Traços de um Adeus

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"Não deixe partir o sentimento que completa-te por dentro."


"Não é pra ser natural dizer adeus,nem mesmo pra aceitar que todos os sentimentos e razões que nos trouxeram até aqui podem evaporar numa questão de segundos.O destino é cruel as vezes,mas de forma distinta,a existência precisa ser cruel..."

É difícil decifrar o que vai acontecer à seguir na vida de cada um de nós,afinal o destino é imprevisível e silencioso,mesmo quando seus atos são reflexos maiores de cada alma.É impossível descrever a dor da perda por que quando ela se manifesta,em suas mais profundas raízes,é natural que experiencias esquecidas apareçam só para registrar que você também chorou por algo ou alguém,por uma razão que é sempre só sua e que envolve seus sentimentos e fraquezas.Deveria existir mais equilíbrio entre o destino e nossos sonhos,mais tempo para dizer as palavras certas;mais tempo para olhar para quem amamos e dizer apenas "obrigado por existir".

A consequência de amar,é que quanto mais você tenta dizer que está tudo sob controle,mais você mente para os outros e para si mesmo.Não existem caminhos diferentes além da verdade e do afeto para quem ama de verdade,pois ao contrário do que alguns pensam,amar alguém é mais que um ato representativo,é um ato de entrega e responsabilidade que poucos estão aptos a entender.E é em meio a tal realidade que uma única questão impera:será que tudo é para sempre?Será que temos tempo?

Na manhã de segunda,Júlia acordou mais cedo para ajudar a avó no preparo de um café da manhã caprichado para os dois que ainda estavam na cama.Júlia gostava de ajudá-la principalmente com os doces de compota e com os biscoitos de goma,especialidade dela desde que aprendeu com sua mãe.As duas estavam tranquilas,conversando sobre Lucas e Fábio enquanto preparavam a mesa.Eles iriam voltar para casa naquele dia e a avó dela queria que aproveitassem os sabores daquele lugar até o último instante.Elas sabiam que os dois estavam felizes ali,era inevitável perceber isso.

No quarto,a luz do sol já coloria o cobertor que fazia parte de um cenário de amor criado por eles.Fábio estava com a cabeça apoiada sobre o peito de seu namorado,num sono que parecia tão suave quanto o de uma criança,apenas indefeso e em paz evidente.Lucas estava acordado,pensando na vida que queria construir ao lado daquele garoto,que mesmo quando parecia distraído o fazia se apaixonar ainda mais.Quando ele despertou,com um sorriso aberto que mais parecia o céu,Lucas o admirou e disse:

-Você é a única pessoa que me faz querer viver pra sempre...

Fábio olhou para ele,tão lindo sob a luz do sol e sentiu-se seguro.É preciso apenas amor para cuidar de alguém,pois só sentimentos de verdade oferecem abrigo de verdade.

-Repete amor.-Disse Fábio encantado

-Você é a única pessoa que me faz querer viver para sempre.E a cada dia que passa te amo mais.

Lucas o beijou com uma intensidade secreta,com a vontade de deixar em seus lábios macios a prova de uma declaração real e pura,para que até seu corpo soubesse que nunca haveria abandono entre eles.Os dois se arrumaram e pouco tempo depois desceram para o café da manhã,que seria a despedida de um final de semana perfeito.Na mesa,ao lado de Júlia e sua avó,os dois agradeceram pela recepção sempre tão acolhedora e gentil;sentiam-se sempre à vontade quando estavam ali,sem medo de olhares tortos ou palavras de repúdio por demonstrarem seu amor.A mesa estava realmente linda:bolos de laranja e chocolate,biscoitos e uma variedade de frutas e sucos naturais que satisfez a todos.

Lucas não se separava de Fábio;estava feliz por sentir seu corpo sempre tão seguro ao seu lado e isso era simplesmente perfeito.Após prometer voltar em breve,preparam-se para o retorno para a cidade,e como era segunda-feira iriam direto para o colégio.A tarde seria deles,queriam ficar sempre mais juntos e Júlia entendeu,pois também estava apaixonada.Os três pegaram o ônibus para a breve viagem.No caminho,Júlia dormiu ouvindo sua banda de Rock favorita tocando no fone de ouvido,enquanto Fábio e Lucas apenas olhavam pela janela as lindas paisagens.

Seria bom acreditar que tudo permaneceria bem,mas também seria falso dizer isso.Cada instante da vida guarda seu segredo,e nem sempre ele se mostra positivo.O ônibus parou próximo ao colégio como de costume mas Júlia,em seu sono confortável não percebeu.Lucas a acordou e desceram até a calçada.Fábio também estava usando fones,mas a música era mais leve e apenas para que se lembrasse do namorado.As vezes ouvia Cássia Eller quando estava triste só pra recordar seu sorriso,aquela imagem do paraíso tão tocável e real,aquele sentimento que o abraçava sempre mais forte.

Atravessaram juntos para o colégio,mas sem querer Fábio deixou um de seus livros cair.Naquele exato momento,um carro em alta velocidade apareceu e atingiu o jovem,que com o impacto,foi arremessado cerca de quatro metros à frente do local do acidente.Lucas não conseguiu se mover de imediato,pois a dor e a perplexidade deixaram seus músculos imóveis.Seus olhos não acreditavam no que viam,e tudo parecia mais lento e pesado agora.Pessoas correndo e gritando,passos fortes e palavras de socorro;tudo isso estava em câmera lenta para ele.Seus batimentos cardíacos aceleravam agora e uma dor lancinante tomava seu peito,transbordando em lágrimas o que o resto de seu corpo não conseguia expressar.

Quando o êxtase do momento começou a passar,Lucas correu para seu namorado e a cena era chocante.Seu corpo,antes firme estava completamente imóvel e ensanguentado e a primeira sensação que teve foi a pior,de que havia perdido seu amor.Pessoas surgiam de todos os lados e as lágrimas de Lucas pareciam não ter fim.Ele abraçou o corpo de Fábio e viu que sua cabeça tinha um grande ferimento,o que o deixou sem forças.Queria gritar pra ele acordar,pra ele sorrir de novo,mas a sua voz não saia da garganta.O medo corrompe nossa breve noção de forças.Ele,que se achava sempre pronto para resolver as situações da vida e cuidar de quem amava,percebia agora que nada estava ao seu alcance além da dor.Quando finalmente conseguiu falar,se aproximou do ouvido de Fábio e disse apenas:

-Volta amor...Eu imploro,volta!

Uma ambulância apareceu pouco depois,mas Lucas não queria soltá-lo.Júlia também estava chorando muito e quem passava se comovia com a cena.Os funcionário do colégio e seus colegas estavam tentando apoiar os dois mas era difícil;a dor era evidente em cada olhar e todos sabiam que aquilo iria marcar suas vidas de alguma maneira.Lucas insistiu para ir na ambulância ao lado de seu namorado,não poderia abandoná-lo assim.Júlia ficou responsável por ligar e avisar a mãe dele,mas sabia que talvez não pudesse dar tal notícia.Dentro do veículo,Lucas apenas repetiu o que seu coração dizia:

-Volta amor,volta!



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