Capítulo 7

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Sete anos se passaram. Apesar de o mundo e a vida serem dinâmicos, o Boaçú parece estático. As ruas continuam do jeito que eram. Os mesmos comércios, exatamente como eram. Sem grandes mudanças. Na verdade, quase nenhuma. Nada mudou. Sai prefeito e entra prefeito e nada acontece no Boaçú. Parece que é o fim do mundo. Eu sei que existem bairros em São Gonçalo bem mais esquecidos do que o Boaçú, mas é que aqui nada acontece mesmo.

Bem, nem tudo é estático aqui. Depois que sete anos se passou, Orlando, o grande amigo de João, está namorando Clara, a amada de João. Eles estão juntos há mais ou menos um ano.

Os anos passam e as pessoas mudam, as vezes nem tanto. Mas no caso da adolescência para a juventude, as mudanças são grandes. Clara agora não usa mais óculos. O seu problema na vista foi corrigido. Ela está linda. Seus cabelos continuam castanhos claros, encaracolados compridos. Está com um metro e sessenta centímetros de altura. Pernas bem torneadas, roliça, bumbum arrebitado, e seios pequenos, mas com marca do biquíni, pois passou a frequentar a praia de Piratininga que fica na cidade de Niterói. Para chegar é um sufoco, são dois ônibus até chegar ao destino. Primeiro o ônibus 422 da viação Mauá, e depois o ônibus 39 da viação Santo Antônio, que nos fins de semana, é necessário enfrentar uma fila quilométrica para conseguir subir. Mas o sacrifício vale a pena, pois além da diversão, a sua pele quase sempre está com leve bronzeado. Ainda muito tímida, porém já sabe se comunicar com as pessoas. Ela atualmente dá aulas de catecismo na Igreja Nossa Senhora do Pilar.

Os pais dela não são a favor do namoro. Sabe como é? Namorar malandro não é futuro para ninguém. E eles sabem que Orlando não é flor que se cheire. As pessoas na rua fazem comentários. Sempre tem alguém que viu alguma coisa.

Pois é, depois de ida de João, Orlando andou se metendo com os malandros do bairro. Ele não se envolveu plenamente, mas gosta de passar a impressão. Podemos dizer que ele vende informações para eles.

Orlando não mudou muito. Apenas cresceu um pouco. Está com um metro e setenta centímetros de altura. Os cabelos continuam lisos, loiro. Corpo mudou um pouco, pois recebeu um pouco de pelos. As pernas, braços e peito estão cabeludos. Continua com o mesmo porte físico, nem magro e nem gordo.

João volta e nada realmente mudou. Quer dizer, as ruas, as casas e até mesmo os comércios estão praticamente do jeito que estava quando eles partiram. A vida é dinâmica, como mencionado anteriormente, mas os lugares, tendo como ponto de vista o tempo que temos na terra, são muitas das vezes estáticos.

Ele tenta não chamar atenção. Ele está com alguns pelos na cara, uma barba bem rala. Cabelos cortados na máquina com pente número um. Também usa óculos escuros e um boné preto. Trocou os óculos de grau por lentes de contato. Agora está com um metro e setenta e cindo centímetros de altura. Passou a fazer musculação todos os dias. Seu corpo está bem esculpido. Os músculos bem definidos, e se orgulha muito disso. Adoro se amostrar quando está com uma mulher.

Ele não quer ser reconhecido por ninguém. Na verdade, ele não tem certeza de que alguém ainda o reconheça, mas é melhor prevenir do que remediar.

O caminhar pelas ruas do bairro faz as lágrimas descerem dos olhos de João. Não é fácil voltar. Seja lá do que você esteja fugindo, a volta é sempre dolorosa. A nostalgia começa. Milhares de lembranças vêm à tona. Ele já foi muito feliz neste lugar. Tudo bem que a sua família não tinha muito dinheiro, mas para João e os seus irmãos bastava um pouco de atenção dos seus pais todos os dias para que a felicidade fosse completa. O ato do pai ou da mãe chegando do trabalho, e às vezes trazendo um doce ou uma lembrança, para uma criança, é tudo na vida. Mas infelizmente isso foi tirado deles naquele trágico dia. A felicidade foi embora e essa sensação nunca mais será sentida por eles. Não no sentido completo da palavra. Talvez eles consigam estar no outro lado da moeda quando assumirem o papel de pai ou de mãe. Apesar da mãe por perto, a dor era muito mais forte.

Em nome de JoãoWhere stories live. Discover now