Capítulo 3

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[Capítulo revisado]

Quando eu peguei Pilar e Arthur transando na cozinha da casa que era do meu pai, meu mundo cor de rosa desmoronou. A visão de uma família perfeita que meu pai sempre priorizou por mim, se desfez como pó, junto com qualquer sentimento bom que havia em meu coração. Eu me senti perdida como um cachorro que é enganado pelo dono para sair de casa, e acaba sendo abandonado na estrada. Senti tanta raiva, que eu parecia poder ouvir meu sangue borbulhando. E meu desprezo pela Pilar é tanto, que até hoje, a mera menção da palavra mãe é capaz de embrulhar o meu estômago.

E então, a redoma de vidro na qual ele me guardou por tantos anos, deixou de existir quando ele se foi. Quando ele se foi para nunca mais voltar.

~*~*~*~

Por volta das dez horas da noite, Tony e eu fomos com Vivian para a boate.

Enquanto ela atendia os primeiros clientes, Antony tentava me convencer a não me encontrar mais com Ricardo.

— Você sabe muito bem que deve acreditar nos meus pressentimentos, darling.

— Olha, Tony, o Ricardo se contenta com o que eu ofereço para ele, e para mim está bom assim.

Antony sempre teve uma mania de super proteção comigo, principalmente depois que meu pai morreu. Mas eu queria que ele entendesse que não precisava se preocupar. Eu sabia o que estava fazendo.

— Ele se contenta com beijos e amassos por enquanto. E quando ele não se contentar mais, o que você vai fazer?

— Tony, ele sabe que a regra número um é: sem sexo. E outra, quando ele não se contentar mais, é só sair fora.

Ele bufou e revirou os olhos pela quinta vez em menos de dois minutos. E depois, é claro que continuou falando...

Mas a conversa se encerrou quando um homem lindo, alto e de ombros largos, entrou no meu campo de visão. Dei uma ajeitada em meu vestido preto e cruzei as pernas.

Depois de entregar um pedido a Vivian, Ricardo veio até onde eu estava.

— Já bebeu o suficiente para ficar comigo?

Inclinei-me sobre o balcão e falei:

— Para ficar com você eu não devo é beber.

Ricardo sorriu e depois saiu de trás do balcão. Olhei para Antony com um pedido de compreensão... Que me foi negado, pois ele abaixou o olhar e balançou negativamente a cabeça.

Fomos então para a área vip e sentamos em uma das mesas com bancos estofados.

Começamos a nos beijar e, por culpa do Antony, ao invés de me concentrar em nosso amasso, fiquei repassando mentalmente as minhas regras.

Elas eram simples para os outros, mas completamente fundamentais para mim. Nada muito elaborado ou impossível. Na verdade, as regras eram muito mais para mim do que para eles.

Ao me envolver com alguém eu só não queria: Relação sexual. Carinhos, como se fossemos um casal. Nada de pegar na mão ao caminhar. Nada de beijo carinhoso — um beijo deve ser apenas um beijo, e eu sei bem reconhecer quando existe carinho... — Não pensar na possibilidade de um namoro e última, mas não menos importante, é não me relacionar com alguém mais do que uma semana.

Quando pensei em começar a seguir essas regras, imaginei que talvez não fosse possível. Mas, por minha sorte, me enganei. O que é quase impossível hoje em dia é encontrar alguém que queira quebrar essas regras. Bom, tirando a primeira, porque carinhos e relacionamento sério não é muito o quê as pessoas procuram. Mas a última pessoa com a qual me relacionei de verdade foi o Arthur e, desde então, não fui mais capaz de me entregar a outra pessoa.

A última regra não se aplica ao Ricardo, pois por enquanto, ele foi o único que não me pressionou para transar. E até que eu gosto dele. É bonito, consegue me divertir e estou satisfeita com isso.


Quando voltamos para o bar, Ricardo foi para trás do balcão e eu me sentei.

— E aí amiga, perdeu o jeito? — Vivi apontou para a pista de dança, mostrando Tony dançando com um homem.

— Olha para o meu rostinho de satisfeita. O que acha?

Ficamos conversando enquanto bebíamos, mas Vivi bebia escondido, pois Jorge, o dono, não aceitava que os funcionários bebessem com os clientes.

Antony estava dançando com um bofe na pista de dança, quando de repente, ele aparece nos gritando:

— Meninas!

— O que aconteceu? — perguntamos juntas.

— Olha só quem está ali! — ele apontava para o fundo do salão.

Acompanhamos seu olhar e meus olhos se arregalaram.

Ao ver quem era, bati minha cabeça contra o balcão.

— Que ótimo! Acho que vocês devem me beliscar agora, pois só posso estar em um pesadelo!

— Ah, darling, você só deve ter feito uma abordagem errada...

— Abordagem errada, Tony?! Desde quando isso dá errado? — segurei meus seios com as mãos — Ele nem reparou em mim!

— Você já parou para pensar, Manu, que existem homens decentes e não ordinários, por ai? — perguntou Vivi.

— Se você for continuar falando assim, vou precisar ficar bêbada antes.

— Engraçadinha. — ela me mostrou a língua.

Enquanto isso, Tobias se sentava acompanhado de mais três amigos.

— Vamos lá para cima? — chamei Antony.

— Vão, vão. Tenho que trabalhar. — Vivi jogou nos jogou beijos.

No final da noite, Vivi mandou uma mensagem avisando que estava na hora de irmos embora.

Quando Tony e eu estávamos no último degrau da escada, fui brutalmente puxada para o lado.

— Ei! — protestei.

— Quem é esse cara?

Aproximei-me bem de Ricardo, até poder sentir e muito bem, o forte cheiro de bebida que exalava dele.

— Você sabe que funcionários não devem beber em horário de serviço. E você está fedendo a puro álcool, Ricardo. — dei as costas para ele.

— Darling, vamos embora. — Tony me puxou pelo braço.

— Você é gay? — Ricardo começou a rir ironicamente — Que lindinhos. Sabe Manu, eu sabia que você era oferecida, mas não que atirava para todos os lados! — e sua risada irritante penetrou em meu cérebro.

Anthony tentou se colocar na minha frente, mas o impedi. O fiz segurar minha bolsa e caminhei, devagar, até mais perto de Ricardo.

— O Antony é muito mais homem do que você. — praticamente sussurrei — Então, se não quiser conhecer o meu lado mau, não mexa com os meus amigos.

— Ei! — ele me puxou novamente pelo braço, mas mais forte desta vez — Não dê as costas para mim! Eu ainda não terminei de falar!

— Mas eu já terminei!

Seu hálito era insuportável e as palavras mal saiam completas de sua boca.

Coloquei toda a força que eu ainda tinha, em minha perna direita, e a direcionei com toda a velocidade que pude direto para o meio das pernas de Ricardo.

Ele cambaleou para trás, e assim, pude finalmente dar as costas para ele. Mas, de repente, meu corpo foi arremessado para frente. Meu pé enroscou em algum lugar e, a última coisa que vi, foi uma coluna de gesso.


Por Caminhos Errados Onde histórias criam vida. Descubra agora