Por Caminhos Errados

Capítulo 21

[capítulo atualizado]

Tobias

Eu ter saído da casa dela andando normalmente, não significa que estou normal. Essa garota mexe comigo de todas as formas possíveis. O jeito dela me deixa louco, não me dando escolhas a não ser sempre agir no impulso quando estou perto dela.

— Não vou ficar discutindo com você sobre isso, Alice.

— E por que não?

— Porque não tem o que discutir.

Alice Rizzon, minha irmã mais nova, dona de grande parte do meu coração e também de uma personalidade indiscutível. Meu pai, minha mãe e eu, sempre acabávamos fazendo o que ela queria.

Ela estava me ligando fazia duas semanas consecutivas para que eu não me esquecesse de seu chá de bebe; já que havia entrado em seu sétimo mês de gravidez. E, conversa vai, conversa vem, acabei mencionando que conheci uma garota...

— Então ao menos traga ela para o chá de bebê!

Respirei fundo.

— Quem sabe, Alice. Aviso você qualquer coisa.

Agora que ela não me deixaria em paz mesmo...

****

Eu estava terminando de colocar os equipamentos no jipe para a sessão de fotos que teria de tarde, quando Manuela saiu de sua casa e, antes de entrar em seu carro, acabou me vendo e atravessou a rua.

— Bom dia, vizinho.

Ela estava vestindo um shorts jeans claro e uma regata branca, e o cabelo preso de qualquer jeito a deixava ainda mais linda.

— Bom dia, vizinha. Como você está?

Ela respirou fundo, como se estivesse inspirando o ar como energia.

— Acordei disposta. Vou começar hoje a continuação daquela pintura.

— Isso é ótimo! Você deve aproveitar essa disposição e colocar a mão na massa. — sorri.

— Você... — ela colocou as mãos para trás — Vai fazer alguma coisa hoje?

— Tenho uma sessão de fotos mais tarde. Por quê?

— Não é nada, só que... Sei lá, talvez você quisesse me fazer companhia. Mas como já tem compromisso, não se preocupe. — ela sorriu e foi se afastando.

Lembrei de quando ela disse que aquele era o lugar dela. E que, agora, ela estava querendo que eu fizesse parte. Eu jamais poderia negar isso.

— Eu vou. — minha resposta a fez sorrir — Como disse, a sessão de fotos é só mais tarde. Posso ir para lá com você e, quem sabe, depois você possa ir comigo para fazer parte de algumas fotos, já que Ada outra vez não deu. Assim, você conhece um pouco do que eu faço. O que acha?

Ela pareceu surpresa.

— Quer que eu vá para o seu trabalho com você?

— Tecnicamente, você irá conhecer apenas o meu trabalho, já que o local será uma praça pública.

Ela sorriu, olhou para os lados e voltou seu olhar para mim, e isso me fez sorrir também.

— Então eu vou.

Como isso pode ser possível? Em tão pouco tempo, ela já ocupar meus pensamentos como se os comandasse. Como se já estivesse em minha vida há tempos. Como se eu já a conhecesse como realmente gostaria. Mas o que mais me deixa intrigado é que, mesmo ela tendo compartilhado a dor da perda de seu pai, sinto que existe um abismo entre nós. Não exatamente entre ela e eu, mas entre ela e qualquer coisa que ameace fazê-la feliz.

E percebo em seu olhar, que esse abismo tomou conta de seu coração. O modo como ela me contou de seu pai, parecia esconder uma dor muito maior do que a que ela estava me contando. E agora, enquanto ela me olhava de uma maneira em que parece que o tempo parou, sinto ainda mais vontade de conhecer a Manuela que existe por detrás desse sorriso encantador.

Ela me disse alguma coisa, mas como eu estava em estado de transe por causa de seu sorriso, acabei não compreendendo.

— O que disse?

Ela riu de mim.

— Perguntei se vamos no mesmo carro ou cada um com o seu.

— Vem você comigo. Meus equipamentos já estão no jipe.

Ela esfregou as mãos e deu um soco de leve em meu braço.

— Vou pegar minha bolsa.

Ela me deu as costas e, sem pensar, peguei em seu braço e a fiz me olhar novamente.

— Manuela... Sobre ontem, eu queria falar que...

— Tudo bem, Tobias. Isso acontece, não é mesmo?

Ela parecia sem jeito.

— É...

Foi o que eu consegui dizer, ou no caso, murmurar. Eu me sinto fraco perto dela, mas não de um jeito ruim. É como se a Manuela me deixasse fora de meus pensamentos normais.