certo. Deveria se abrigar antes que a chuva começasse. De volta a picape, ligou o rádio para ouvir as notícias locais e seguiu a rota para o centro da cidade com muitas dúvidas.

Dream Needles  (Romance Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora