Capítulo 5

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As férias de fim de ano chegaram. Isso é muito bom por um lado. Claro que é o lado das crianças. O movimento de brincadeiras nas ruas aumenta. A preocupação dos pais também aumenta na mesma proporção. O bom mesmo era as crianças na escola, pois assim os pais sempre tinham algumas horas para organizar as suas coisas. Agora, com os filhos vinte e quatro horas por dia, é dose de leão. Como ninguém tinha dinheiro para colocar os filhos em uma colônia de férias, e na verdade algumas pessoas nem sabiam que isso existia, a ideia era deixar os filhos brincando nas ruas e sempre acreditando que eles estariam por perto e se comportando. Isto é, sem se meter em confusão, nem se envolver com drogas, ou com más influências.

Mas a vida é assim. O sol nasce para todos. Bem, isso é que tentam vender. O interessante é que o sol só nasce para uma parte da terra, enquanto a outra parte curte a noite. Mas o importante é que após esse verão o sol deixará de nascer para alguém.

Todas as tardes João e Orlando jogavam bola num campinho da Rua 40, perto de suas casas. O campinho não era muito grande. Devia ter uns trinta metros por vinte metros. Estava localizado em um terreno de tamanho padrão. Como não havia nenhuma construção, capinaram o local, colocaram duas traves e assim surgiu um campo. Ele servia perfeitamente para matar a secura de futebol das crianças, ainda mais nas férias escolares. Desta forma, os times não poderiam ter muitos jogadores na linha. Assim, eles eram formados com um goleiro e três jogadores na linha. João e Orlando sempre jogavam no mesmo time. Na hora de escolher o time no "zero ou um", somente um deles ia participar, para que pudesse escolher o outro. Todos os jogadores devem colocar uma mão para trás do corpo e depois de falarem "zerinho ou um" devem lançar a mão para frente com zero (mão fechada) ou um (um dedo). O jogador que colocar o valor diferente de todos os outros, ganha. Normalmente é preciso repetir várias vezes até alguém ganhar. Se acontecesse de outra pessoa ganhar e escolhesse João ou Orlando, a confusão estava formada. Depois do time formado, a regra era revezar o time no gol. O time começava com um goleiro, e toda vez que o time fizesse um gol, o goleiro ia pra linha e o próximo da vez ia para o gol. Assim, todos revezavam no gol. O grande problema era quando o ataque não tinha competência pra marcar um gol, pois quem acabava pagando era o goleiro, que mofava o tempo todo do jogo no gol.

O jogo sempre rolava até o final da tarde. A secura era tão grande, que mesmo escurecendo ainda tinha bola rolando. Somente quando não dava mais pra enxergar mesmo é que a bola parava de rolar. Mas neste dia, o jogo acabou um pouco antes e a tarde demorou um pouco mais.

Preocupado, o pai de João que havia chegado cedo do trabalho, foi procurar pelo filho. A mãe de João havia lhe dito que ele estava jogando futebol no campinho da Rua 40. Realmente foi o que ele conferiu. Chegando a beira do campo, ele gritou pelo filho.

— João! João!

João olhou para a lateral do campo e vê seu pai em pé, olhando para ele. A vontade dele foi de pegar a bola e sair driblando todo mundo, até chegar de cara com o gol, dar um lençol no goleiro e marcar um golaço de placa para o seu pai se orgulhar dele. Não deu tempo nem dele olhar para a bola novamente.

Neste mesmo momento, na rua na lateral do campo, uns cinquenta metros antes do local onde seu pai estava parado, vinham um carro e uma moto em alta velocidade. A principio parecia que estavam fazendo um pega, mas logo se ouve os disparos de revolveres. Foram muitos tiros sendo disparados. Um contra o outro. A moto, encosta no carro, posicionando-se ao lado do motorista, e faz um disparo que acerta o motorista. O carro perde o controle e bate numa árvore que fica em frente a uma casa no outro lado da rua.

A moto segue reto em alta velocidade sem parar. O motorista não olha nem pra trás. Segue seu caminho certo de que sua missão foi cumprida. Depois de toda a confusão, vem o silêncio. Depois do silêncio ouve-se um grito:

— PAI!

A correria foi total. Alguns correram para ver quem está dentro do carro, enquanto outros correm para acudir o pai de João, que levou um tiro. Só não dava pra saber quem fez o disparo que acertou ele. Na verdade isso nem importava. O que importava mesmo era socorrer o pai de João. Quando João chega ao local onde seu pai caiu, ao lado do campo, já havia muitas pessoas. Ele foi empurrando-as e gritando "— Pai". Abriu-se um corredor polonês para ele passar. Quando ele chegou ao lado do pai, já não havia mais o que fazer. A bala perdida, ou achada, atingiu-o de cheio no peito. O seu pai estava caído no chão. João senta, coloca a cabeça do seu pai no seu colo. Com a mão direita faz carinho no seu rosto, e depois coloca a mão sobre o ferimento e sente o sangue ainda quente a escorrer pelos seus dedos. João não acredita no que vê.

As pessoas que estavam por perto ainda tentam salvá-lo. Colocam-no dentro de um carro que aparece na hora e seguem para o hospital, mas como foi lido, já não havia mais tempo. Ele morreu quando estava próximo do hospital. João estava sentado no banco de trás, com a cabeça do seu pai no colo, quando isso aconteceu. Ele chorou muito. Gritou. Desesperou-se. Não há como explicar.

O homem que estava no carro morreu no próprio local,antes da batida do carro, com os disparos do motoqueiro. Ele estava devendo dinheiropara alguns traficantes do local, e eles vieram cobrar. Só que o preço que foipago estava muito caro. O problema é que quem com ferro fere, com ferro será ferido.  

Em nome de JoãoWhere stories live. Discover now