Duas Vidas

Tive Sua Atenção

Por Maria Antônia*

Depois que Victória bateu a porta do meu quarto, me sentei na cama e deixei as incontáveis lágrimas banharem meu rosto. Era uma sensação tão ruim. Me sentia horrível.

Não sei como não percebi que a Tória gostava, ou ainda gosta, do Joseph. Brigar com ela sempre me machucou, mesmo que em todos esses anos de amizade fizemos isso pouquíssimas vezes. Mas dói tanto. Ela é como se fosse minha irmã, sempre me aconselhando, ajudando, dando carinho. Crescemos praticamente juntas.

Fiquei olhando pelos cantos do meu quarto. Sem a Tória. Nunca realmente tive o Joseph. Por que não posso ser feliz? Talvez quando as minhas filhas nascerem eu consiga.

- Olha filhas, vocês têm a pior pessoa do mundo pra ser mãe de vocês, em compensação, o pai de vocês é incrível, mas ele vai achar uma madrasta do nível dele e provavelmente eu vou me casar com um cara barrigudo. Mas não se preocupem, vou fazer de tudo por vocês... e serei diferente da avó de vocês... - falei olhando para minha barriga redonda.

Fechei meus olhos e tornei a chorar. Odeio chorar! Mas parece que nasci pra isso.

- Maria? - Kaique disse entrando no quarto - O que aconteceu? - notou meu estado e correu em minha direção.

- Nada não. - respondi secando as lágrimas e forcei um sorriso - Por que parou de jogar?

- Não vou responder até você falar a verdade! É grave? Com as minhas sobrinhas? - interrogou e arregalou os olhos.

- Ka... - o abracei - Eu te amo, tá?

- Eu sei disso! Também te amo! - se distanciou de mim e olhou em meus olhos - Para de chorar... - disse secando minhas lágrimas com sua mão delicada. - Não faz bem para as bebês.

- É... - respirei fundo - Vamos fazer alguma coisa juntos? Quero jogar video game!

- Você é horrível jogando!

- Mas você me deixa ganhar de vez em quando! - sorri - Vou pegar alguma coisa para comer, e aí vamos jogar! - me levantei...

Alguns dias depois...

Acordei por volta das nove horas no sábado, me levantei da cama e fui ao banheiro fazer as higienes necessárias e aliviar minha bexiga prestes a explodir. Voltei para o meu quarto e fui até o espelho para pentear o cabelo mas sempre que me deparava com uma superfície reflexiva gostava de ver o tamanho de minha barriga. Está enorme. Não é fácil se acostumar com sua barriga esticando um pouco mais a cada dia e ela ainda tem muito a crescer por ser gêmeas que espero.

Depois que fiz um rabo de cavalo, sai do meu quarto, passei pelo de Kaique que estava sentado no chão, realizando sua atividade favorita: jogar videogame.

- Bom dia. - disse chamando sua atenção.

- Oi, Maria. - se virou com um sorriso.

- Você está acordado há muito tempo? - perguntei.

- Na verdade não.

- Já escovou os dentes? - perguntei prevendo sua resposta.

Ele balançou a cabeça negativamente, como quem já esperava levar uma bronca.

- Então vai, eu vou fazer o café. - fechei a porta.

Estava sonolenta demais para repetir a Kaique que é preciso fazer suas higienes ao despertar.

Preparei o suco de laranja, e terminei de colocar o resto das coisas na mesa enquanto comia biscoito. Pensei no que a mãe de Victória havia me dito sobre minha mãe, que sua aparência não estava boa. Já faz tempo que não a vejo e Kaique sente falta da pouca presença dela nesta casa, ele é pequeno para entender determinadas coisas, quando for maior vou explicar o que houve.