Capítulo 34

3.1K 317 22
                                    

Manuela

Escutei Tobias fechar a porta, mas não tive coragem de virar para encará-lo. Apenas sentia sua presença, seu calor, atrás de mim.

Eu já tinha exposto praticamente toda a minha vida para ele. Ele conhecia minhas dores e alguns dos meus medos e, talvez, pensasse que soubesse tudo ao meu respeito.

Mas, estando diante do que fiz com meu ateliê, uma das coisas mais importantes pra mim, talvez ele entendesse o porquê não pode estar na minha vida.

Ele deu alguns passos, ficando de costas para mim.

— Sou ou não sou uma artista?

Caçoei, referindo-me ao estrago que havia feito.

Ele se virou e, antes de me encarar, se aproximou.

— O que deixou você assim?

— Nada de mais. Eu estava de TPM.

Ri. As sobrancelhas dele se uniram em um semblante que não tinha vestígio algum de graça.

Me afastei, indo em direção ao quadro.

Assim que encostei na pequena estante, percebi o quanto estava tremendo. Minha visão ainda estava um pouco atordoada e, com as lágrimas que se formaram em meus olhos, tudo só piorou.

Tentei respirar fundo, mas senti falta do ar enchendo meus pulmões.

Respira. Respira. Pega o quadro e vai embora.

Abri a porta e, quando estiquei a mão para pegar o pano preto e o que ele cobria, percebi algo de errado.

Meu coração começou a palpitar.

— O que aconteceu?

Tobias se aproximou de mim num picar de olhos. Só então percebi que com uma mão eu segurava o pano preto e com a outra, meu coração.

— O quadro. — murmurei assombrada.

Com o semblante assustado, Tobias começou a procurar onde seus olhos podiam enxergar.

Com o pânico tomando conta de mim, passei por ele e corri para fora do ateliê, parando apenas para esmurrar a porta.

— DEVOLVE!!!

Eu gritava desesperada, até que Tobias me agarrou por trás, prendendo meus braços.

— Ela não está em casa, Manuela, esqueceu! Fica calma!

— Eu não quero ficar calma! — tentei me soltar — DESGRAÇADA!

Minha garganta ardia. Meu corpo inteiro ardia.

— DEVOLVE MEU QUADRO!

— Por favor, me escuta!

Mesmo eu relutando ao máximo, Tobias conseguiu me levar de volta para o meu ateliê destruído e fechar a porta.

— Como você sabe que está com ela? — sua voz estava ofegante.

Ri de forma irônica. Meu corpo inteiro tremia.

— Porque minha mãe simplesmente me odeia e faz tudo que pode para acabar com a minha vida!

Aquelas palavras foram tão pesadas, que meu peito doeu de verdade.

Passei as mãos pelo rosto e pelo cabelo, e olhei para Tobias sem realmente enxergá-lo.

— Se ela destruiu, se ela... — o que ela poderia ter feito com meu quadro me causou um pânico indescritível.

É o meu pai. Minha lembrança. Nossos momentos. Só nossos.

De repente, uma gargalhada irrompeu da minha garganta sem que eu pudesse impedir. Quando avistei uma lata de tinta azul pela metade em cima da mesa, a peguei nas mãos e a arremessei o mais forte que pude em direção a parede.

E então, eu desmoronei.

Por Caminhos Errados Onde histórias criam vida. Descubra agora