Capítulo 5

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A conversa seguia mais descontraída e todos nos sentíamos à vontade para expormos os nossos pontos de vista, sem nenhum constrangimento. Manoel Roberto se recuperara do ligeiro abatimento e, a meu convite, passamos a uma sala contígua onde poderíamos dar seqüência aquela reunião informal...

- Como é, Paulino? — indagou Odilon. — Confirmou-se a tática que os nossos adversários, ultimamente, têm procurado empregar contra nós, em nossos contatos com os irmãos encarnados?

- Sim — respondeu o simpático jovem —, infelizmente, não se trata de uma informação equivocada; pudemos checar a veracidade do fato e é mais um problema que, doravante, teremos que enfrentar...

Curioso, solicitei a Odilon maiores esclarecimentos, pois, afinal de contas, eu vivia quase isolado entre os meus pacientes, alheio ao que se passava lá fora.

— Inácio — esclareceu o confrade, ante a minha perplexidade —, inteligências interessadas em manter o homem preso ao imediatismo, no comando de vastas falanges espirituais, estão impedindo que os desencarnados se aproximem e se manifestem através dos médiuns; as comunicações nas casas espíritas têm escasseado e as que aconteciam espontaneamente fora dela, prevalecendo-se da condição inconsciente de muitos medianeiros, diminuíram sensívelmente...

— Como assim? — questionei, ávido de maiores detalhes.

— Você sabe, qualquer comunicação de além-túmulo, sem que entremos aqui no mérito de sua maior ou menor autenticidade, induz o homem a cogitar de sua própria sobrevivência e, conseqüentemente, imprimir um novo rumo aos seus passos... O intercâmbio mediúnico tem sido um manancial que sustenta a fonte da crença — mesmo entre os que se dizem cépticos, a presença dos desencarnados que, diga-se de passagem, não procuram apenas os médiuns espíritas em sua necessidade de contactar os homens, faz com que a dúvida se lhes insinue no espírito, predispondo-os a refletir na hipótese na imortalidade...

— E os inimigos da Doutrina estão agindo?... —inquiri, estupefato.

— Vejamos a que extremos chegaram — aduziu o Orientador. — Estão se organizando com o propósito de impedir os médiuns de trabalhar e as eventuais comunicações que permitem são aquelas passíveis de provocar escândalos, pelo comprometimento moral do medianeiro... As inteligências desencarnadas às quais nos referimos, estão espalhando o terror nas vias de acesso à Crosta, ameaçando com severas punições as entidades que têm o hábito de se manifestarem mediunicamente — a maioria porque, infelizmente, ainda não conseguiu se emancipar completamente dos laços que a escraviza à Terra, deixaram o corpo, mas continuam gravitando mentalmente em torno de seus antigos interesses... Achar o caminho para a Altura não é fácil, mormente para aqueles que nunca se preocuparam com a própria elevação.

— Mas, Odilon, o que você está me dizendo é um absurdo... Inacreditável!...

— A coisa, Inácio, é mais complexa do que parece à primeira vista. Em nossas reuniões mediúnicas, existem entidades que se colam psiquicamente aos médiuns e passam o tempo todo sem pronunciar uma palavra: deixam a mente do médium entorpecida e não consumam o transe...

Nos próprios hospitais psiquiátricos, onde as manifestações sempre foram intensas, está imperando a lei do silêncio. A intenção é a de fazer crer que não existe vida depois da morte; o resto é conseqüência... Não podendo calar os médiuns, como outrora acontecia nas fogueiras inquisitoriais, estão calando ou tentando calar os espíritos. Por este motivo, temos observado que, no meio espírita, os contatos mediúnicos com entidades supostamente mais esclarecidas têm se multiplicado. Vejamos o número de livros assinados por novos autores espirituais...

— Meu Deus, como o assunto é complexo! — exclamei, atinando para a gravidade do problema.

- Espíritos que mentalmente não se submetem, porque possuidores de certa independência, furam obloqueio e, encontrando receptividade nos médiuns à disposição têm produzido obras literárias ou não que pouco acrescentam ao corpo doutrinário e, além do mais, com uma séria agravante: a intensa produção de livros de qualidade questionável sufoca, no mercado, aqueles que guardam estreito vínculo com a Codificação. Com o devido respeito que nos merecem, a maioria dos medianeiros em atividade ainda deveria estar naquela fase de adestramento de suas faculdades. Antes de empunharem a caneta para escrever, careceriam de se exercitar na psicofonia, no serviço de enfermagem espiritual junto às entidades sofredoras do nosso Plano.

- Infelizmente, no entanto, a vaidade e o personalismo, que os espíritos maquiavélicos sabem manipular, têm lhes trazido sérios prejuízos.

— Odilon — sabatinei o amigo —, que providências têm sido tomadas por nós?... Ao que estou informado pela História, a porta de comunicação com os chamados mortos já foi cerrada mais de uma vez: Moisés, com a sua proibição no Deuteronômio; quando o imperador Constantino proclamou o Cristianismo como religião oficial do Estado, ensej ando sua transformação em Catolicismo; na Idade Média, quando os sensitivos eram considerados hereges despoticamente condenados...

- Como, nos tempos modernos, não existe mais campo para cercear a liberdade de pensar e de crer, embora, neste sentido, ainda não tenham se extinguido todos os focos de resistência, as inteligências perversas que não desistem da hegemonia planetária continuam lutando e, ao que me parece, não se encontram dispostas a recuar... Temos feito o possível, Inácio, para sensibilizar e alertar os médiuns com os quais podemos contar, para que as chamas do idealismo não se transformem em cinzas de frustração. A fogueira simbólica que se acendeu entre os homens, pelas luzes da Terceira Revelação, não pode se apagar, sob pena de mergulharmos todos em trevas sem precedentes na História da Humanidade. Para fazermos mais, porém, necessitaríamos contar com maior determinismo e boa vontade da parte dos medianeiros que, lamentavelmente, vêm se desvirtuando dos propósitos superiores; estimando mais o aplauso do que o trabalho, caem numa espécie de obsessão serena que, de modo imperceptível para eles, compromete a qualidade de sua produção e desfigura os exemplos que são chamados a transmitir.

— Hostes inteiras, Dr. Inácio — comentou Paulino comigo —, têm se movimentado com ordens expressas de impedir que os desencarnados que vivem nas imediações da Terra se comuniquem; o cerco tem aumentado e pairam severas ameaças de punições sobre aqueles que se rebelarem...

— Isto parece coisa de ficção — acrescentei; pasmo. — Eu já tinha ouvido falar de alguns espíritas que apregoam um Espiritismo sem espíritos...

— Por esta razão, não podemos esmorecer e, tanto quanto possível, precisamos insistir com os médiuns para que tomem maior consciência de suas responsabilidades...

— E com os dirigentes também, com os responsáveis pelos centros espíritas...

— Certo, Inácio, você está com a razão, mas este é um outro obstáculo que carece de ser removido, pois, quase sempre, os dirigentes espíritas não pensam no seu comprometimento com a Causa; não podemos generalizar, mas a falta de empenho e de ideal de certos dirigentes, que centralizam decisões, tornam a casa espírita improdutiva — vazia de tarefas e, conseqüentemente, vazia de espíritos operosos no bem. Existem muitos espíritas que, com o dinheiro dos outros, estão construindo centros apenas para si, com a finalidade de terem um palco exclusivo para as suas excentricidades!...

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