Boba (e mimada, talvez)

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  Demorei mais do que o de costume pra sair do vestiário, enquanto arrumava o cabelo não conseguia parar de pensar naquele homem, naqueles olhos, naquela boca, nos braços, em tudo. Já tava até meio bamba.

- Será que é pra hoje Nicole? - perguntou a Lorena, folgada, queria filar uma carona e ainda me dava pressa. Respirei fundo pra me acalmar, porque a visão daquele homem ainda estava mexendo comigo. 

- Bora. - Saímos pelo estúdio praticamente vazio, a não ser por algumas mães e filhas menores que tinham chegado cedo para a aula do próximo turno, mas a Jaque não tava, estranhei por um segundo mas saí rápido com a Lorena que não parava de tagarelar, ela é desse tipo que fala, fala, fala, até que você não consegue mais prestar atenção e simplesmente se concentra em qualquer ponto e para de ouvi-lá, mas mesmo assim ela continua a falar...

Do lado de fora o Manoel já esperava na porta como sempre e a Lorena até assustou quando eu desviei. 

- Pra onde você vai sua louca? O Manoel tá ali ó. - sério? nem vi 

- Eu sei, mas eu preciso ver uma coisa, fala pra ele que eu já volto, pode me esperar no carro.                 

- Calma aí, que coisa que você vai ver? Eu vou com você. - Afffffff                                                                            

- Lorena, é rápido, espera aí. - digo com cara de brava e saio antes dela poder responder. 

Cruzo o olhar com algumas meninas no ponto de ônibus do outro lado da rua que me olham com cara de "o que é que essa louca tá aprontando?" e entro no estacionamento que é uma área aberta enoooooorme do lado esquerdo do estúdio. 

Logo no primeiro carro vejo a Giovana no maior amasso com o namorado, da Sarah, nem sinal. Continuo como um cachorrinho de para-choque virando a cabeça para todos os lados procurando obsessivamente pelo Sr. futuroamordaminhavida, a maioria dos carros está vazia, alguns poucos tem alguns pais no celular esperando que o tempo passe, mas, nada dele. Volto ainda procurando pro caso de ter deixado algum carro passar, examino o ponto de ônibus, as lojinhas do outro lado da rua e, nada. Entro no carro e bato a porta com força. Que droga, será que eu demorei demais e ele foi embora? Com quem ele foi embora? Pra quem foi aquele sinal? Abaixo a janela e ignorando a Lorena "Matraca" continuo procurando do lado de fora, insistente que sou, mas não dá em nada. A Lorena desce na rua dela e se despede só do Manoel, provavelmente irritada por ter sido ignorada. Ah que se dane. 

Chego em casa extremamente irada, largo a bolsa no chão, tranco a porta, tiro a roupa e fico só de calcinha, me jogo na cama e fico no celular procurando o 'Deuso' que com certeza não está por ali. Até que pego no sono ainda com o celular na mão. Uma hora depois, mais ou menos, alguém bate na porta. 

- Quem é? - perguntei.

- Sou eu minha menina. - respondeu a Scheila com sua voz doce. Abri a porta só de calcinha e perguntei:

- O que foi? - ela foi entrando com o meu almoço. - O que houve menina? Você não tá com fome?

- Não houve nada, pode sair e levar isso com você.                                                                                                      

- Como assim Nick? Você sempre chega com fome, o que aconteceu? Você tem que se alimentar.          

- Nada Scheila, não aconteceu nada, sai. - dava pra perceber de longe que ela estava preocupada e magoada, pegou a bandeja e já estava na porta, quando eu me dei conta de que estava sendo uma total idiota. - Scheila, volta, desculpa. - e ela voltou sorrindo, me fazendo sentir ainda pior. Colocou a bandeja na cama e sentou pra ouvir a minha história, que eu contei enquanto devorava tudo como se não comesse a anos. Quando eu terminei de falar a Scheila disse: 

- É isso? Você perdeu a fome e ficou nesse mau humor todo por causa de um homem que você viu por dois segundos, não sabe nem o nome e provavelmente nem reparou em você? - a Scheila era uma espécie de segunda mãe, terceira se for contar a minha avó, uma morena gordinha muito bonita, 47 anos, cabelos cacheados, na cintura, olhos negros, que pareciam ver a alma, principalmente, a minha. Ela é dessas pessoas sinceras demaaaaais.     

- É, foi isso. - Disse me sentindo ainda mais idiota. Ela riu. 

- Vou trazer a sobremesa. - pegou a bandeja e saiu me deixando a pensar, como eu fui boba.

AcrediteiWhere stories live. Discover now