Capítulo 6

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IRINA WILLIAMS – Nova Iorque, EUA.

- vamos, vamos! – Alice me empurra pela rua.

Estamos na Quinta Avenida e Alice parece uma criança feliz que acabou de ganhar sorvete. Ela simplesmente ama Manhattan. Deixe-me explicar melhor... Há cinco "boroughs" em Nova Iorque. São umas espécies de distritos, divisões. Eles são: Manhattan, Bronx, Brooklyn, Staten Island e Queens. Alice mora no Brooklyn. Eu moro em Manhattan. Claro que o Brooklyn é um ótimo lugar para se viver (NY inteira é), mas Manhattan é, digamos, o lugar da elite. Já que os lugares e atrações mais importantes, como Wall Street, Times Square, Central Park, entre outros, estão aqui. Eu moro no Upper East Side, um bairro nobre em Manhattan e que fica bem perto do Central Park e Quinta Avenida.

Tudo bem. Eu sempre tive boas... Ótimas condições financeiras. E Christopher também. Seu pai era um magnata. E agora, aqui estou eu. Por mais que eu seja rica, isso não faz diferença na minha vida. Eu gosto de simplicidade. Mas eu fico muito feliz ao ver os olhinhos de Alice brilhando ao olhar para as lojas mais caras do mundo, enquanto andamos. Percebo que ela mantém os olhos presos na loja da Prada enquanto passamos. Paro.

- quer entrar? – pergunto para ela.

Ela fica sem fala.

- não! – ela quase grita – nós temos que ir comer e depois ir ao salão... A festa é hoje à noite!

- vem. Não vamos demorar! – puxo-a e entramos na loja.

- Olá, Sra. Williams – uma atendente vem até nós.

Eu sempre compro minhas bolsas aqui.

- olá, Elizabeth – cumprimento-a – vim dar uma olhada nas bolsas.

- claro, por aqui – ela nos mostra o caminho.

Alice admira as bolsas, encantada. Ela toca em uma bolsa vermelha que é simplesmente maravilhosa.

- você gostou? – pergunto.

- é incrível! – ela sorri.

- Elizabeth, eu vou levar essa – aviso.

A mulher pega a bolsa e eu a acompanho para pagar. Custam cinco mil dólares, mas para mim isso não é nada... E é por uma causa justa.

Saio da loja acompanhada de uma Alice triste. Rio da cara dela e paro de andar.

- Toma, para você – entrego a sacola a ela.

Seu rosto se ilumina, mas logo murcha.

- não posso aceitar. É muito cara!

- óbvio que pode e vai! Meu presente para você – digo – você merece.

Ela me abraça.

- muito obrigada!

- não seja por isso.

Voltamos a andar alegremente pela rua. Hoje o dia está sensacional! Nem trouxe celular ou outra coisa tecnológica. Deveria? Hoje é meu dia de folga, eu me dei essa folga. E além do mais, Christopher nunca fala comigo e meus pais estão sempre ocupados no meio da semana. O que de mais poderia acontecer?

Chego ao salão e peço o serviço completo! Arrumo as unhas, cuido da pele, sofro com a cera, hidrato e faço uma escova em meu cabelo (está enorme) e termino com uma maquiagem leve. Alice passa pelo mesmo processo. Desespero-me quando olho a hora. O sol já está se pondo! Alice pega um táxi e eu volto para casa a pés. Sim, se eu pegasse um táxi eu chegaria a casa no outro dia. Entro em casa e corro para o quarto, tomando um banho rápido. Quando termino, vou para o closet. Meu celular está na penteadeira. O pego e me assusto quando olho o visor.

Cinquenta ligações! De Christopher!

Cinquenta? Caralho.

Há outras ligações de números desconhecidos. Não tenho tempo. Corro para pôr o vestido, ao mesmo tempo ligando para Christopher. Calço um salto preto e volto para o celular. A ligação não completa. Maldição! Passo um perfume e corro para a garagem. Eu vou chegar super atrasada a essa maldita festa!

Ela acontecerá em Wall Street, ou seja, vou ter que atravessar Manhattan inteira para chegar lá. Mas tudo bem. Eu não fiz isso tudo para nada! Sinto meu estômago embrulhar... Cinquenta.

