Capítulo 35

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Tobias

Nunca mais vou me esquecer daquele olhar.

O desespero estampado em seu rosto quando ela concluiu que o quadro com a pintura dela e do pai, poderia estar com a mãe.

Quando consegui carregar ela para dentro do ateliê e fechar a porta, eu me deparei com uma Manuela que eu ainda não conhecia.

Ela parecia perdida nos próprios pensamentos, nas próprias lembranças. Parecia estar sendo consumida por um sentimento que a devorava da pior forma possível.

Ela me olhava, mas não parecia me enxergar.

Me assustei quando ela gargalhou em meio as lágrimas. Meu coração quis se alegrar, achando por um segundo, que ela estava melhor. Mas não durou mais do que isso porque, no segundo seguinte, ela pegou uma lata de tinta de cima da mesa e a arremessou contra a parede.

Ela não pareceu se importar quando metade ta tinta voltou em seu rosto e corpo. E, antes que eu conseguisse impedi-la, outra lata de tinta teve o mesmo destino.

Eu queria ter gritado seu nome para que ela parasse com aquilo, mas minha voz não saiu.

Então a agarrei o mais forte que pude. Prendi seu corpo contra o meu e percebi o quanto ela tremia. Seu choro se tornou angustiante, desesperador. Ela agarrou minha camisa e começou a esmurrar meu peito e braços.

Deixei que ela fizesse aquilo, mas não a soltei. Sua força não era o suficiente para me machucar, mas seu choro sim. Seu desespero estava acabando comigo.

Aos poucos seu corpo foi parando de se debater e o choro foi diminuindo. Eu pensei que ela tinha se acalmado, mas estava completamente errado.

— Manuela? — murmurei.

E quando ela me encarou, eu soube.

Eu nunca mais me esqueceria daquele olhar.

Por Caminhos Errados Onde histórias criam vida. Descubra agora