Segurem a emoção, só digo isso!
Depois que arrumamos as nossas malas, colocando todas as peças de roupa nos armários e todos os produtos de higiene no banheiro, seguimos rumo à divisão das tarefas que, por incrível que pareça, foi algo fácil de ser feito. Eu ficaria encarregada de cozinhar e limpar a cozinha durante aqueles dias, – nada muito surpreendente, diga-se de passagem – Matteo e Bernardo limpariam a sala e os banheiros – eles protestaram um pouco acerca disso, mas não teve jeito -, Valentina e Conrado arrumariam os quartos e Pietro ficaria encarregado dos consertos da casa – desentupir a pia da cozinha, pregar as madeiras que estavam faltando na ponte da trilha, limpar a piscina e trocar as lâmpadas.
Enquanto todos estavam encarregados dos seus afazeres, pude ouvir Matteo e Bernardo reclamando do cheiro desagradável do banheiro, além de gargalhadas vindo do cômodo em que Conrado e Valentina estavam. Na cozinha, Pietro estava concentrado no sifão da pia de mármore quando resolvi me aproximar:
— Está com grandes problemas? – indaguei, sentando-me em um dos bancos de madeira da cozinha.
— Na verdade, nem tantos. Só mais cinco minutos e você poderá assumir o cômodo. – ele parou para me olhar, limpando um pouco do suor que escorria em sua testa.
— E quais são os planos para hoje? – perguntei ao observar como o dia estava ensolarado.
— Provavelmente, todos nós iremos sentir sono após o almoço e perderemos toda a tarde. Costuma ser assim sempre. – ele deu de ombros, levantando-se do chão e limpando as mãos no fundo da calça jeans.
— E à noite? – perguntei já indo em direção à dispensa e procurando os ingredientes do almoço.
— Piscina. – respondeu rápido, como se repetisse aquele cronograma há anos.
— Por quê não à tarde? – franzi o cenho, afinal, não fazia sentido usarmos à noite, sendo que teríamos a tarde toda livre. Sem contar o frio.
— Preciso limpá-la antes. Aliás, vou fazer isso agora mesmo! Você precisa de alguma ajuda aqui?
— Está tudo certo por aqui. – sorri agradecida e ele rumou em direção ao píer da piscina.
* * *
Pietro estava absolutamente correto quando disse que a tarde seria preenchida por longas horas de sono, porque foi isso que aconteceu assim que todos nós almoçamos. Matteo e Bernardo adormeceram no sofá da sala, enquanto que Conrado, Pietro, Valentina e eu fomos para nossos respectivos quartos.
Já passava das 18h quando eu finalmente acordei – e só o fiz devido à movimentação vindo da direção da piscina. Fiz questão de me certificar se eu estava correta – pois eu não considerava ser possível tanta animação para enfrentar uma água gelada num frio da Itália - e me arrastei para a varanda, ainda com os olhos um pouco fechados.
— Vem, Ann! – Matteo berrava, jogando a água da piscina para cima.
— Vocês são loucos! – exclamei assim que tive forças suficientes para fazê-lo. – Ainda estou morrendo de sono.
— Precisamos aproveitar cada segundo dessa semana! – Bernardo me respondeu, afastando os fios ruivos que insistiam em grudar na sua testa. Gargalhei com a animação do ruivo.
Bernardo e Matteo agora nadavam em direção à outra borda da piscina, enquanto Conrado e Valentina brincavam de algo que parecia ser descobrir a música que o outro cantava debaixo d'água. Pietro estava sentando em uma das cadeiras de plástico, rindo do ataque de alegria de Valentina quando acertou a música que Conrado cantava.
Atravessei a casa, indo em direção à piscina, certa de que não iria cair nela por motivos de: 1) estar com muito sono e 2) estar muito frio, mas fracassei totalmente na minha tentativa. Antes que meus pés tocassem a grama próxima ao píer, senti um braço envolvendo a minha cintura, enquanto o outro se encarregava em levantar minhas pernas. O perfume amadeirado não me deixou ser enganada:
— Pietro. Me. Larga. Agora! – exclamei, debatendo-me em seus braços, numa vã tentativa de me soltar.
