"Forçada"

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- Nicole. - Chama a voz fria e entediada que a Rita reserva especialmente para mim. Viro nos calcanhares para olhar pra ela. - Sua mãe já chegou, está no quarto. - Ela fala lentamente e de forma arrastada, o que me dá nos nervos e ela tem plena consciência disso, aliás, acredito, é essa sua intenção. - Ela não quer ser incomodada. - ela conclui por fim e me dá as costas.

- Pera aí. - digo andando até ela. - Que horas ela chegou? O que aconteceu?

- Ela só pediu que eu dissesse isso Nicole. - ela responde e eu sinto vontade de agarra-la pelos ombros e sacudir até ela ficar roxa.

- Onde está a Scheila? - pergunto já indo até a cozinha. Ela me acompanha.

- A Scheila já foi.

- Por quê?

- Isso não é da minha conta. - ela responde. - E nem da sua. - ela completa quase como um sussurro e de súbito eu paro.

- O que é em? Qual o seu problema comigo? - pergunto praticamente berrado, totalmente irada e cansada.

- Problema nenhum senhorita. - ela responde cruzando os braços e me encarando. 

Dou-lhe as costas e volto ao meu quarto mordendo a língua pra não dizer nada, porque, se eu começar, não vou parar tão cedo.

Raiva! É o que eu estou sentindo, mas que caralho! Que palhaçada do inferno era essa?! Bati a porta e joguei a bolsa com toda a minha força no chão, era o que eu queria fazer com aquela estúpida. Respiro fundo. Tudo bem. Mais uma vez. Ok. Ando lentamente até o banheiro e tiro as sandálias e as deixo na porta, o chão está frio, tiro a saia e o colan me concentrando em não rasgá-los. Ponho a banheira pra encher e ouço o meu celular tocar, PORRA! QUE SACO, EU NÃO VOU ATENDER! Ignoro mas ele continua a tocar, para e recomeça, para e recomeça, para e recomeça, insistente assim, só pode ser uma pessoa. Sem me incomodar em pegar toalha volto ao quarto e fico de cócoras pra pegar o telefone na minha bolsa arremessada à porta do closet, remexo tudo e não consigo encontrar, acabo virando a bolsa de ponta cabeça e sacudindo, o celular cai com o visor pra baixo, pego com vontade de arremessá-lo na parede. Olho o visor e, sim, é a Maju.

- Alô. - atendo irritada.

- Até que enfim, achei que não fosse atender nunca, onde é que você tá em? - ela dispara.

- Oi? Escuta aqui, sou eu que tenho que te fazer essa pergunta, onde é que VOCÊ está Maria Júlia, porque até aonde eu sei, você devia estar vindo pra cá. - revido voltando ao banheiro.

-  Ah, isso. - ela diz meio aérea. A banheira já chegou ao seu ponto máximo mas a torneira continua jorrando, droga! Largo o celular na bancada e corro pra desligar, enfio a mão pra puxar a cordinha do ralo e a água transborda, decididamente, não era o meu dia.

- Nick? Você tá me ouvindo?

- Sim. - respondo pegando o celular e colocando no viva voz enquanto enxugo o chão encharcado. - O que você tava dizendo.

- O que você tá fazendo em? - ela pergunta.

- Enxugando o chão do banheiro. - respondo irritada de joelhos torcendo o pano dentro de um balde.

- Por que?

- Ai Maju fala logo pra onde você tá indo de manhã, caralho de tanto mistério. - explodi.

- Ei! Não vem descontar seu estresse em mim não, eu não to fazendo mistério eu já disse, eu não estava passando bem. - ela diz parecendo contrariada.

- Mas eu não ouvi querida, não ouvi! O que você teve? - sinto que não vou terminar de secar esse chão nunca, talvez eu devesse deixar como estava e fazer a Rita ir secar.

AcrediteiWhere stories live. Discover now