Capítulo 14

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IRINA WILLIAMS – Norte da França.

Sou acordada com o barulho de uma buzina e só então percebo que estou na pista contrária. Viro o volante de uma vez e volto para o lado correto, ainda com o coração disparado. Caramba. Essa foi por pouco. Estou exausta... Perdi a noção de quantas horas estou dirigindo. Na verdade, nem sei para onde estou indo. Só tenho esperança... De ir, ir... Até chegar ao litoral e então ser salva por soldados numa espécie de segundo Dia D. Mas talvez eu nem esteja indo pro Norte... Não sei se peguei o caminho correto... Tanto faz. Estou esgotada. Fisicamente. Psicologicamente. Meus pais devem estar desesperados... Será que todos estão bem? Christopher está bem? Minha empresa que eu literalmente abandonei... Eu estou zangada. Com as pessoas. Comigo mesma. Como chegamos a esse ponto? Eu deveria saber... Pessoas que são capazes de maltratar animais são capazes de tudo. Diferentes ambições, os mesmos objetivos, o mesmo fim... Minha divagação é interrompida pelo carro. Oh não, não, não, não... O carro para de uma vez. É... Foi bom enquanto durou. Saio do carro e abro o porta malas. Coloco o máximo de mantimentos dentro de uma mochila, crio alças pra duas metralhadoras e coloco-as envolta do meu pescoço. Isso é tudo que sou capaz de levar. Fecho o porta malas, mas deixo o carro aberto. Vai que alguém precise de algo... Vai estar disponível. Saio da estrada e sigo em frente. Essa região é montanhosa e a vegetação é rasteira, então a grama vem no máximo até meu joelho. Quase não tem árvores, mas está de noite, então não é de certeza. Só quero encontrar uma pra me deitar embaixo porque estou realmente cansada. Só vou seguir em frente de manhã. Após uns minutos de caminhada finalmente encontro uma árvore boa o suficiente. Sento-me e encosto no tronco da mesma. Fecho os olhos e respiro fundo. Ouço uma coruja ao longe e o cheiro da natureza me conforta. Só então, no meio do nada, no escuro, sozinha e perdida, me permito chorar novamente. Sabe quando você literalmente sente um bolo na garganta? Quando há tantas coisas guardadas na sua mente, que você não aguenta mais. Você só quer paz, um fim. Paz... Que ironia. A paz é uma utopia. Ou talvez um momento finito. Nada mais que isso. O sorriso de Christopher surge em minha mente... Nós dois naquele barco, olhando para a estátua da liberdade, o que ele disse para mim... Algumas utopias viram realidade. Tenho que permanecer positiva. A lei da atração é real. Demora um tempo até a escuridão da noite se misturar com a escuridão dos meus sonhos...



CHRISTOPHER WILLIAMS – Local desconhecido.

