Em nome de João

Capítulo 2

A história de João da Silva, o protagonista deste livro, é uma mistura de ficção com algumas conversas de esquina de rua com amigos que ouviram alguém dizer que fulano de tal viu tal fato. Desta forma, nada do que está escrito neste livro pode se dizer verídico. Até porque, existe um ditado popular que diz: "quem conta um conto, aumenta um ponto".

João tem um porte físico fraco. Mede em torno de um metro e meio de altura. Mulato de cabelos rebeldes, bem curtinho, raspado à máquina nos lados, pretos. Têm olhos pretos, usa óculos de plástico azul, no estilo jovem, pois tem hipermetropia.

A sua casa é humilde. Os seus pais não têm muito dinheiro, como muitos brasileiros. Na pequena casa conjugada há uma cozinha com uma pia, um armário sob a mesma em que as portas são uma cortina de pano, fogão com quatro bocas e uma geladeira pequena, ambos com muita ferrugem. Banheiro com um chuveiro de água fria, pois para tomar banho de água quente é necessário esquentar a água no fogão. Um pequeno quarto com uma cama de casal. A sala que tem um sofá de três lugares e que também serve de quarto, pois João e seus dois irmãos, José e Joana, dividem um beliche com mais uma cama que fica guardada sob o beliche.

João mora no Buraco da Cobra. Localizado entre o Boaçú e o Mutuá. Parte do lugar fica no Boaçú, e a outra parte fica num bairro cujo nome é Mutuaguaçú. O Buraco da Cobra, como boa parte do Boaçú, também fica num vale. A diferença é que não há ruas pavimentadas e o saneamento básico é ainda mais precário. Não há transporte público e muito menos escolas e postos de saúde. Uma marca muito forte do Buraco da Cobra é a violência imposta pelo tráfico de drogas. Marca esta que se arrasta pelos bairros vizinhos como Mutuá, Portão do Rosa e o restante do Boaçú, que é afetado com mais força.

Em resumo, o Buraco da Cobra é um lugar abandonado pelas autoridades, e aterrorizado por facções criminosas do tráfico de drogas. O grande problema das pessoas de bem que lá moram, é estar no lugar errado e na hora errada. Certa vez, um amigo do tio de João estava voltando para casa após um show que ele foi assistir no clube Mauá. Isto já beirava às três horas da madrugada. Ele andava pela rua principal do bairro onde mora, Nova Cidade. Resolveu pegar um atalho, entrou em um beco que terminava num terreno vazio. A sua casa ficava a poucos metros do terreno. Ao chegar ao final do beco, ele escutou uma conversa esquisita, onde ecoava três vozes alteradas. Diminuiu o passo e tentou ver o que estava acontecendo, quando avistou três pessoas: uma de joelho implorando pela sua vida e as outras duas em pé, apontando uma arma para a cabeça da primeira. Na mesma hora procurou um lugar para se esconder. Avistou uma moita no terreno quase ao lado de onde estava parado. Foi andando bem devagar, agachado, e se deitou atrás dela. Algum tempo depois, ecoou o som de três disparos. Neste momento parecia que o tempo havia parado. Os segundos demoravam a passar. A vontade era sair correndo, mas não podia, pois sabia que o seu futuro seria o mesmo. Assim, ficou deitado atrás da moita por quase meia hora, até ouvir uma mulher chorando. O som vinha do mesmo lugar de onde foram feitos os disparos. Ele sentiu que era o momento de ir embora sem ser percebido. Logo, sem deixar que outras pessoas o vissem, saiu de trás da moita e foi embora sem deixar rastros.

O que vale em São Gonçalo é a lei do silêncio, isto é, ninguém ouve e nem vê nada. Os moradores já se conscientizaram que a vida é mais importante do que a possibilidade de acontecer algo correto caso haja uma denúncia. Apesar de São Gonçalo ser uma cidade quase vizinha à cidade do Rio de Janeiro, pertencer à região metropolitana, herdar a violência do tráfico de drogas, os políticos que chegam ao poder a tratam como uma cidade pequena e sem importância.

Vários problemas já foram relatados anteriormente. Masexiste um ainda pior. Muitos jovens moradores têm vergonha de dizer que moramna cidade. João não tinha esse sentimento, muito pelo contrário, achava que umdia poderia ajudar a cidade. Bom, os seus pais fizeram de tudo para ajudá-lonos estudos. Assim, ele não precisaria fazer o que está para acontecer.