Pietro estava deitado no carpete ao lado do sofá. Esforcei-me ao máximo para não analisar os mínimos detalhes do seu rosto e atestar o quanto estava encantada por ele, mas isso era praticamente impossível. Sua respiração leve, combinando perfeitamente com um esboço de sorriso que os seus lábios entreabertos insistiam em formar, me fazia sorrir feito uma boba e eu sabia a gravidade daquilo.
Nonna Francesca não comentou nada acerca da cena que avistou pela manhã, mas ela insistiu em me lançar olhares e sorrisos carregados de segundas intenções. Certo que não havia acontecido nada demais, mas eu havia de concordar que Pietro e eu havíamos compartilhado uma situação que vai além de amizade.
Durante todo o dia, Pietro e eu não conversamos, mas as poucas trocas de olhares que aconteceram foram intensas o suficiente para que eu soubesse que ele relembrava a noite anterior a todo o momento, assim como eu. Diversas vezes, o peguei analisando os meus movimentos e sorrindo sozinho, como se os seus lábios teimassem em confirmar o que a sua mente trabalhava o tempo inteiro. Não posso negar que, em todas elas, não pude deixar de lhe retribuir um sorriso.
No fim da tarde, nonna Francesca me pediu que fosse apanhar alguns girassóis para enfeitar a nossa mesa do jantar. Enquanto caminhei pela fattoria, pude sentir o cheiro das oliveiras e confirmar que, embora eu sentisse saudades de Londres, a Itália me fazia um bem inexplicável. O campo de girassóis, em especial, era o local que eu mais me sentia bem na fattoria, como se o simples fato de estar lá me fizesse esquecer de todos os meus problemas. Aliás, eu estava conseguindo aquilo que planejei para a minha viagem: esquecer todo o stress que eu estava passando naquela fase da minha vida.
Enquanto estava procurando por girassóis caídos pela plantação e admirando o pôr do sol mais incrível que pude presenciar durante aqueles dias, senti a presença do Pietro se aproximando:
— Nonna me disse que você estaria aqui. – disse, colocando as mãos nos bolsos da calça.
— Ela pediu que eu encontrasse alguns girassóis. – sorri sem jeito, sentindo meu rosto enrubescer. Pietro conteve o riso próximo a mim.
— Precisa de ajuda? – perguntou, analisando a cesta que eu havia trazido para carregar as flores.
— Eu acho que já peguei uma quantidade suficiente. O que acha? – perguntei olhando em direção à cesta.
— Eu concordo. – disse sorrindo daquele jeito que me deixava ainda mais tímida.
Pietro se aproximou de mim e pegou um dos girassóis em suas mãos, ato que eu não entendi de imediato até quando ele afastou uma das mechas de cabelo que insistiam em cair nos meus olhos, prendando-a atrás da minha orelha, juntamente com um girassol.
— Ficou linda... – disse, acariciando o meu rosto. Desviei o olhar num claro sinal de desconforto e ele se afastou. Pigarreando, ele tratou de afastar o clima desconfortável prestes a surgir. – Você ainda vai comigo no casamento da Mia e do Enzo?
— Sim. Se você ainda quiser, claro. – ajeitei a flor que estava prestes a cair. Ele soltou um riso engraçado, pendendo a cabeça para o lado, em um sinal de desaprovação ao que eu havia dito.
— É claro que eu quero, Antonella. – disse num sotaque encantador. Estávamos indo em direção à fattoria.
— Gosto quando me chama de Antonella. – imitei seu sotaque e ele rolou os olhos, entrelaçando nossos dedos.
— Antonella. – tentou um sotaque britânico e não consegui conter minha gargalhada. – O que? Você disse que meu inglês era bom.
— Nem tanto assim... – sorri e ele fez o mesmo. O silêncio se instalou entre nós, como sempre acontecia. – Quanto tempo você pretendia ficar sem vir aqui? – perguntei e ele pareceu surpreso. – Tudo bem, não precisamos falar sobre isso.
— Sentiu saudades? – ele perguntou, passando as mãos pelos cabelos negros.
— Nonna Francesca me superou nesse aspecto. – sorri e ele passou as mãos nos meus cabelos.
***
O casamento da Mia e do Enzo seria em Cinque Terre, um território da Itália composto por cinco povoados (Monterosso, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore). De acordo com Valentina, – que não deixou de me ligar um dia sequer durante aquela semana – os pais da Mia eram donos de uma pousada em Riomaggiore, onde a celebração aconteceria e todos se hospedariam pós-festa.
—Sério, Valen, eu não posso aceitar. Eu nem conheço a Mia e o Enzo o suficiente! – disse receosa.
— Qual o problema? Você é convidada assim como eu, o Pietro, o Matteo, o Conrado...
— Vocês são amigos deles, eu só estou indo pelo Pietro. – dei de ombros, vasculhando algum vestido que eu pudesse usar na ocasião.
— O que você disse por último? – ela perguntou.
— Só estou indo pelo Pietro. Ele me pediu para que fosse com ele, caso contrário, ele não iria. – dei de ombros sem entender o espanto.
— As coisas estão mais sérias do que eu imaginava... – ela murmurou.
Não me dei o trabalho de responder o comentário da Valentina, pois eu tinha coisas mais importantes para resolver, como, por exemplo: achar alguma roupa que fizesse jus à ocasião. Valentina havia me explicado que não era um casamento tradicional, pois eles já eram legalmente casados, mas apenas uma forma de celebrar o acontecimento, num clima bem praiano, como pedia Riomaggiore. Sendo assim, tratei de arrastar a nonna pelo centro de Florença em busca de algo que me agradasse e não fosse tão simples.
— Eu gosto desse vestido. – nonna opinou assim que apareci com um vestido midi off-white. Ele era completamente trabalhado em renda e tinha as mangas longas.
— Também gostei desse. Vou levá-lo! – fui em direção ao espelho e logo tratei de me trocar.
— Pietro irá se apaixonar ainda mais.
— Nonna! Ele não está apaixonado por mim! – coloquei a cabeça para fora do vestiário.
— Por que uma pessoa que dormiria num carpete só para estar perto de outra pessoa? – ela gargalhou.
— Não foi uma opção, ele apenas caiu no sono. – dei de ombros, indo em direção ao caixa.
— Antonella, - nonna me puxou pelo braço e eu recuei – permita-se ser feliz de novo. – falou, beijando minha testa.
***
Só eu estou achando que o próximo capítulo promete? *spoiler*
Obrigada por todas as mensagens de carinho, todo o apoio e toda a compreensão! Vocês são lindos!
Beijos,
Nat.
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Antonella
RomanceAntonella Bodanese é uma jovem chefe de cozinha italiana que retorna à cidade em que nasceu, San Gimignano, no coração da Toscana, buscando paz e descanso - sensação que ela não vive desde que assumiu a cozinha de um dos restaurantes do seu pai em L...