Novo Ano

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C I N C O A N O S D E P O I S




IRINA WILLIAMS – Vík í Mýrdal, Sul da Islândia

Vento. Percorrendo meu rosto, meus braços, meus pés. Algumas mechas do meu cabelo repousam em meu rosto, mas não as tiro. Meus olhos estão fechados. Eu sentindo o vento percorrendo sua jornada. Meu foco se torna meus sentidos... Meus olhos enxergam uma cor marrom clara, por causa do sol que bate em minhas pálpebras... O ar que eu respiro é puro, isso é um milagre... Tudo que ouço é o barulho do mar e risadas gostosas de crianças... em minha boca há um gosto doce de uva. Arrasto minhas mãos pela areia que me circula, sinto as partículas se esvaindo.

"mama" uma fina voz macia me chama.

Abro os olhos e observo o lindo rostinho de William Alexander de cabeça pra baixo, com seu sorrisinho banguela olhando pra mim. Viro meu corpo de barriga para baixo e o ajudo a sentar. Christopher está em pé atrás dele, segurando Kendra nos braços. Finalmente meus olhos contemplam onde estou... Na praia. Onde a areia é negra como petróleo e as ondas brancas como as nuvens. Enormes montanhas com verde e neve podem ser vistas ao longe. Christopher coloca Kendra ao lado de William e também se senta. Ele abre o cesto que trouxemos e tira um sanduíche de dentro, sorrindo pra mim enquanto o morde.

"Dá pra acreditar que Kendra já tem quatro dentinhos?" digo enquanto observo sua boquinha sorridente.

"Daqui a pouco ela vai ter todos os dentes, e depois namoradinhos e depois eu quebrarei os dentes dos namoradinhos" Chris fala enquanto olha para o mar.

Gargalho.

"E o William?" pergunto.

"Ah, essa é fácil" ele reflete "em breve ele também terá dentinhos e depois namoradinhas e depois eu quebrarei os dentinhos dele se tratá-las da forma errada".

"Ha! Muito bem amor" estendo a mão e ele bate nela em seguida.

"Eles já deveriam ter chegado. Ou sou eu que estou ansioso demais?" Chris pergunta.

Pego o celular e olho a hora. Oito da manhã. O voo está previsto pra chegar às dez.

"Você está muito ansioso" afirmo "não se preocupe. Todos vão chegar muito bem".

"É só... Eu nunca mais quero andar de avião de novo. Nunca mais quero sair daqui" ele abaixa a cabeça.

"Eu sei. E não vamos" levanto e sento ao seu lado "finalmente estamos aqui. No lugar que sempre quisemos morar... Com nossas crianças. Nada mais vai acontecer".

"Além do mais... Pra onde iríamos?" Chris resmunga "O que era Europa, Estados Unidos, Oriente Médio... Quase tudo... É um deserto sem fim".

"Eu ainda não consigo acreditar... Que estamos aqui. Que sobrevivemos" pego a mão de Christopher e enlaço com a minha.

Encosto minha cabeça em seu ombro, olhando em direção ao mar.... Mas minha mente não está ali... está bem longe. No passado.

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"Irina!" Chris grita e eu desvio o carro de uma vez. Estou há cem por hora, mas não há tempo pra pilotar mais devagar que isso. A bomba já deveria ter caído...

"Ali!" ele aponta pela janela e eu avisto o aeroporto, dirijo até a entrada, e passo pelos portões escancarados "dobre à esquerda, amor" sigo pela lateral e dobro à esquerda. Avisto três aviões comerciais e alguns galpões. Está tudo abandonado. Paro o carro e Christopher sai correndo em direção à um dos aviões. A porta do mesmo está escancarada, indicando que todos saíram às pressas daqui. Entro e vou até a cabine.

𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐆𝐔𝐄𝐑𝐑𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora