Capítulo Vinte e Um (Parte I)

4.2K 406 147
                                    


Três dias depois...

— Tudo pronto? – nonna Francesca perguntou assim que pôs a cabeça para dentro do quarto. – Precisamos estar em Firenze em duas horas. – comentou e eu assenti sorrindo de lado.

— Só estou terminando de guardar algumas coisas na mala, va bene? – respondi e ela concordou, soltando-me um beijo no ar e me deixando sozinha no quarto outra vez.

Aquelas eram os meus últimos minutos em San Gigminano e, dentro de algumas longas horas, eu estaria em Londres novamente. O meu coração pesava toda vez que eu me lembrava disso, mas eu decidi que seria melhor levar comigo apenas as lembranças boas daqueles noventa dias inesquecíveis. Os encontros na casa da Valentina e do Bernardo, as sopas deliciosas da nonna Francesca, o carinho incomparável do nonno Enrico, as palhaçadas do Matteo e do Bernardo, o amor enclausurado de Conrado pela Valentina e a descoberta de um novo Pietro. Foram essas as coisas que eu decidi levar comigo até a Inglaterra, me esforçando ao máximo para que elas fossem mais significativas do que a falta que eu sentiria de todas essas pessoas.

O fato é que eu não costumava ser assim tão otimista. Sem sombra de dúvidas, em qualquer outro período da minha vida, eu estaria me lamentando com a partida, apenas remoendo os pontos negativos da minha decisão. Acontece que San Gimignano me trouxe muitas coisas boas e, dentre essas coisas, esse lugar me ajudou a ser forte e ter coragem o suficiente para assumir as minhas escolhas.

Era por isso que eu não me arrependia de estar deixando para trás todos esses momentos inesquecíveis. Voltar a San Gimignano me trouxe a força que eu precisava para me perceber como alguém auto-suficiente, dona de mim e competente o suficiente para correr atrás do que bem entendesse e construir o que fosse do meu interesse. Agora, eu precisava voltar para o lugar que me tirou tudo isso e mostrar que estava completa em mim, pronta para ser dona do meu nariz.

Isso não só tinha relação com a minha profissão, mas com os meus sentimentos. Terminar o meu relacionamento com o Liam me fez construir barreiras e trancar portas para o amor, de forma que eu achava difícil voltar a amar alguém com tanta intensidade. Bom, e eu não voltei a amar, mas um certo alguém, com o coração ainda mais ferido que o meu, esteve disposto a me mostrar que não vale a pena permanecer no passado enquanto o presente te oferece oportunidades imperdíveis. Não seria justo dispensar essa ajuda.

— Vamos? – falei chamando a atenção do nonno e da nonna recostados na varanda da fattoria.

O céu estava completamente azul e sem nenhuma nuvem, apenas uma brisa exalava o perfume das oliveiras, inebriando o meu corpo do cheiro que eu buscaria eternizar na minha memória todas as vezes que as coisas estivessem difíceis. Assim que me avistou, nonna Francesca me lançou um olhar fraterno, depositando um beijo em minha cabeça. Prometi mentalmente não ficar tanto sem visitá-los novamente.

Caminhamos em passos largos em direção ao carro do nonno e, mesmo que eu tivesse tentado, não pude deixar de observar, pela última vez, o lugar que me trouxe tanta paz durante aqueles três meses.

Nonno Enrico e nonna Francesca foram conversando durante todo caminho ao Aeroporto Amerigo Vespucci, planejando o nosso próximo encontro. Se tudo ocorresse como o planejado, eles estariam em Londres no final do ano para a inauguração do novo restaurante do papai. Eu não poderia estar mais animada com essa ideia.

— Finalmente irei conhecer a tal da Lexie. – nonna comentou assim que acabei de fazer o check-in.

— Já sei que a senhora ganhará outra neta... – comentei e ela me abraçou de lado.

AntonellaOnde histórias criam vida. Descubra agora