João estava iniciando a primeira série do primário, atualmente segundo ano do ensino fundamental. A sua vida era muito tranquila, alegre e feliz. Apesar de toda a pobreza, da falta de estrutura e da ausência do estado, ele e sua família viviam em harmonia. É claro, eles não sabiam que deveriam ter acesso aos serviços básicos oferecidos pelo estado, e nem que o salário mínimo deveria ser suficiente para que pudessem ter moradia, água, luz, alimentação, escola e lazer. Desta forma, não reclamavam de nada e nem se indignavam com alguma coisa além do que já tinham. Como disse um grande amigo: "a ignorância é uma dádiva de Deus".
Ele não disse esta frase porque queria ser ignorante, muito pelo contrário, mesmo tendo todos os sentimentos que tem no coração, prefere o caminho da lucidez, da informação. Mas o que tentou passar com esta frase foi que essas pessoas que não tem acesso às informações, que não conhecem os seus direitos, mas apenas os seus deveres, vivem muito melhor do que viveriam se soubessem de todas as coisas a que tem direito, sem ter o poder de exigi-los.
Na verdade, o que esse meu amigo sempre me disse é que gostaria que todos os brasileiros tivessem consciência do que significam para o país, de sua importância, e exigisse tudo o que lhe fosse de direito, e que não houvesse ignorantes. Porque o pior ignorante não é aquele que não tem acesso à informação, mas aquele que a detém e a usa de forma errada.
É por causa desses ignorantes que João e muitas outras pessoas vivem numa situação precária.
Além da escola tradicional, João frequentava o catecismo na Igreja Nossa Senhora do Pilar. Sua família frequenta as missas todos os domingos as sete horas da manhã. Ele e seus irmãos não gostam de ir, pois tem que acordar às seis horas da manhã. Já não bastava acordar cedo durante a semana? Mesmo as crianças não gostando, a família toda acorda. Todos tomam banho, e enquanto a mãe prepara o café, o pai vai a padaria comprar pão. Na mesa tem café, leite, pão e manteiga. Após o café da manhã seguem para a igreja. Eles sempre chegam uns dez minutos antes e sentam no banco do meio. As crianças tem a sensação de que a missa nunca vai acabar. Depois dos avisos o padre abençoa a todos e se prepara para descer do altar. Todos devem esperar o padre sair da igreja para irem embora.
Para João e seus irmãos o domingo na igreja ainda não acabou. Os três tem aula de catecismo. São mais duas horas na igreja. O catecismo é só uma hora, mas os seus pais ajudam com os afazeres durante a segunda missa do domingo. Nesse tempo livre, João, José, Joana e seus amigos aproveitam para brincar.
Eles chegam em casa por volta das onze horas da manhã. Só aí que a sua mãe vai preparar o almoço. O feijão já está pronto. Ela tempera sempre no sábado a noite, bastando esquentar. O arroz é sempre fresquinho. Normalmente a comida de domingo é frango. As vezes assado, as vezes com batata. Sempre há uma maneira diferente de fazer frango. O almoço normalmente é servido por volta das duas horas da tarde. Depois do almoço é servido um cafezinho fresquinho. Todos os domingos são assim. A família sempre reunida. À tarde as crianças vão brincar na rua com os amigos.
Às vezes, no início da noite, eles vão a Praça ZéGaroto para as crianças brincarem mais um pouco. A praça tem um espaço grandecom balanço, gangorra e escorregador. Há um grande chafariz que faz váriascoreografias com o jato d'água. Também existe um espaço mais reservado para oscasais namorarem. O nome da praça é em homenagem ao dono de um armazém que existiano local.12.0P4
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Em nome de João
RomanceJoão tem uma infância tranquila e feliz que é interrompida de forma brutal. Após recomeçar a sua vida, e fazer novas amizades, ele retorna a sua origem para comandar o império do tráfico de drogas. Esta estória é baseada em contos ouvidos em convers...