Capítulo Seis

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O cheiro inebriante do café já inundava o meu quarto naquela manhã e eu tive que me certificar em que dia da semana eu me encontrava. O celular não falhou em me informar que se tratava de uma manhã de segunda-feira. E, daquela vez, eu estava bem longe de Londres.

            Os dias de segunda-feira sempre eram os mais atarefados da semana, tanto para mim, quanto para o Liam. Quando comecei a trabalhar em um dos restaurantes do papai e ele estava no último período do seu curso de Engenharia, ficou cada vez mais difícil para nos encontrarmos durante a semana. Então, decidimos que iríamos tomar café da manhã juntos, todas as segundas-feiras e assim o fizemos. Algumas vezes, o Liam aparecia de surpresa na hora do almoço no Cesare's e eu sempre agradecia mentalmente por ter um namorado tão atencioso.

            Lembrar do Liam daquela forma só me fazia lamentar o fato de estarmos separados há quase um ano, pois ele havia sido atencioso comigo em todos os momentos. Liam nunca hesitava em me falar o quanto eu era talentosa e que eu não podia desistir do meu sonho por "comentários estúpidos" – era como ele se referia aos comentários que me comparavam ao papai – e foi bem compreensivo quando eu comecei a ter cada vez menos tempo para a nossa relação.

            No fundo, eu sabia que a culpa não era totalmente minha, embora eu estivesse tão concentrada na minha carreira ao ponto de deixar o nosso namoro um pouco de lado. O fato é que Liam e eu nos conhecemos ainda muito novos e a relação que tínhamos era tão forte que eu passei a me perguntar se nós ainda nos amávamos como namorados ou se aquilo já havia se transformado numa grande amizade. E eu sabia que o Liam sentia o mesmo, só não havia descoberto isso ainda. Resultado: restou a mim o ofício de esclarecer todos os nossos sentimentos.

Buongiorno! – a voz da nonna Francesca interrompeu os meus pensamentos.

Buongiorno, nonna! Está regando as flores? – perguntei me aproximando do jardim.

, preciso cuidar das minhas preciosidades! – disse encarando as mudas de jasmins.

— E o nonno Enrico? – indaguei.

— Está trabalhando no escritório. Você já sabe como é o seu nonno, não sabe? Sempre trabalhando, mesmo afastado do trabalho. – rolou os olhos como se aquela frase não fizesse sentido algum e eu ri imediatamente. – Mas ele me disse que iria juntar-se a você para o café da manhã.

— Então, irei chamá-lo. Estou morrendo de fome! – disse virando os meus calcanhares em direção à área interior da casa.

            Eu já estava na fattoria há alguns dias, mas não havia sido tempo suficiente para que eu recordasse de cada canto daquele lugar que eu tanto amava. E foi isso que aconteceu logo que abri a porta do escritório e avistei o nonno Enrico recostado na grande cadeira acolchoada. 

            O lugar estava intacto! Os mesmos móveis de madeiras escuras, os livros arrumados da mesma forma na estante e os mesmos porta-retratos espalhados por todo o cômodo. Em um deles, havia uma foto minha com o meu primo Abelardo e, imediatamente, um sentimento de saudade me inundou, mas não pude deixar de sorrir largo ao ver que faltavam alguns dentes nos nossos sorrisos.

— Recordando os velhos tempos? – nonno Enrico estava próximo a mim e observava o meu olhar fixo na foto.

— Não vejo o Abelardo há um tempo e agora me bateu aquela saudade, sabe? – disse me esforçando para deixar a minha voz a mais equilibrada possível.

— Sì, claro que sei, querida! – agora o nonno afagava minha cabeça – O seu tio me disse que talvez viessem nesses próximos meses. – respondeu me abrindo um sorriso. Eu fiz o mesmo.

AntonellaOnde histórias criam vida. Descubra agora