Capítulo 27

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Manuela

Abri a boca para gritar um "ai", mas não conseguir emitir nenhum som. Meu tornozelo era a parte do meu corpo que mais doía, e por ele eu queria gritar. Eu ouvia Zeus relinchar, mas no momento estava muito brava com ele. Tentei ficar em pé, aos poucos, temendo que alguma parte do meu corpo não me obedecesse. Me apoiei em uma árvore que estava bem próxima, consegui ficar em pé, mas quando tentei apoiar meu pé direito no chão, urrei de dor.

— Ai! Droga!

Não consegui manter o choro apenas em lágrimas silenciosas. Rolei de dor, deitada de costas para a grama um pouco úmida pelo ar gelado. Eu não sabia se chorava por meu tornozelo pulsar de dor, ou se era por concretizar eu apenas enganei a mim e ao Tobias esse tempo todo, achando que poderíamos ficar juntos.

Eu me sentia como se tivesse caído em um abismo, e teria que permanecer nele pela eternidade.

Zeus não parava de relinchar ao meu lado. Ele começou a bater as patas no chão, ainda mais forte, no mesmo momento em que eu ouvi uma freada de carro.

— Manuela! — um grito cheio de pavor preencheu a noite escura.

Eu não queria, mas meu teimoso corpo precisou se mexer em direção aquela voz. Eu sei que não deveria, mas assim que vi Tobias correndo em minha direção, meu corpo se acendeu como se ansiasse por sua presença.

Ele se jogou ao meu lado, e se inclinou sobre mim. Virei o rosto não querendo que ele visse meus olhos, provavelmente, inchados pelo tanto que eu já havia chorado.

Ele começou a beijar meu rosto e a acariciar meus cabelos, braços, e tudo mais que ele pudesse tocar. Engoli em seco, falhando em não permitir que meu corpo reagisse ao seu toque tão desesperado.

— Que susto você me deu... — ele sussurrou — O que aconteceu?

Sua voz transbordava preocupação.

— Eu caí do cavalo. — murmurei — Literalmente.

Eu poderia rir, poderia mesmo. Se o ímã que Tobias possui em seu corpo, não tivesse feito meu olhar encontrar com o seu. Aquele tom de mel que reluzia para o verde, havia se tornado órbitas negras. O v formado em sua testa era tão profundo que parecia doer nele. Era isso, ou realmente havia dor em seu semblante.

— Sente dor em algum lugar? Consegue se mexer?

— Meu tornozelo. Acho que torci.

Tobias desceu a mão pela minha perna, sobre a calça jeans e, quando parou em meu tornozelo, me contraí.

— É, torceu. Mais algum lugar? — olhei em seus olhos e neguei com um balançar fraco de cabeça — Você está chorando de dor, Manuela. Tem certeza que é só o tornozelo?

— Meu corpo inteiro dói. Como se Zeus tivesse passado por cima de mim umas duzentas vezes. — sua feição ficou aterrorizada.

— Mas graças a Deus você consegue se mexer. Poderia ter quebrado a coluna.

Estremeci.

Fiz menção de me levantar, mas mais rápido do que um piscar de olhos, Tobias passou os braço por mim e me ergueu em seu colo.

— Você não precisa se preocupar comigo. — falei com frieza.

— Como assim não preciso?

— Eu tenho que ir embora, Tobias.

— Você não pode ir embora agora. — ele pareceu rir, meio sem jeito e o v em sua testa se aprofundou ainda mais, se é que era possível. — Ficou maluca?

Por Caminhos Errados Onde histórias criam vida. Descubra agora