Aurora

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"O amor sincero não tem limites;é a mais poderosa força humana."


"A espera existe para nos surpreender;seja pela intensidade do tempo envolvido ou simplesmente pela existência paralela ao desejo do agora.Você sempre quer mais instantes da singularidade que nos faz amar alguém,e mesmo que o tempo ou destino não colabore,você espera...E no fim das contas,toda espera baseada no amor,tem resultado."

Existem verdades que não se comprometem,realidades onde só o que cada um pensa e sente deve ser aceito,e é bom perceber isso.Quando a vida nos permite expor as sensações mais surreais e até os mais simples detalhes de uma existência cheia de perguntas e lacunas não preenchidas,é por que há merecimento ou apenas retribuição.As pessoas descobrem isso quando o amor deixa de ser um termo poético e assume seu lugar como único sentimento de controle e descobrimento,pois é através dele que temos a grandiosa dádiva de mostrar a real humanidade de cada um.

Se o destino for cruel ou aparentemente cético perante nossos sentimentos mais profundos,é só uma possibilidade natural,afinal não podemos julgar as forças que movem a existência sem antes buscar compreender cada uma delas.O fato é,que independente do que aconteça em nossas vidas,existe a esperança que acolhe o pranto,a mão que nos toca para revelar que somos mais que humanos e enfim,a certeza de que ter fé no amor não é banal ou simplório...

Era cada vez mais constante e presente;uma sensação que o acompanhava todos os dias e que mergulhava em seus sonhos noite após noite.A certeza que se construiu em sua mente era tão viva quanto o toque leve porém expressivo naquela tarde ensolarada,que por esperar o crepúsculo ainda permanecia segura da espera de ambos.Lucas sabia que estava cada vez mais perto de ter seu grande amor de volta,mas é difícil explicar isso quando o que acontece é irreal,ou talvez seja real o suficiente para supor a dúvida.

Naquela tarde,a visita de Lucas foi inesperada e com um resultado maior do que imaginava.Depois de algum tempo sem ir ao encontro de seu namorado,ele percebia que todo aquele tempo distante só o machucava ainda mais;a ausência de Fábio ali era inquestionável,pois seu corpo estava ligado à aparelhos e sua alma longe de mais para ouvir sua voz,ou perceber suas lágrimas.Mas deixar isso de lado não o tornava mais forte ou mais preparado,era como uma ilusão que ele mesmo criou para se esconder de sentimentos maiores do que podia compreender de imediato.

A sensação agora era confusa,porém real e intensa em seu peito.A memória não o enganou,nem mesmo seus olhos que apesar de tristes,perceberam o toque de Fábio.Pode ter sido um instante parcial talvez,porém sensato;era como se seu namorado quisesse voltar,mas não tivesse forças para isso.Lucas hesitou naquele momento,não sabia se era mais uma ilusão sua criada pelo forte e inexplicável desejo de tê-lo de volta ou se era verdade.Chamou um dos médicos e depois de uma série de exames realizados,sentiu que podia estar certo.Os médicos disseram que Fábio parecia instável agora,e que mais exames seriam feitos em breve para entender melhor o que estava acontecendo.

Os pais do jovem também reafirmaram sua fé de que tudo iria ficar bem dessa vez,e as duas família se uniram de forma completa.A mãe de Lucas confiava no filho,e apesar de achar que em determinados momentos ele se deixasse levar por uma esperança sem fundamentos lógicos,estava ao seu lado para qualquer escolha.Ele sabia disso também,mas o que o movia não precisava ser lógico e sim intenso como aquele amor que ainda ardia em seu peito quando recordava os momentos felizes que viveu ao lado de Fábio.

Os únicos que ainda permaneciam afastados daquele turbilhão de sentimentos eram Júlia e o pequeno John.A jovem estava estudando e empenhada em construir uma vida melhor para si mesma,um momento que não havia planejado com antecedência mais que agora parecia o correto à fazer.Quanto à John,estava novamente passando alguns dias na casa dos tios,lugar onde mais se divertia nos últimos tempos,depois da escola.Nada sobre o estado do irmão era mencionado,mas o garoto era inteligente e sempre perguntava,apesar das respostas sempre surgirem com frases soltas do tipo: "Ele está melhorando John!" ou "Em breve ele estará bem"...

