Capítulo 36

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A nave espacial que nos conduziria à DVI era de forma esférica, à semelhança de um OVNI, e constituída de material extremamente leve; dentro dela, havia espaço apenas para quatro pessoas. Já o painel, com tantas teclas e botões coloridos, seria impossível de descrever, principalmente para mim que apenas presenciei o advento do computador — nunca entrei na cabine de um avião e, portanto, não tenho elementos de comparação para melhor descrevê-lo...

O Dr. Dawson, que nos acompanhara, despediu-se de mim e de Odilon, caçoando, antes que tomássemos lugar na "Capitão Nebo":

— Em caso de acidente, saibam que a morte não existe...

Nielsen e Yuri tomaram lugar à frente, enquanto eu e Odilon nos acomodávamos em poltronas anatômicas, que se nos ajustaram completamente. (Faço uma idéia de como haverão de estar espantados e incrédulos os leitores que tiverem ousado chegar até o presente trecho destas minhas despretensiosas anotações... Eu também ficaria! Advirto-lhes, porém, que estou tentando não causar-lhes tanta estranheza, sintetizando e omitindo detalhes que, talvez, os induzissem a maior espanto e incredulidade.)

Sinceramente, eu não saberia lhes dizer qual a natureza do material em que a "Capitão Nebo" se estrutura; Nielsen disse-me o nome, mas a palavra me soou aos ouvidos como um amontoado de consoantes sem significado.

Os vidros laterais se fecharam e, acionando pequena tecla amarela, a nave entrou em funcionamento silencioso e, rápido, começou a se elevar da plataforma, imitando o movimento de um helicóptero sem hélices.

— Viajaremos à velocidade da luz e, portanto, não nos será possível apreciar a paisagem; em alguns pontos, diminuiremos sensívelmente a aceleração e, então, vocês poderão perceber alguma coisa do Cosmos...

— A velocidade da luz, para alcançar algo que está tão próximo? — perguntei ao microfone acoplado à roupa especial.

— Tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante, Doutor — respondeu-me Nielsen. — Nada mais próximo, porém, nada tão distante quanto o Criador da criatura; nenhum continente é imaginariamente tão longínquo que do homem quanto o seu próprio mundo interior. A questão, Doutor, não é exatamente de distância...

— Que direção estamos tomando? — indaguei, tentando desviar a mente de preocupação.

Estamos subindo ou descendo, para a direita ou para a esquerda?

- Esta segunda pergunta é mais dificil do que a primeira; temos, evidentemente, uma rota, mas o seu sentido depende do ponto de referencia que estabelecemos... Digamos que estamos subindo e avançando...

Não sei precisar quanto tempo se passou — alguns poucos segundos, talvez — e Nielsen nos explicou:

— Estamos atravessando um espaço sem gravidade, ou, pelo menos, sem gravidade convencional: é uma espécie de fronteira magnética entre uma Dimensão e outra; não se preocupem: a nave se converte em um planador e segue sem alterar a rota; aproveitem para apreciar a paisagem...

— O que estamos vendo? — perguntei. — Algum planeta nosso conhecido na Terra ou alguma estrela que os astrônomos encarnados já tenham identificado?

- Nem uma coisa nem outra; são esferas espirituais, inacessáveis ao olho humano: é a parte positiva do Universo...

—A parte positiva do Universo?...

- Sim, Doutor, a negativa é a que se constitui de matéria densificada; a morte, figuradamente, é a Vida em seu aspecto positivo... Tudo se apóia e existe em função de um contraponto — Criador e criatura, Vida e morte, Bem e mal...

- Entramos em algum "buraco negro"?

- Sim, o que os homens tem chamado de Antiuniverso, ou Universo Paralelo...

- Que beleza extraordinária! — exclamei. Tenho a impressão de que estamos navegando no mar; a nossa nave espacial parece singrar determinadas ondas cósmicas!

Nielsen sorriu e concordou. Bolhas flutuando, de cores inimagináveis e formatos variados, pairavam no Espaço — de todos os tamanhos e consistências...

— Algumas dessas "bolhas", Doutor, são habitadas.. Habitadas? Por quem?

- Por seres inteligentes...

- Humanos?

Ante a ingenuidade da minha pergunta, nem Odilon conseguiu deixar de sorrir, complacente.

— Doutor — falou-me o Comandante —, a forma humana é uma das mais primitivas expressões de vida inteligente...

- Eu sempre me achei feio, mas nem tanto — procurei descontrair.

Estrelas minúsculas pareciam brincar no firmamento sem gravidade e alguns "corpúsculos" pareciam se aproximar da nave, auscultando-nos a intenção.

— O que são? — argüi, observando aqueles "pontos" que se destacavam dos demais, movimentando-se com racionalidade.

- São os seres que habitam as bolhas flutuantes...

— Espíritos?

— Sim...

— Sublimados?...

— Não... A sua evolução se vincula ao sistema de Vida da Próxima Dimensão; nunca estiveram na Terra e, provavelmente, nunca estarão...

— Fica difícil compreender — afirmei, com idéias que se me confundiam na cabeça.

- Não tente, Doutor, não tente — aconselhou-me Nielsen.

- Esses seres reencarnam? — insisti.

- Digamos que tomarão corpo na Dimensão Vizinha — corpo e forma...

— São bons ou são maus?

- Melhores, Doutor, bem melhores do que os espíritos sem forma que nos rodeiam, ou seja, que rodeiam os homens encarnados...

— Está se referindo aos chamados corpos ovóides? Não somente a eles, mas também aos

elementais, aos espíritos disformes, amorfos, aos que se encontram em estado de transição...

— Eu nunca soube deles, os em estado de transição...

— Mas eles existem... Se somente o que somos capazes de conceber existisse, a Vida seria infinitamente pobre!

De repente, a "Capitão Nebo" sofreu mais acentuada aceleração e Yuri explicou:

- Estamos deixando o "cinturão sem gravidade"... Pousaremos na DVI em poucos instantes — avisou-nos Nielsen. Deixaremos a nave e não nos demoraremos mais do que o suficiente para alguns registros de estudo; os nossos irmãos estão avisados da nossa visita, mas aqui nos sentiremos como o peixe que, fora do habitat natural, não consegue respirar por muito tempo; o nosso corpo espiritual não se adapta: o ar que aqui se respira, não serve para os nossos pulmões...

Não adianta ao homem querer ser anjo, antes de sê-lo...

A "Capitão Nebo" iniciou a sua aterrissagem em DVI e, quando tudo se aquietou, as duas portas laterais abriram-se sem qualquer ruído. Nielsen e Yuri desceram primeiro e, ambos, com a destra erguida saudaram:

— O povo espiritual da Terra vem em missão de paz!...

A luz se intensificou lá fora e o Comandante consentiu que eu e Odilon descêssemos sobre a improvisada plataforma de pouso.

Infelizmente, eu não tenho como descrever o que vi e o que senti. Cinco "seres de luz" se aproximaram de nós e um deles, se destacando, começou a tomar forma humana, semelhante à nossa.

— Eles podem se transfigurar com facilidade — disse-nos Nielsen —; está copiando a nossa forma com o propósito de deixar-nos mais à vontade...

- Sejam bem-vindos, em nome do Divino Senhor da Luz — cumprimentou-nos.

- A Quem ele está se referindo? — perguntei a Yuri, que permanecera ao meu lado.

- A Jesus Cristo!...

- Quem são os dois novos amigos? — indagou se referindo a mim e a Odilon. É a primeira vez que estão vindo com vocês? Não me recordo deles...

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