O céu aberto denunciava uma deliciosa tarde de uma sexta-feira. O sol refletia no lado esquerdo da casa iluminando parte do quarto e da varanda. No outro lado da varanda, João descansava sentado numa cadeira de praia de quatro posições, ajeitada para a segunda, com os pés sobre a mureta que cercava a varanda. Ele pensava na vida. Nas surpresas que ela aprontou. Pensava muito na sua mãe, que Deus a tenha. Ele não lembrava muitas coisas da época em que sua vida parecia valer a pena. Também, depois de tanto apanhar da vida, parece que sua mente foi bloqueada. Mas de uma coisa ele lembrava: que a sua mãe sempre procurou fazer o melhor para ele e que sempre dizia que ele seria alguém importante. Bem, acho que ela acertou na parte de ser alguém importante, pelo menos ele achava que era. Uma pena que não era esse tipo de "alguém importante" que ela queria para ele.
Perdido no meio de suas lembranças, João houve uma voz distante. — João! João! — Ele acorda e vê Bambu correndo em sua direção. Ele sobe os poucos degraus que levam até a varanda de João. Ofegante, para ao lado da cadeira de praia onde João está sentado. Agachado, coloca a mão direita sobre o ombro de João. — Vamos homem, o que foi? — Pergunta João.
— Alguém nos dedurou! Entregaram todo o nosso esquema!
— O quê? Como?
— É sério. Aquele Orlando do bairro entregou tudo para os homens. O meu primo, que é polícia, me avisou para eu fugir. Mas disse à ele que o meu lugar é aqui.
— Temos que pensar em algo.
— Mas tem que ser rápido, por que eles vão invadir esta noite.
— Como ele pode fazer isso comigo? Somos irmãos! Crescemos juntos. Mas tenha calma homem! Primeiro temos que pegar o Orlando. Esse já era!
Orlando estava num bar bebendo uma cerveja estupidamente gelada, do jeito que ele gosta, quando um amigo, que mora ao lado da casa de João, chega correndo.
— Orlando! João e os seus homens querem pegar você. Estão te procurando. Some daqui!
Bom, isso foi o que Orlando pensou assim que recebeu a notícia que a sua cabeça estava a prêmio. Ele ligou para o policial que tinha contato e o mesmo lhe aconselhou que sumisse dali por algum tempo. Mas ele não se conformou. Saiu do bar e foi para uma casa onde ele usava para se esconder sempre que precisava. Lá também estava escondido todo o seu arsenal de armas. Ele tinha um revolver 38 e uma pistola 42. Também tinha guardado um AK-47, que João lhe dera de presente, apesar de nunca tê-lo usada. Era para alguma emergência. Parece que a emergência apareceu. Orlando colocou o revolver 38, completamente carregado, atrás, no lado direito, enfiando na calça jeans que estava usando. A pistola 42, também carregada, colocou atrás, no lado esquerdo, também enfiando dentro da calça jeans que estava usando. A AK-47 ele pendurou no ombro com o auxílio de um suporte. Enfiou na parte da frente da calça um pente reserva cheio da AK-47.
— Vamos à guerra. Eles querem me matar? Então vão ter uma surpresa!
Ao invés de fugir, Orlando se escondeu. Mas não foi com medo, ele se escondeu para armar uma tocaia para João e os seus amigos.
João, Minhoca, Cobra e Pedrão entram no carro, decididos a matar Orlando. Eles sabem que Orlando sempre está no bar bebendo cerveja. Quando isso não acontece, Xavier, o dono do bar, sempre sabe para onde ele foi.
Cobra liga o carro. Ouve o ronco do motor. Isso soa como uma música para os ouvidos dele. Concentra-se e em seguida relaxa. Passa a primeira marcha e dá partida no carro. João, que está sentado no lado do carona, liga o som. Coloca o CD dos Guns n' Roses e seleciona a música Welcome to the jungle. Ele segura uma AK-47 completamente carregada. No banco de trás do carro Minhoca e Pedrão estão tensos, o primeiro do lado direito e o outro do lado esquerdo. Inquietos. Cada um segura uma pistola 42. Os vidros estão todos abaixados para facilitar na hora de mandar bala. As armas também estão abaixadas para que ninguém veja, apesar de todos saberem que eles só andam armados.
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Em nome de João
RomanceJoão tem uma infância tranquila e feliz que é interrompida de forma brutal. Após recomeçar a sua vida, e fazer novas amizades, ele retorna a sua origem para comandar o império do tráfico de drogas. Esta estória é baseada em contos ouvidos em convers...