O tempo passava cada vez mais depressa,e Lucas sentia isso quando lembrava de alguns momentos que viveu ao lado de seu namorado,como sua festa de aniversário e o dia em que ajudaram a mãe dele à vender alguns bolos de chocolate numa feira de culinária do colégio.Aquelas memórias simples não estavam ali por acaso,eram reflexos de uma saudade maior que ele mesmo;algo que nunca sentiu antes de encontrar aquele garoto que estava mudando sua vida.

Ele sabia que não podia fazer muito além de esperar,apesar disso lhe parecer uma tortura também.Sabia que mesmo que só o silêncio de Fábio fosse presente naquele quarto de hospital,era melhor estar embriagado disso ao seu lado do que cada vez mais distante e sentindo-se sempre mais perdido sem sua presença.Ligou para a mãe de seu namorado,queria saber sobre tudo o que estava acontecendo e como ela se sentia também:

-Eu estou bem Lucas,só um pouco cansada de tudo isso entende?Os médicos dizem que ele vai melhorar mas nada acontece e...É difícil pra mim suportar.-Desabafou com a voz embargada pelo choro

Sempre soube que para ela era insuportável ver tudo aquilo,sem respostas e com apenas a incerteza de uma recuperação que nunca acontecia em definitivo.

-Eu estou aqui,não precisa ficar assim.Nós dois sabemos que ele vai melhorar,precisamos acreditar nisso...O Fábio precisa dessa fé,precisa de nós.-Disse ele

Aquelas palavras pareciam apenas um alento simples para uma mãe que há quase três anos acompanhou seu filho ali,deitado numa cama e sem indícios de que iria acordar e ver seu rosto de novo.Ela queria poder tirá-lo de lá,sair de mãos dadas com aquele jovem alegre,cheio de sonhos e perspectivas,silenciado por um acidente cruel que o impedia de ver tudo o que estava acontecendo com ele e por ele.

Dias depois daquela conversa,Lucas decidiu ir ao hospital mais uma vez.Era dia de plantão médico e os corredores estavam cheios,diferente de outras ocasiões.Foi um pouco mais demorado para registrar sua entrada,mas assim que o fez foi direto para o quarto.Ao abrir a porta,notou algo diferente naquele ambiente depois de tanto tempo.Provavelmente a mãe de Fábio havia comentado com algum dos funcionários,ou foi apenas um acaso simples que deu certo,pois o quarto agora apresentava um tom de azul claro,cor que representava o amor deles.

O jovem ainda parecia abatido naquela cama,mas alguns aparelhos não estavam mais ali,talvez os médicos tivessem notado uma melhora real e decidiram assim.Não importava tanto,pois só o fato de ver seu namorado um pouco menos conectado ao hospital o fazia bem de certa forma.Ele estava respirando tranquilamente e Lucas se aproximou para sentir isso mais perto.É impossível explicar a relação de amor que se estabelece entre duas pessoas,e isso se torna cada vez mais inexplicável quando esse sentimento precisa do outro para coexistir.

É só uma hipótese,mas as vezes o amor espera para reagir e crescer de dentro para fora.Poderia ser só mais um momento perto de seu namorado,apenas para rezar por sua melhora ou para lembrar as páginas em branco que juntos preencheram de cor e vida,mas aquele momento seria muito mais que isso.Ele segurou sua mão novamente e esperou que ele a apertasse.

-Por favor amor,volta pra mim.Sem você,não consigo aguentar...-Disse olhando para Fábio

As palavras sinceras não tiveram reposta,e Lucas apenas permaneceu ali.Talvez a vida realmente seja só um jogo sem regras e nada pode mudar o que existe além de nossas percepções,mas em algum momento tudo isso muda e nos surpreende.Como a aurora,que por ser tão rara e magnífica nos parece impossível mas surge para abranger os corações que mergulharam no frio da solidão e da saudade.Um dos aparelhos ainda conectados ao jovem registrou algo errado,e um som abafado começou a tocar.Lucas sentiu sua mão estremecer e continuou olhando para aquele a quem tanto amava,e de repente testemunhou o que mais pediu durante todos os dias em que chorou por Fábio,que sentiu a sua ausência ferir tão fundo:

Ele abriu os olhos,e a aurora de um amor intenso invadiu e coloriu a alma de Lucas...





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