Por Caminhos Errados

Capítulo 24

Manuela

Como não acordar sorrindo depois de ter sido pedida em namoro por um homem como o Tobias?

Sim, estou agindo como uma boba apaixonada, porque sim, estou apaixonada! Ele me faz tão bem e resolvi, depois de tanto tempo, me permitir sentir isso.

— Pode me contar tudo, garota! Detalhe por detalhe! Quero saber até quantas respiradas você deu antes de dizer que aceitava namorar com ele!

Vivi entrou no quarto, seguida, obviamente, por Tony e um balde de pipoca.

— Vamos lá, darling. Não aguento mais de ansiedade!

Contei todos os mínimos detalhes para os meus dois melhores amigos, as duas únicas pessoas no mundo que sabiam de todos os meus segredos e de todo meu passado sombrio e doloroso.

Depois de muita pipoca, suco e chocolate, acabamos dormindo, os três na minha cama. No outro dia, de manhã, Anthony foi tomar banho para ir trabalhar — já que eu estava lindamente de férias do serviço — e Vivi foi embora pra casa.

Tobias teve que viajar às pressas para tentar salvar uma festa em que o fotografo simplesmente havia desaparecido. Então, resolvi colocar meu short surrado e ir para meu ateliê, fazer o que Tobias não me deixou terminar no outro dia.

Assim que desci do carro, fiquei algum tempo parada olhando para a minha antiga casa. Lembrando de quando eu era pequena, e corria por todo esse gramado, brincando com meu pai.

Respirei fundo e sorri, agradecendo por ainda ter essas lembranças tão vivas dentro de mim. Mas meu sorri logo se foi, assim vi Pilar e aquele novo namorado dela, saindo pela porta da frente da casa do meu pai!

O que será que essa mulher tem na cabeça? Será que ela não sente nada por ninguém? Não sente ao menos compaixão pelo homem que sempre fez e foi tudo o que ela precisava? Não tem respeito por mim?! Eu sou a vítima nessa merda toda! Ela não deveria estar se divertindo enquanto eu sofro calada!

— Filha! Precisamos conversar...

Respirei fundo, pois senti que já estava começando a faltar oxigênio no meu cérebro.

— Não me chame de filha. — falei da forma mais calma que pude — E não temos nada sobre o que conversar.

— Amor, acho que já está na hora de lidar com ela. A garota precisa crescer e deixar de ser mimada.

Ouvi aquele marmanjo sussurrando para Pilar.

— E quem é você? — me virei para encará-los — Ah não, já sei. Deve ser mais um imbecil. Parabéns, vocês dois se merecem! — bati palmas de forma exagerada.

Ele veio para cima de mim como se fosse pegar em meu braço e me dar uma bronca. Mas, antes que ele pudesse encostar aquelas mãos nojentas em mim, chutei o meio de suas pernas com toda a força que pude.

Ele caiu de joelhos no chão, e eu sorri.

— Vê se ao menos mantém esses nojentos com quem você sai, afastados de mim e da casa do meu pai.

— Manuela! — ela deu uma corridinha atrás de mim antes que eu pudesse fechar a porta do ateliê — Precisamos conversar sobre a casa.

A herança que meu pai deixou não foi muito complexa. Ele deixou para que o advogado da família — que era de sua total confiança — vender a parte dele na empresa de alimentos em que era sócio e colocar o dinheiro em uma conta em meu nome. A casa ficou para minha mãe. Ele nunca me disse, mas, por mais que meu pai via em nós uma família perfeita, acho que ele desconfiava que minha mãe não fosse fiel a ele. E como meu pai sempre quis passar para mim a visão do mundo ser um conto de fadas, ele suportou tudo. Meu pai suportou tudo por mim, e por isso a saudade é tão insuportável.