Pietro gargalhava como nunca o vi fazendo antes, mas a rouquidão na sua voz era a mesma de sempre. A mesma de quando ainda éramos crianças. Sua respiração ofegante, próxima ao lóbulo da minha orelha, me fazia cócegas, piorando ainda mais o meu estado de fragilidade.
— Posso? – perguntou, com seu rosto numa proximidade exagerada em relação ao meu. Ele tentava conter o riso, buscando no meu rosto qualquer sinal que o fizesse ir adiante com aquela brincadeira. Sorri. E não demorou nem dois segundos para que eu sentisse meu corpo na água gelada. – Viu só? Nem está tão frio.
Sabe aquela sensação de estar imersa num cooler de gelo? Pois bem, era assim que eu me sentia. Não consegui mover nenhum músculo do meu corpo – pois sabia que, se o fizesse, o frio aumentaria - e permaneci paralisada durante alguns segundos, enquanto todos à minha volta gargalhavam do meu entorpecimento.
— Você está bem? – Valentina se aproximou, fitando meus lábios já num tom arroxeado e meu corpo trêmulo. Fiz que "sim" com a cabeça.
— Prefere sair? – Pietro se aproximou num semblante preocupado. Fiz que "não" com a cabeça. – Então, vem cá.
Pietro me puxou pela cintura, deixando nossos corpos mais próximos, e envolveu meus ombros em seus braços. Imediatamente, senti o calor do seu corpo afastando toda a sensação de torpor que a água gelada causou em mim.
— Sente-se melhor agora? – ele falou baixo, próximo ao meu ouvido. – Parece que eu sou o responsável oficial por afastar o frio de você. – ele brincou quando sentiu que meu corpo parava de tremer, referindo-se aquele dia do show na praça.
— Essa frase soaria realmente romântica, se você não fosse o responsável por essa sensação. – declarei, afastando-me dele assim que senti seus braços afrouxarem ao meu redor.
Finalmente, consegui me adaptar ao frio da piscina e devo confessar que experiência de nadar à noite foi bem legal. As palhaçadas de Bernardo e Matteo nos acompanharam durante todo o tempo, enquanto Conrado e Pietro pareciam conversar sobre algo mais sério do outro lado da piscina. O assunto em pauta não era difícil de ser adivinhar: eles claramente falavam da Valentina.
Já passava da meia noite quando eu e Valentina resolvemos dormir. Os garotos, por sua vez, preferiram ficar na sala assistindo a televisão.
— Buonanotte, Valen. – falei me ajeitando na cama.
— Buonanotte, Ann. – ela falou num tom de voz mais alto que o meu.
Longos minutos de silêncio se passaram, enquanto eu tentava encontrar o lado mais frio da cama e, finalmente, conseguir relaxar. Sempre fui aquele tipo de pessoa que tinha dificuldades em dormir na casa alheia – com exceção da do Liam e da Lexie – e a declaração da Valentina que veio a seguir só fez piorar a situação:
— O que foi aquilo na piscina? – ela perguntou com uma voz abafada, como se estivesse prendendo uma gargalhada.
— Valen, você ainda está acordada? – perguntei surpresa, tentando me certificar se ela não estava no meio de um sonho.
— Não mude de assunto, Antonella. – gargalhou e eu tive que sentar na cama para tentar entender o que ela estava querendo dizer. – Você e o Pietro.
— Não, você realmente já está sonhando. – voltei a me deitar, ignorando completamente aquele comentário. Já bastava a nonna Francesca. – Buonanotte, mas agora é de verdade. – afundei minha cabeça nos travesseiros.
Valentina estava surtando.
***
Vocês estão vivas ainda?
O capitulo foi curto, mas feito com muito amor!
Beijos,Nat.
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Antonella
عاطفيةAntonella Bodanese é uma jovem chefe de cozinha italiana que retorna à cidade em que nasceu, San Gimignano, no coração da Toscana, buscando paz e descanso - sensação que ela não vive desde que assumiu a cozinha de um dos restaurantes do seu pai em L...