Enfim, férias! era o pensamento que me habitava em meio ao saguão do Aeroporto Amerigo Vespucci, na capital da região italiana da Toscana, mais conhecida como Florença. Se eu não estivesse cercada de pessoas naquele momento, poderia jurar já estar sentindo o cheiro das oliveiras, mas a verdade é que o cheiro era tão igual àquele sentido no aeroporto de Londres, onde eu estava há algumas horas atrás. O tempo lá fora, entretanto, indicava que eu já estava bem distante da Inglaterra, afinal, já passavam do meio-dia e o sol estava a pino.
Era dessa vitalidade climática cotidiana que eu sentia falta em Londres, como típica italiana, embora não tivesse tido muito tempo para conviver no meu país de origem. O fato é que tudo na Itália me atraia mais que em Londres, desde as paisagens ensolaradas até os costumes, – sem contar a culinária mediterrânea – mas meus pais não compartilhavam do mesmo pensamento e trataram de se mudar da Itália ainda quando os dois tinham apenas vinte e um anos e eu apenas três.
Nos primeiros anos, viajávamos para a Toscana em todos os feriados possíveis, mas com o tempo, os meus compromissos escolares ao decorrer dos anos passaram a dificultar as viagens e elas foram se tornando cada vez mais espaçadas. Para compensar a saudade, nonna Francesca e nonno Enrico nos visitavam sempre que podiam. O resultado disso: quase sete anos sem visitar a minha cidade natal e nada mais justo que voltar às raízes naquele ano.
— Antonella! – pude reconhecer a voz doce que me chamava antes que eu virasse os calcanhares em direção ao som. Era a nonna Francesca! – Como está bella a minha ragazza! - exclamou, em alto e bom tom, como uma italiana nata.
— Nonna Francesca! – sorri, enquanto ela acariciava o meu queixo com as duas mãos. – Que saudades da senhora! – declarei, abraçando-a de lado. Procurei com os olhos o seu fiel companheiro, meu avô, mas nenhum sinal dele. – E o nonno Enrico, onde está? Pensei que viria receber sua neta. – indaguei.
— Oh, querida! – disse, acariciando as minhas bochechas. Nonna me trataria como se eu fosse uma garotinha de apenas cinco anos de idade até quando eu lhe desse bisnetos. - Rico teve que resolver alguns negócios da fazenda com o Pietro aqui em Florença, mas estará em casa à noite, pronto para enchê-la de beijos, va bene? – explicou-me. Va bene! Há quanto tempo eu não ouvia aquela expressão? pensei. Na Inglaterra, um simples OK resolveria o problema.
— Va bene, nonna! – respondi compreensiva, entrelaçando seu braço esquerdo no meu. Era incrível com o sotaque italiano já me tomava assim que eu colocava os pés no meu país.
— E onde está Liam? Pensei que ele também estivesse vindo. – indagou curiosa e eu apenas engoli em seco. Não havia contado a ela que nós tínhamos terminado.
— Terminamos, nonna! – respondi e ela me olhou incrédula, diminuindo os passos em meu encalço.
Era de se esperar aquela reação, afinal, eu e o Liam éramos namorados desde os dezessete anos de idade e assim permanecemos por exatos cinco anos. Sendo sincera, não me arrependia de ter estado com ele durante nenhum daqueles anos, de fato, éramos apaixonados um pelo outro, mas o namoro havia caído na rotina – o que é de se esperar da maioria das relações que se iniciam cedo, com exceção da dos meus pais, lógico – e acabamos por terminar. Sem mágoas, ressentimentos ou troca de xingamentos, como todo casal maduro e que se amou um dia deveria fazer, mas eu ainda sentia falta dele, isso eu não poderia negar. Eu só não contaria a vovó o fato de que planejamos aquela viagem juntos e que, naquela circunstância do término, ele teria desistido da viagem, pelo menos era o de se esperar.
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Antonella
RomanceAntonella Bodanese é uma jovem chefe de cozinha italiana que retorna à cidade em que nasceu, San Gimignano, no coração da Toscana, buscando paz e descanso - sensação que ela não vive desde que assumiu a cozinha de um dos restaurantes do seu pai em L...