Christopher não costuma fazer nem 1 ligação. E de repente aparecem-me 50!

Escolho ir com meu Bugatti Veyron preto. É o super carro que eu mais gosto. Entro no mesmo e saio de casa com cuidado, acelerando em seguida. Conecto meu celular no carro e continuo tentando ligar para Christopher. Eu preciso saber o motivo dessas ligações. Cinquenta ligações. A única coisa que vem à minha mente é a palavra morte.

Após passar por dois quarteirões, noto que o mesmo carro preto que estava perto da minha casa ainda está atrás de mim. Tudo bem. Isso está me assustando. Muito. As ruas estão cheias, o trânsito está um caos como sempre e eu já estou no início da Times Square. Sinto vontade de desistir da festa e ficar por aqui mesmo.

- IRINA? – ouço a voz de Christopher e olho para o celular.

Os momentos seguintes são como um filme para mim.

Só tenho tempo de olhar rapidamente para o celular, quando ponho meus olhos na estrada, freio bruscamente. O carro da frente parou e mesmo freando, acabo batendo nele. Logo um barulho ensurdecedor preenche os meus ouvidos.

Vidros. Muitos vidros quebrando. Gritos desesperados e enormes estilhaços atingindo o carro. Sou impulsionada para frente quando o carro de trás bate no meu. Logo o airbag abre e eu entro em desespero, no meio do barulho e da falta de ar. Luto para abrir a porta do carro, até que consigo. No momento em que saio, sou derrubada no chão pelo fluxo de pessoas correndo contra minha direção. Meu Deus, o que aconteceu? Olho ao redor e sinto minhas pernas tremerem. Essa não é a Times Square. Não pode ser! Todos os vidros dos prédios foram destruídos, os letreiros luminosos apagaram, a energia se foi, as centenas de pessoas correm como baratas tontas, carros batem uns nos outros.

Fomos atacados...?

Meus olhos ficam embaçados pelas lágrimas. Meu Deus. Há pessoas mortas espalhadas pelo chão, foram atingidas pelos estilhaços de vidros.

Ainda estou caída no chão, quando sinto uma forte mão puxar-me pelo braço e me levantar.

- Sra. Williams, sou Paul Skyler. Tenho que te tirar daqui – o homem diz.

Ele está fardado e logo vejo que é do Exército. Ele me conduz até o carro preto que eu vi seguir-me e quando entro no mesmo, uma onda de alívio corre pelo meu corpo. Alice!

- Irina – ela me abraça forte – eu estou com medo.

- eu também estou – choro junto com ela.

Paul dá a partida no carro e dirige com habilidade entre as pessoas e carros parados. Estamos fazendo o caminho de volta para minha casa e vejo que não há energia em lugar algum. Ele para em frente a um prédio de poucos andares e logo nos ajuda a sair do carro. As ruas estão cheias de pessoas desnorteadas e assustadas, mas conseguimos entrar no prédio. Paul sobe as escadas e o acompanhamos. Já estou cansada e ofegante quando chegamos ao décimo andar. Finalmente chegamos ao topo do prédio e vejo que há um heliponto. Então por isso subimos?!

Paul fala algumas coisas em seu walkie-talkie e eu apenas permaneço abraçada à Alice. Após um tempo, o helicóptero finalmente aparece e pousa. Eu estou no automático e nem escuto o que Paul fala, apenas entro no helicóptero. Quando já estamos todos dentro, ganhamos altitude. O destino? Não sei. Só consigo olhar para baixo. Manhattan inteira está sem energia. Há pontos de fumaça na Times Square e até mesmo em Wall Street. Manhattan está escura, mas meu coração está mais.

Christopher. Era pra isso que ele estava me ligando? Ele mandou este homem me buscar? Por Deus, que ele esteja bem.

Olho para Alice, ela não está com a roupa da festa. Sua maquiagem escorre pelo rosto e suas mãos tremem. Ela sai de meus braços e senta-se corretamente, criando coragem para perguntar:

- o que aconteceu?

Paul olha para nós duas e dá um sorriso amargo antes de responder:

- algo bem pior que o 11 de Setembro.

𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐆𝐔𝐄𝐑𝐑𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora