Acordei por volta das 08:00, cedo demais. Aperto os olhos e me espreguiço tentando pôr a mente em ordem. Não lembro quando peguei no sono, só que acabei deixando a TV ligada. Levanto e enfio o pé esquerdo dentro do prato que por algum motivo estava no chão ao lado da minha cama mas, milagrosamente, não se quebrou, só espalhou um monte de migalhas de pão. Droga, penso, esse não vai ser um dia bom, não se já comecei assim e hoje não tinha nem o balé pra me tirar de casa e ocupar a minha mente, humpf.
Saio de dentro do prato e recolho a bandeja do chão, coloco-a em cima da minha escrivaninha junto ao meu notbook, alguns pendrives, revistas, meu abajur caído, livros que eu deveria estar lendo, canetas e lápis de todas as cores, fones de ouvido e um esmalte azul aberto, uma verdadeiro caos, e além do mais, eu nem sei o que aqueles esmaltes estavam fazendo ali, eu só pinto as unhas de vida em vida porque acho um verdadeiro saco, borro todos os dedos, me sujo tosa, assim que termino, o meu corpo inteiro resolve me dar uma amostra de como seria estar infestado de pulgas e lá vou eu borrar tudo outra vez, enfim, com muito sacrifício termino e no dia seguinte já está descascando, como eu disse, um saco. Mas mesmo assim, olho pras minhas unhas só pra conferir, nada, eu não sabia mesmo o que ele estava fazendo ali resolvo ignorá-lo, ignorar toda aquela bagunça e ir pro banho.
Meu rosto aparenta cansaço extremo apesar de eu não me sentir cansada, respiro fundo, tiro as roupas e vou pra debaixo do chuveiro, o que eu ia fazer o dia inteiro? Ficar no pé da Scheila o dia todo? Internet? Programas de Tv ruins? Ficar vagando de um cômodo para o outro? Boiar na piscina até virar um peixe? Comer até explodir? Tudo isso me pareceria normal em qualquer outro dia, mas hoje especialmente, todas essas opções me pareciam extremamente mórbidas. Respirei fundo mais uma vez com a testa apoiada ao ladrilho do banheiro, recebendo aquela cascata de água fria na minha cabeça e senti o cheiro da maresia. Loucura, considerando que a praia não estava tão perto assim, sorri e pensei, "Por quê não?" e "Talvez" disse uma vozinha irritante na minha cabeça que insiste em se fazer ouvir em momentos como esse "porque você esteja de castigo." "Ah, que se dane." Respondi-a.
Sai do banheiro e fui procurar um bíquini, aparentemente não era só a minha escrivaninha que estava bagunçada, a minha gaveta, aliás, o meu closet inteiro estava um caos e foi um alívio quando encontrei um. Não era um dos meus preferidos, branco, liso, simples, mas ia ser aquele mesmo. Vesti rapidinho, escovei os cabelos, pus um short e uma blusinha, e peguei a minha bolsa, coloquei minha carteira, protetor, gloss, óculos, parei com o celular na mão por dois segundos cogitando chamar a Maju, ela provavelmente iria ficar muito irritada quando soubesse, mas na verdade eu queria ir sozinha, ela ia entender, guardei o celular na bolsa. Levantei a cabeça e vi a minha cama parecendo um ninho de não sei o quê, meus livros bagunçados nas prateleiras, caídos pelos pufes, haviam um monte de roupas emboladas no sofá da janela e as almofadas e alguns ursinhos de pelúcia estavam no tapete, até os quadros pareciam tortos nas paredes, a penteadeira com as minhas maquiagens, com exceção de alguns batons que estavam em cima dela, era a única que parecia mais ou menos imune ao furacão Nicole, jurei mentalmente que ia arrumar aquilo quando voltasse, tranquei a porta e desci as escadas praticamente correndo.
Não tinha ninguém na cozinha, peguei uma maçã e uma garrafinha de suco, saí e também não vi ninguém no jardim de entrada, desci os degraus de tijolinhos brancos até o portão, atravessei e desci até a garagem onde o Manoel estava encostado ao carro, com o celular na mão.
- Bom dia. - digo sorrindo e mordendo a maçã.
- Nick? Pra onde você vai? - ele pergunta com a expressão confusa, aparentemente ciente do meu castigo.
- À praia. - respondo dando outra mordida na maçã.
- Mas a senhorita não está de castigo?
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Acreditei
RomanceNascida de uma vencedora que hoje é extremamente rica e influente, que me criou sozinha com tudo que o dinheiro pode comprar. Sempre tive tudo que quis desde que eu posso me lembrar, estudei nas melhores escolas, sou fluente em várias línguas e uma...