Capítulo 12

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João se vê obrigado a contar a história do tempo que viveu no Boaçú. Mesmo sendo doloroso, não há como escapar deste momento. Só assim seus companheiros de crime entenderão o porquê deste lugar.

— Você já me falou muito do Boaçú. Não foi o lugar onde mataram o seu pai? — Indagou Minhoca.

— Mataram o seu pai? — Pedrão e Cobra fazem a mesma pergunta, ao mesmo tempo, com um ar de surpresa.

— Sim. Quando eu estava na quinta série. Foi um tiro de bala perdida. Por isso não gosto muito de injustiça. Só mato quando realmente é necessário. Comigo só morre quem tem que morrer.

A conversa sobre o Boaçú, sobre São Gonçalo e sobre o pai de João rolou durante mais ou menos umas duas horas. João jogou limpo com eles, e contou tudo o que aconteceu. Minhoca já sabia, mas os outros dois ficaram indignados. Depois de colocarem os pratos limpos sobre a mesa. João fez a pergunta novamente.

— Então, vocês vêm comigo para o Boaçú?

— Estou com você até o fim. — Disse Minhoca.

— A minha vida é sua desde aquele dia lá em cima do morro. — Argumentou Cobra.

— Estamos juntos nessa. — Completou Pedrão.

— Excelente notícia! — Exclamou João. — Tenho um plano já pronto para invadirmos o Boaçú.

— E como você pretende fazer isso? — Questionou Cobra.

— Antes de convidar vocês para o negócio, eu já me preparei em todos os sentidos. Levei um papo com o dono da boca aqui, e ele vai me apoiar. Primeiro, ele vai fornecer todo o armamento necessário para fazermos à invasão. Além das armas, ele também irá financiar todos os acessórios que nós acharmos necessários. Em troca disso, basta que nós, depois da invasão, compremos as mercadorias somente com ele. Ou seja, ele irá financiar a invasão em troca de fidelidade para ele poder ampliar os seus negócios.

— Mas nós ficaremos subordinados a ele? — Perguntou Minhoca.

— Não. Ele pede apenas fidelidade no fornecimento de drogas e armas. — Responde João.

— Tudo bem. Já temos o armamento, mas como vamos invadir? — Pergunta Pedrão.

— Boa pergunta. Também já pensei nisso. Tenho um amigo de infância no Boaçú que reencontrei quando fui fazer uma visita pouco tempo atrás. Conversamos muito. Falei com ele sobre meus planos, e ele mapeou toda a movimentação do tráfico de lá. Nomes, lugares e horários onde cada um deles costuma estar. Seus endereços. Os endereços dos seus parentes. Tudo que se possa imaginar.

— E quando vamos executar a invasão? — Indaga Cobra.

— Estou terminando de fazer uns ajustes, além de estar esperando chegar o material de trabalho. Depois disso pronto, invadimos geral.

Depois de tudo acertado entre os quatro, só restavam a eles esperar os ajustes finais. Uma virtude de João era saber esperar a hora certa, e dos outros três era confiar em tudo que ele falava. Enquanto o dia e a hora não chegavam, eles continuavam fazendo à mesma coisa. Apenas o João havia mudado um pouco a sua rotina para finalizar os preparativos.

Bem, depois de muita espera, o dia chegou. Os quatro se reuniram na casa de João. Eles estavam com muita disposição, vontade e garra. Mas tinham que se controlar e não se deixar levar pela emoção, para que tudo saia perfeito.

— Já tenho todas as informações necessárias aqui neste caderno. No total são doze homens. Nós somos apenas quatro, mas temos armamento suficiente para derrubar um batalhão. Apenas precisamos ver a hora que eles se agrupam, pois assim pegamos dois, três, e até mais coelhos com uma cajadada só.

João para um pouco e respira.

— Vamos fazer isso numa noite de sábado. É o dia com mais movimento na boca. Assim, todos os doze vão trabalhar bastante e não vão esperar uma invasão. Aliás, eles já estão por lá há muito tempo e nunca irão imaginar que algum dia alguém seria capaz de invadir o Boaçú. Na base sempre ficam grupos de três. Ela fica no Buraco da Cobra, um lugar que fica na divisa do Boaçú com o Mutuaguaçú. Nunca menos do que isso. Existem três pontos de venda, um no campo de dona Lourdes, um na rua atrás do Colégio Monsenhor Barenco Coelho, e o terceiro na Ponte. Os outros que não estão na base, se revezam nesses três pontos. Então não será muito complicado. Basta cercarmos estes quatro lugares. O meu amigo me passou os horários que eles ficam lá, e que fazem o revezamento. Só há um pequeno problema.

— Qual é? — Pergunta Cobra.

— Precisamos de mais quatro homens de confiança para nos dar apoio na invasão.

Depois de discutirem bastante sobre como seria feito a invasão, os quatro sugerem os possíveis nomes para compor o grupo. Eles precisam de mais quatro homens. Os nomes são analisados um a um. A primeira rodada de aceitação passa dezessete nomes. Novamente eles começam a argumentar sobre os possíveis nomes, e depois de muitos argumentos e considerações, sobram somente cinco nomes. Esses cincos nomes são de inteira confiança de pelo menos um dos quatro. Faltava apenas eliminar um nome e tudo estaria acertado para a noite de sábado. Então Pedrão dá uma ideia.

— E se nós chamarmos os cinco ao invés de quatro?

Todos gostaram muito da ideia. Seria uma pessoa a maispara dividir o lucro da boca, claro que dentro de sua posição assumida dentrodo esquema, mas também seria uma pessoa a mais para dar apoio na hora dainvasão. Como nenhum deles se importava de perder um pouquinho para garantir obem estar de todos, a proposta foi aceita por unanimidade.  

Em nome de JoãoWhere stories live. Discover now