Amizade...

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Eu já tive um relacionamento sério, uma vez, William. Ficamos juntos por sete meses e eu quase enlouqueci. Não sei lidar com relacionamentos. Tenho pânico. Simplesmente não sei lidar. Uma psicóloga com quem eu me consultava na época, disse que isso se devia ao fato de não ter tido um pai, e de muitas coisas que presenciei. Nunca vi um relacionamento que fosse pleno, completo duradouro e feliz. Não adianta tentar me dizer que isso é normal, porque na minha cabeça não é. As minhas tias e algumas amigas da minha mãe quando brigavam com os maridos se hospedavam na nossa casa, e por diversas vezes presenciei suas discussões e xingamentos, toda aquela coisa suja que ninguém espera quando começa um relacionamento. Traição, violência, hipocrisia, tudo de pior do ser humano. Vi meus avós brigarem, eles até ficaram separados por quase um ano, vi minhas amigas chorarem e uma que quase entrou em depressão e é claro, vi o que a minha mãe sofreu pra me criar. Não financeiramente, mas emocionalmente. Não penso em um relacionamento como algo passageiro pra matar o tempo, eu faço planos, eu quero a vida com a pessoa, me sinto fraca e vulnerável o tempo inteiro, e minha mente cria coisas que me deixam em pânico. 

Posso até ver a minha filha no jardim de infância no meio de uma rodinha em que os amiguinhos ao redor disparam: "Você não tem pai?", "Coitadinha", "Por que o seu pai foi embora, ele não gosta de você?", "Mas ele não te liga?", "O que você vai fazer no dia dos pais se não tem um?". Eu ouvi tudo isso e embora saiba que não foi por mau e que as crianças muitas vezes são bichos cruéis, doeu e pelo visto me marcou muito. E foi assim com o William, no começo foi tudo maravilhoso, claro. Almas gêmeas que se encontram, blá, blá, blá... Ele foi o meu primeiro amor, o meu primeiro em quase tudo, e depois de um tempo tudo mudou. Ele tinha cansado e arrumado outra, fim de história. Chorei por meses e depois disso, nunca mais me apaixonei por ninguém.

 Tive um casinho com um e outro, mas nunca chegou a nada sério. E agora aqui deitada na cama do Di, sentindo seu cheiro, seu corpo quente colado ao meu, com a cabeça no seu peito ouvindo o ritmo suave do seu coração, depois de tudo o que aconteceu, sinto o pânico percorrer-me. Não posso perdê-lo, não quero. Não é algo em que eu possa dizer que não vou me envolver emocionalmente, porque eu já estou envolvida, eu já estava antes disso tudo. Ele está na minha vida a tanto tempo que não posso imaginá-la sem ele que foi mais do que essencial quando o William me deixou aos pedaços. A simples hipótese de nos encontrarmos na rua e desviarmos os rostos me dói, me corta o coração. Ele me aperta um pouco mais em seus braços e eu respiro fundo.

 Ele me aperta um pouco mais em seus braços e eu respiro fundo

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Meu celular toca, mas não me movo. Ele acorda, olha pra mim e sorri, não consigo resistir, sorrio de volta, ele me beija. O celular para e recomeça a tocar, e para e recomeça de novo até que ele se afasta e diz:

- Melhor atender. - e me entrega o telefone.Olhar pro visor me dá um choque de realidade: Mãe.

- Oi mãe.

- FINALMENTE! ONDE É QUE VOCÊ TÁ QUE VOCÊ NÃO TÁ VENDO ESSE TELEFONE TOCAR?

- Calma mãe, eu to com o Di. - respondo afastando o telefone do ouvido, mas ela continua a gritar e o Di dá risada.

AcrediteiWhere stories live. Discover now