Capítulo Dois

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            Tudo continuava encantador – o portão de madeira da entrada, a grama verde bem cortada, as violetas e as jasmins do jardim em frente à casa - e eu parecia estar voltando no tempo. No horizonte, pude ver a plantação de girassóis subindo a colina, enquanto o cheiro das oliveiras penetrava os meus pulmões. Eu estava em casa, depois de tantos anos.

Nonna Francesca me puxou pela mão, me guiando até a escada que conectava o terreno à casa. O tom pastel das paredes contrastava com as janelas em madeira dando um toque medieval à arquitetura típica da Toscana. Em frente à sacada, que mais lembrava uma enorme varanda, um chafariz contornado por pedras se encarregava de dar vida ao local.

Adentramos na casa e recordei o quanto vovó tinha um bom gosto, ainda que rústico. As paredes continuavam a ser de um pastel, porém mais claro que o das paredes exteriores e os móveis eram todos em madeira, salvo a cristaleira que contava com detalhes em vidro. A sala era ampla, ótima para receber convidados – o que eu sabia que acontecia com frequência – e dela poderíamos avistar a cozinha – o local que eu mais me recordava. Bem previsível para uma chefe de cozinha.

Lembrava de muitos momentos ali, com os meus primos, esperando ansiosamente os nossos brigidinis, um biscoito doce típico da Toscana e que eu nunca consegui deixar iguais ao da nonna. Eu e o Abelardo, meu primo, sempre discutíamos acerca do sabor - tradicional x chocolate, mas eu sempre o convencia. Os meus devaneios típicos foram interrompidos pelo ronco de um carro lá fora. Era o nonno Enrico!

— Onde está a minha mais bella ragazza? – ouvi-lo dizer seguido do barulho de uma porta do carro se fechando.

Nonno! – exclamei já na varanda, esperando o seu abraço forte.

— Que saudade da minha bambina! – abraçou-me forte e eu sorri satisfeita. – Não fique mais tanto tempo sem me ver, va bene? – fingia me dar uma bronca, enquanto passava as mãos pelos meus cabelos e eu gargalhava.

— Desculpa, nonno! – disse beijando o alto da sua cabeça coberta por cabelos brancos e fininhos - Então... Pensei que o senhor só chegaria à noite. – franzi o cenho.

— Era o que estava programado, mas não encontramos um dos fornecedores em Florença e tivemos que voltar mais cedo. – explicou-se.

Atrás dele, percebi um rapaz que sorria ao ver a cena, com as mãos dentro do bolso da calça jeans. Seus cabelos eram negros e refletiam o brilho do sol e sua pele era bastante bronzeada. O seu rosto era familiar, embora eu não conseguisse me lembrar com exatidão de onde o conhecia. Antes que eu pudesse recordar, nonno Enrico fez as honras de nos apresentar:

— Antonella, não se lembra do Pietro? – perguntou, revezando o olhar entre nós dois. Sabia que aquele rosto era conhecido! pensei.

— Claro, nonno, é só que tem um tempo que não o via. – falei tentando me explicar e sorrindo sem graça. Pietro coçou a nuca.

— Bom ter rever, Antonella. – disse estendendo-me a mão. O cumprimentei com um aperto, correspondendo ao que ele havia dito.

— Depois que Firmino se foi, Pietro está me ajudando a administrar a fattoria. – disse vovó, batendo no ombro do Pietro.

— Garanto que tão bem quanto seu pai. – respondi e recebi um sorriso de agradecimento de volta. Eu dava valor a quem considerava a minha família.

Venire, queridos! Está um sol escaldante ai fora. – disse vovó, pedindo para que entrássemos em casa.

— Já estou de saída, nonna Francesca. Só vim deixar o Seu Enrico aqui. – respondeu Pietro.

AntonellaOnde histórias criam vida. Descubra agora