Capítulo Sete

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           Eu nunca havia estado naquela parte da fazenda, pelo menos, não que eu me lembrasse. E esse era o maior motivo da minha surpresa naquele momento: por que ninguém havia me levado aquele lugar antes? pensei. O local era, simplesmente, indescritível de tão lindo. Eu silabei algumas vezes, até desistir de falar algo e decidir apenas contemplar a paisagem verde à minha frente. O local parecia ser desconhecido não só por mim, porque era nítida a mínima interferência humana no local, com exceção de dois bancos de madeira em frente a um lago escuro. Logo atrás dos bancos, destacavam-se duas enormes árvores, que faziam sombra ao local, bem como uma fileira de girassóis.

— Eu não conhecia esse lugar. – sussurrei por fim, ainda extasiada com a beleza diante dos meus olhos.

— Eu acho que pouca gente aqui conhece. – Pietro respondeu indo em direção a um dos bancos de madeira. – Talvez só o nonno Enrico. – deu de ombros, sentando-se.

— E como você descobriu? – perguntei surpresa.

— Foi quando eu terminei com a... – ele suspirou, tentando tomar fôlego – Paola. E quando o meu pai faleceu. – explicou-me e eu já estava arrependida de ter feito aquela pergunta. – O seu nonno percebeu o quanto eu fiquei triste naquele tempo e me falou desse lugar. Ele me disse que, sempre quando precisava ficar um pouco sozinho, vinha até aqui. E bom, funcionou comigo. – sorriu tímido. E eu nem sabia ao menos o que falar.

— Obrigada por dividir essa descoberta comigo. – pisquei e ele abriu um sorriso largo.

— Imaginei que você realmente não conhecesse esse lugar. E aqui ainda tem girasole. – disse com um sotaque fofo, apontando para as flores – Se eu não estiver enganado, você gostava delas quando criança. – fez uma careta estranha e eu assenti positivamente.

Foi estranho descobrir que Pietro ainda lembrava-se das nossas idas às plantações de girassóis – na minha cabeça, essa memória era apenas minha – e o quanto eu gostava daquela flor. Eu fiquei, de longe, lisonjeada por aquele feito, mesmo sem entender o motivo de ele ter me levado para lá. Seja qual fosse o motivo, não me importava naquele momento. Estar naquele lugar já era suficiente para dispensar qualquer explicação.

— O meu nonno gosta muito de você, Pietro. – acabei com o silêncio do local, embora eu tivesse certeza que o Pietro já sabia daquilo.

— Eu também gosto muito dele, Ann. – respondeu relaxando o corpo no banco.

— Na verdade, você parece ser bem querido por todos, assim como o seu pai. – me ajeitei para olhá-lo e ele me fitou com as sobrancelhas coladas, sem entender o meu discurso. – Deu para perceber o quanto a Valentina e os garotos gostam de você naquele dia quando fui à casa dos gêmeos. – ele apenas sorriu.

— E deu para perceber o quanto Matteo deu em cima de você naquele dia? – brincou levantando a sobrancelha sugestivamente. Rolei os olhos.

— Já te disse que ele não sairá vitorioso nessa tentativa de me conquistar. – falei séria e ele fitou os pés.

— Garota difícil. – comentou e eu o olhei de forma séria. Ele conteve o riso prestes a escapar.

— Garota que acabou de terminar um relacionamento de cinco anos e não quer se aventurar com um garoto do tipo do Matteo. – corrigi e ele deu risada.

— Eu te entendo. – foi o que ele me disse. E eu sabia que era verdade.

Eu e Pietro conversamos durante horas, sentados no banco de madeira, mas o que tornou o momento ainda mais significante foi saber que aquele Pietro de quando éramos crianças ainda existia – leve, risonho, brincalhão e sem esconder os seus sentimentos. Subitamente, me recordei do que a Carmem havia dito quando nos encontramos na gelatteria. Ela comentou algo acerca do Pietro não saber demonstrar muito bem as suas emoções, mas, por algum motivo que eu ainda não entendia, ele estava sendo diferente naquele momento. E escolheu compartilhar isso comigo.

AntonellaOnde histórias criam vida. Descubra agora