CHRISTOPHER WILLIAMS – Local desconhecido

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Estou há horas voando. Espero que esteja na rota correta. O combustível já está nas últimas... Vou precisar pousar. Com certeza estou na Europa. É noite e não consigo ver nada lá embaixo. Tento contatar alguma torre, mas nenhuma responde. Vou precisar aterrissar em um lugar qualquer... Começo a sobrevoar em círculos. Olho para baixo... Estou acima de uma pequena cidade. Parece mais uma vila... Será que estou na França? Tudo o que me resta é torcer. Há várias lavouras ao redor da cidade. Escolho aleatoriamente uma área e me preparo para a aterrissagem. Não vai ser algo delicado... As rodas já estão fora e já estou quase no chão. Finalmente as rodas encontram terra firme e meu corpo é jogado para frente com o impacto. Desligo o motor e espero o avião parar por conta própria. Após alguns minutos ele finalmente para e eu respiro fundo, contente por estar vivo. Tiro o cinto e abro a porta do avião, saindo em seguida. Meus pés tocam o chão e sinto uma enorme vontade de tirar os coturnos, sentir a terra fofa se misturar com meus dedos. Mas ao invés disso só continuo ali em pé, com os olhos fechados e respirando fundo. Abro os olhos e me ponho em ação. Entro novamente no avião e pego minha mochila. Retiro uma barra de cereais de dentro e depois a coloco em minhas costas. Devoro a barra em questão de segundos. Saio do avião e começo a procurar o rumo da cidade. Não era bem como eu imaginava que a Europa estaria... É uma noite calma e tranquila... Está tudo tão... Normal. O único detalhe é que as luzes da cidade estão apagadas. Mas... Elas não estavam enquanto eu sobrevoava. Vejo as casas ao longe e começo a andar em direção a elas. Pego uma lanterna e sigo meu caminho. Em pouco tempo já estou dentro do município. Observo uma placa... Ótimo. Não está em Francês. Está em Alemão. É... Pelo menos estou mais perto que longe. Pensamento positivo, Chris. Observo a rua... Não há uma alma viva aqui fora. Parece uma cidade abandonada. E se estiver abandonada? Oh... Provavelmente é isso. Os habitantes foram realocados para um local mais seguro. Tudo bem. Tudo bem. O que você precisa fazer Christopher? Sento em uma calçada e espero por uma resposta divina. É obvio. Preciso descobrir onde diabos estou e só então vou planejar para onde vou. Eu não entendo a língua alemã, então preciso encontrar alguém que fale em inglês ou um mapa, ou qualquer coisa... O primeiro passo é encontrar o local em que os habitantes estão. Passo um tempo pensando e só então percebo: Eles provavelmente acionaram o alarme de emergência pensando que o meu avião era inimigo e que corriam risco de bombardeio. Não tenho tempo para me sentir culpado. Levanto de uma vez e começo a andar pelas ruas, procurando algum movimento. Eles devem estar no porão de alguma casa. Após uma caminhada infinita, meus pés e costas já doem, finalmente vejo um homem. Ele está usando um enorme casaco azul escuro e seus braços estão cruzados. Ele anda com pressa para algum lugar e eu o sigo de longe. Dobramos duas esquinas, até que encontro o local. Há dois guardas na porta e eles logo apontam as armas para mim quando me aproximo. Ponho minhas mãos para cima em sinal de paz e tento falar com eles, mas os mesmos não entendem.

"Eu sou Christopher. Sou um sargento norte americano. O avião que vocês viram é o meu...".

Os soldados se entreolham... Parecem atordoados.

O homem que eu segui se vira e fala algo em alemão para os soldados. Em seguida ele me pergunta em inglês:

"o que um sargento dos EUA está fazendo aqui?"

"Oh, graças a Deus você fala minha língua" sorrio "eu estava tentando chegar até França, mas meu avião ficou sem combustível...".

O homem parece traduzir o que eu disse para os soldados. Em seguida, eles entram na casa. O tal homem se aproxima de mim.

"Sou Müller" ele oferece uma mão e eu aperto a mesma.

"Christopher" digo.

A porta da casa é aberta e logo várias pessoas começam a sair. Alguns me olham curiosos já outros parecem zangados.

"O que você estava indo fazer na França?" Müller me dá um olhar questionador.

"eu estou procurando minha esposa. O avião dela foi sequestrado por terroristas e ela foi parar no norte da França".

"Você é um homem de sorte" ele afirma "sabe onde estamos?".

"Alemanha?" digo confuso.

"Sim. No Norte da Alemanha. Essa cidade se chama Wyhl e nós estamos há poucos quilômetros da fronteira com o Norte da França" ele sorri.

Meu estômago revira e uma onda de alívio e alegria passa pelo meu corpo.

"não acredito" rio "como chego lá?"

"Calma. De manhã eu te indicarei o caminho, por hoje você fica na minha casa" ele começa a andar e eu o sigo.

"por que está me ajudando?" pergunto.

"minha mãe me ensinou a ser caridoso" ele sorri "e você parece meio desesperado... Parece também que precisa de um banho. Não vai querer parecer um mulambo na frente da sua mulher, certo?".

"Certo... Certo" rio.

E seguimos andando pelas ruas estreitas daquela pequena vila. E eu sigo... Feliz. Com um sorriso de orelha a orelha. Porque estou mais perto que nunca de encontrar a minha felicidade e minha razão de viver novamente. Meu corpo está quente mesmo com o frio... Só espero que ela esteja bem. Só precisa aguentar mais um pouco. Vai ficar tudo bem meu amor... Eu sempre cumpro minhas promessas. Eu estou indo te resgatar.


𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐆𝐔𝐄𝐑𝐑𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora