Um capítulo pequeno, mas o próximo vai ser bem agitado. Preparem as pipocas!
K. K.
SARGENTO CHRISTOPHER WILLIAMS – Norte do Iraque.
-- o primeiro ataque já foi anunciado – pigarreio para Will – amanhã partiremos para Bagdá. Precisamos tomar a Capital. Mas quem sabe quanto tempo vai durar? Talvez essa tomada dure semanas. Imagino quantos vão morrer.
-- O senhor precisa ser mais otimista, senhor! – Will fala enquanto descasca batatas – o poder de fogo desses árabes imundos é inferior ao nosso. E a cada dia chegam mais e mais soldados.
-- Sim – sussurro.
Observo o pátio que está lotado de soldados andando para lá e para cá. Estamos numa tenda e eu faço companhia a Will, que recebeu o cargo de ajudante de cozinheiro. Está difícil alimentar esta quantidade de homens, mas estamos conseguindo até agora. Olho para o céu e vejo mais um Boeing CH-47 Chinook* chegando.
Já tem uns dez em terra firme e eles parecem não se importar em mandar mais. As minhas tropas já estão divididas. Ficarei responsável por 121 homens. Há uns 402 por aqui. De repente, lembro-me de algo que está me tirando do sério.
-- nós brigamos – pigarreio para Will – e eu não sei onde ela está neste momento.
Will me olha assustado.
-- dona Irina desapareceu?
-- bom, não. Mas a nossa briga foi... Feia. Então, não vou nem tentar ligar. Melhor deixar a poeira baixar. Mas ela não vai querer ficar nos EUA – digo nervosamente.
-- e isso é o que te preocupa – ele conclui – pra onde acha que ela vai?
-- eu não tenho a mínima ideia – faço uma careta.
-- ache um jeito de saber – Will me encara como se essa fosse a coisa mais óbvia do mundo.
E talvez seja... Será que ela falava sério sobre o divórcio? Não... Ela só está confusa e assustada. Irina sente minha falta, mais do que eu imaginava. Eu sou o homem da sua vida, e ela é a mulher que eu nasci para amar. Eu ainda sou o mesmo Christopher que jogava pedrinhas na janela dela. E ainda a amo com a mesma intensidade daquela época, sinto que até mais. Eu só tenho que fazê-la ver isso. Quando estivermos frente a frente, ela vai desistir da ideia.
Coloco isso na minha mente e ando às pressas até minha sala. Pego o telefone e disco para a primeira pessoa que vem à minha mente.
Paul.
IRINA WILLIAMS – WASHINGTON D.C., EUA.
-- Sim mãe, não se preocupe! Eu vou ficar bem – digo pela centésima vez.
Acho que nunca ouvi minha mãe tão desesperada como agora. Faz dois dias que estou na Capital e estou com pressa para deixar o país. Meus pais querem que eu vá para o Brasil, mas estou com outro país em mente.
-- mas filha! Europa não. – minha mãe choraminga.
-- mãe, não adianta. Eu vou para Portugal. – afirmo – eu sei que é perigoso, por ser na Europa. Mas, convenhamos: quem iria atacar Portugal? É o país mais afastado e nunca arranjou uma briga grande com nenhum árabe. E tem muitos lugares que eu quero visitar lá.
-- VOCÊ FICOU MALUCA? – ela grita – VOCÊ ESTÁ PENSANDO QUE VAI PASSEAR DE FÉRIAS? É UMA GUERRA, IRINA! O MUNDO INTEIRO ESTÁ EM GUERRA. SE TOCA.
Fico pasma com o palavreado da minha mãe.
Eu pensei em ir para Portugal, mas já vi que ela vai ter um ataque se eu for.
-- Tá bom mãe, você venceu! Eu vou para Mato Grosso – bufo.
Tiro o celular do ouvido para não ouvir os gritos de felicidade da minha mãe.
Ela e o pai estavam em Pernambuco, mas decidiram adentrar mais o Brasil. Pra eles, o Nordeste fica mais perto da Europa e quanto mais longe de lá, mais seguros estarão. Eles foram para MG, de lá partiram para Mato Grosso. Tenho certeza que minha mãe esta com planos de se embrenhar na Amazônia enquanto a guerra acontece. Paranoica.
Alice decidiu que vai continuar nos EUA. Vai para o Kansas, onde sua família paterna está. Isso me deixa muito nervosa, mas eu não posso levá-la a força.
Despeço-me de meus pais e já abro o notebook, comprando minha passagem. Ainda bem que fiz isso, pois a partir de amanhã todas as viagens internacionais serão proibidas. Graças a Deus minhas coisas chegaram, Marisa mesma preparou. Mais um alívio para minha vida, foi saber que ela está bem! E a mesma decidiu que vai para Chicago ficar com a filha. Eu só espero que depois dessa guerra, todos os que eu amo fiquem bem.
É impossível pensar em amor e não lembrar Christopher. Eu realmente estou disposta a pedir o divórcio, mas não vou suportar se ele morrer. Ontem tive um sonho horrível, no qual eu estava num deserto e andava quilômetros e quilômetros, apenas para encontrar um Christopher dilacerado no caminho. As cenas do sonho passam por mim de novo, fazendo-me arrepiar. Tiro logo isso da minha cabeça. Isso não vai acontecer! Ele é o melhor. Ele sabe se cuidar. Será que ele está se preparando para ir para uma guerra agora mesmo? Será que ele está machucado com o que eu falei? São tantas perguntas que fico com um nó na garganta.
Limpo as lágrimas do meu rosto e ponho salto, calça e blusa pretos, vestindo um blazer branco logo depois. Faço um rabo de cavalo e apenas ponho óculos escuros para disfarçar as olheiras profundas. Peço para que levem minhas malas até o térreo e assim o fazem. O sol já está se pondo e o voo está marcado para as 20h00min da noite. Paul Skylar está me esperando na entrada do hotel e abre um sorriso quando me vê. Ele chama um táxi para mim e conversamos sobre algumas coisas, na maioria do tempo ele me dá instruções sobre como me proteger e procura saber minuciosamente qual o lugar em que vou ficar. Sinto que tem o dedo de Chris nisso, mas finjo que não percebi o interesse. Logo minhas malas são colocadas no carro e eu despeço-me do homem que me salvou, partindo para o aeroporto.
Ainda falta um bom tempo para o meu voo sair, então quando chego ao aeroporto, já vou para uma lanchonete. Estou morrendo de fome! E viajar nervosa e com o estômago vazio não é lá uma boa combinação. Como várias coxinhas, pois amo. E um refrigerante diet, claro. Finalmente meu voo é anunciado e eu trato de me apressar. Nem consigo acreditar que vou viajar na classe econômica, mas fazer o quê. Os aviões estão lotados, todos querendo sair do país. Foi um verdadeiro milagre eu ter conseguido essa passagem de maneira tão rápida! Acomodo-me na cadeira e olho ao redor. Todos estão agitados, não sem motivo. Sinto um calafrio no corpo quando olho para o homem da fileira ao lado. Careca e com enormes tatuagens na cabeça. Vários símbolos estranhos. Uma delas chama minha total atenção. Perto da orelha, há uma Lua Crescente com uma pequena estrela. Esse símbolo não me é estranho... Acho que já o vi em alguma bandeira. Mas mesmo assim, ele é branco, alto... Parece ser americano.
Isso está muito confuso. Calma Irina. Não julgue ninguém, que coisa mais feia. Pelo menos há um oficial dentro do avião, pronto para nos proteger. Ouvimos a voz do piloto, avisando que iremos decolar. Encosto minha cabeça na poltrona e tento fechar os olhos, mas é impossível. Meu corpo está em alerta total e minhas mãos estão tremendo. Eu estou com medo. Não sei como, nem o por que... Mas meu pressentimento nunca falha.
Boeing CH-47 Chinook: Helicóptero do Exército dos Estados Unidos. Transporta cargas e é capaz de suportar de 33-55 soldados.
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𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐆𝐔𝐄𝐑𝐑𝐀
RomanceIrina e Christopher estão casados há cinco anos. Ele é um soldado americano, ela é uma empresária conhecida mundialmente. O amor deles é frio e cheio de mágoas, pela distância física e emocional (Christopher está sempre em missões) e por ela ser mui...