Capítulo Dezoito

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            Durante o tempo em que ficamos em Cinque Terre, aproveitamos para curtir o litoral italiano e experimentar os sabores dos bistrôs instalados em vielas aconchegantes.

            Decidimos voltar a San Gigminano no final da tarde e nem preciso dizer que a caminhada me rendeu uma baita insolação e um aspecto semelhante ao de camarão seco. O calor corporal, somado ao cansaço da noite anterior, só tornou o caminho até a fattoria ainda mais longo e foi praticamente impossível não me render ao sono.

— Ann, deita aqui. – disse Pietro, me aninhando em seu abraço.

            Seu cheiro era amadeirado e totalmente inebriante, o que só contribuía para que eu pegasse no sono. Acontece que, por mais que estar ao lado do Pietro me proporcionasse às melhores sensações, eu não podia negar que isso me assustava, porque sentir tudo aquilo significava que toda a minha barreira havia desmoronado e que não adiantava mais voltar atrás.

            Permanecemos abraçados durante toda a viagem. Confesso que, nos vinte minutos finais, enquanto o Pietro ainda pensava que eu estava dormindo, a única coisa que eu fazia era me perguntar: "nossa, como pode ser tão bom estar ao lado de alguém?".

            Durante a semana que passou, Pietro esteve na fattoria algumas vezes, mas todas foram rápidas o necessário ao ponto de não precisarmos tocar no assunto. Não que eu achasse que isso fosse necessário, muito pelo contrário, eu agradecia mentalmente por não ter de fazê-lo, mas eu sabia que aquele nosso silêncio significava que nenhum de nós sabíamos muito o que dizer ao outro.

            As engrenagens do meu cérebro, entretanto, insistiam em me fazer encontrar respostas para o ocorrido, como se fosse necessário um motivo para estar apaixonado por alguém. Não que eu estivesse pelo Pietro...

            O fato é que, quando se tem uma avó como a nonna Francesca, é praticamente impossível esconder certas coisas. Eu já havia percebido a forma como ela estava me olhando durante toda a semana, mas fiz questão de ignorar, afinal, eu era boa nisso. Dado um momento, tornou-se insustentável:

— Estou enganada ou você anda pensando muito, Antonella? – perguntou ao sentar-se ao meu lado na varanda.

            Suspirei. Eu saberia que, mesmo que eu negasse, nonna Francesca saberia que eu não estava sendo verdadeira e, se havia uma coisa que a minha avó não gostava, essa coisa era mentira.

— Não, nonna, a senhora não está enganada. – sorri amarelo.

— É algo em que posso ajudar? – bebericou uma xícara do seu chá e virou-se para mim.

— Na verdade, não. – fitei o chão.

— Saudades do Liam? – arriscou.

— Isso já não me faz pensar tanto. – gargalhei saudosa. – É só que... Eu e o Pietro nos beijamos, nonna. – exalei o ar.

            Assim que as palavras saíram da minha boca, o rosto da nonna Francesca se tomou de um sorriso largo. Tentei não acompanhá-la, mas o meu rosto já adquiria a mesma expressão.

— Ora, Antonella, mas isso é maravilhoso! – levantou da cadeira, aproximando-se de mim.

— Não, nonna, não é. – suspirei e ela parecia confusa.

— Por que não? – cruzou os braços.

            "Por que não?". Essa era uma ótima pergunta. Por que não? Pietro era ótimo, educado, lindo e parecia sentir algo por mim. Então, por que não?

AntonellaOnde histórias criam vida. Descubra agora