Prólogo

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Se eu pudesse mudar algo em minha vida, escolheria nunca ter visto aquela cena. Sei que teria acontecido do mesmo jeito, mas, pelo menos, aquela imagem não ficaria se repetindo na minha mente a cada segundo.

Dói muito. Pois a traição só é uma traição, porque vem de quem menos esperamos.

Mas a dor pode amenizar quando você resolve se desligar de tudo que te prende a ela. E foi exatamente isso que eu resolvi fazer.

****

Meu último dia na faculdade, e tudo o que eu mais queria era sair para comemorar com meus amigos. Porém, meu lindo namorado resolveu adoecer justo hoje, e agora terei que ser uma boa namorada e ir ficar com ele, mesmo ele dizendo que não precisava.

- Você não vem Manuela? - perguntou Maria, uma das garotas que me ajudou a organizar a comemoração.

- Infelizmente, não vou poder. - falei, quase choramingando - O Arthur está doente... Vou lá fazer meu papel de boa namorada. - ri, levantando os ombros.

- Ah, que pena! Mas caso ele melhore, passem lá no bar!

- Pode deixar!

Entrei em meu carro e liguei para Vivian.

- Oi amiga.

- Vivi, o Arthur está doente! Não vou poder ir hoje, vou ir até a casa dele...

- Você está de brincadeira comigo, Manu!

- Juro que eu queria estar. Mas talvez isso seja algum tipo de aviso, sei lá. Você sabe que estou querendo conversar sério com a minha mãe já faz um tempo, e acho que deve ser hoje!

- Mas você vai conversar com ela agora?

- Não, só vou passar em casa para me trocar e vou deixar um bilhete avisando que a noite nós duas iremos conversar. Aí depois, eu vou para a casa do Arthur. Ele acha que eu ainda estou na faculdade, então farei uma surpresa.

- Entendi. - ouvi seu suspiro - Então eu também não vou a essa comemoração. Vou ligar para o Tony e avisá-lo.

- Faça isso, amiga. Depois ligo para vocês. Beijos.

Assim que desliguei, coloquei It's Time para tocar e batuquei as primeiras batidas no volante.

Então é isso. Enquanto meus amigos estavam pulando de alegria, marcando de beber e tirando no cara ou coroa para ver quem terá que ser o motorista da noite, eu, a pessoa que começou a organizar toda a farra, estava indo para casa, pois como diz a música: "É hora de construir a partir do fundo do poço". Creio que há alguns meses, o fundo do poço seja a minha própria casa, então... Talvez seja hora de começar a reconstruir.

Minha relação com a minha mãe nunca foi um mar de rosas, principalmente nos últimos quatro meses. Mas pelo meu pai, resolvi ignorar tudo o que ela já fez e todas as nossas brigas. Eu queria tentar... Antes que meu cérebro me convencesse do contrário.

Assim que entrei em casa, joguei minha bolsa em nosso enorme sofá branco e deixei um bilhete ao lado do telefone. Caminhei até a porta de vidro que dava para a cozinha, notando um movimento do outro lado.

- Mãe? - chamei - Achei que a senhora não estaria em casa agora...

No instante em que abri a porta e entrei na cozinha. Meu mundo parou. E ouso dizer que meu coração também parecia ter parado.

Minha mãe estava em cima do balcão da nossa cozinha, com seu vestido erguido até a altura de sua cintura.

Ela tentou se arrumar, parecendo desesperada. Depois me encarou com o semblante de completo susto.

Por Caminhos Errados Onde histórias criam vida. Descubra agora