Chocólatras Anônimos - 3

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PARTE 3 — F*DA-SE A DINÂMICA DO GRUPO

Já estava anoitecendo quando estacionamos na chácara atrás dos familiares carros de Lipe e Lucas. Henrique roubou um último beijo e me disse que tinha uma surpresa para mim naquela noite. Então, ele foi embora não dando nenhuma outra dica do que pudesse ser, deixando tudo para a minha imaginação pervertida.

Os outros já tinham chegado havia um tempo. Mônica e Brigitte estavam tomando sol ao redor da piscina. Lucas estava no canto do jardim, aos beijos com sua mais nova garota (pelo que eu me lembrava, o nome dela era Aline).

Lipe estava conversando com Henrique quando eu saí do carro. Meu coração deu um salto. Era tão errado ver os dois no mesmo lugar. Parecia uma falha na Matrix. Eu sabia que eles eram melhores amigos e que, teoricamente, deviam se encontrar o tempo todo... Mas o que os olhos não veem o coração não sente. Quando eles estavam separados, era bem mais fácil esquecer que eu estava fazendo uma coisa errada provavelmente para nós três e que aquilo tudo, com muita certeza, acabaria da pior maneira possível.

Ao me ver, Lipe parou o que estava falando abruptamente e sorriu para mim. Eu sorri de volta de forma automática.

— Você está jogando um jogo perigoso — uma voz disse ao meu lado, me fazendo pular de susto.

Revirei os olhos e deu um tapa no braço de Letícia, que apenas riu da minha cara.

— Não faz isso, por favor — choraminguei. — Cara, por que você não me avisou que isso ia acontecer?!

— O quê, dona Catharina? Que seus amigos prestativos iam planejar uma festa de páscoa só pra você? — ela ergueu as sobrancelhas ironicamente, me desafiando a desafiá-la.

— Não, isso foi fofo, mas, Letícia... — abaixei a voz, olhando ao redor. — Letícia, o Henrique e o Lipe. No mesmo lugar. Isso não vai dar certo, merda. Não vai dar certo!

— Na melhor das hipóteses, você vai ter o menàge dos seus sonhos — ela sugeriu, rindo.

Olhei para ela, desesperada. Ela estava brincando, mas não fazia ideia do que estava em jogo naquele momento.

— E na pior das hipóteses... — comecei.

Olhei para Lipe e Henrique, que agora estavam rindo de alguma piada. Eles eram tão lindos e tão... tão meus. Era injusto que eu precisasse escolher. Eu não queria escolher. Eu queria o melhor dos dois mundos. Eu queria a pegada do Henrique e a sensibilidade do Lipe. Eu queria que eles se unissem em uma espécie de megazord e formassem o homem perfeito para mim.

— Na pior das hipóteses, eu perco os dois — suspirei.

— Um não sabe sobre o outro? — ela seguiu o meu olhar.

Claro que eles não sabiam, era só olhar para eles. Eles nunca interagiriam daquele jeito, como dois melhores amigos, se um soubesse sobre o outro. Ou se sequer suspeitassem. Ele não estariam rindo juntos, talvez não estivessem nem conversando civilizadamente. Definitivamente não teriam planejado um final de semana em uma chácara reclusa com os amigos.

— Não — balancei a cabeça. — Eles não fazem ideia. E eu... Eu sou terrível, Letícia. E eu tô tão ferrada se eles descobrirem!

Ela soltou uma risada anasalada e me abraçou de lado, encostando a cabeça na minha.

— Bem feito para ele por serem tão garotos. Qual é o problema de falar dos sentimentos? Eles não são melhores amigos, porra? Se fossem pessoas normais, como nós, os dois já estariam sabendo disso tudo há muito tempo, e poderíamos evitar essa bagunça toda. Mas não, eles são "muito machos" e macho não compartilha experiência sentimental, claro, porque senão eles viram gays. Porque é assim que sexualidade funciona, né? Por favor. Século XXI manda beijos. Eles se enfiaram nesse buraco tanto quanto você, Cat. Não fique aí se martirizando. Tá? — ela girou a cabeça lentamente até ver meu rosto e piscou para mim.

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