No final das contas - Parte 02

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– Acho que seu ex namorado acabou de entrar pela porta.

Eu fiz menção de virar para ver, mas Pedro agarrou minha mão.

— Cruzes garota, NÃO OLHA AGORA porque ele tá olhando pra cá. Lontra... Ele está com uma mulher.

— Claro que ele está com uma mulher – eu respondi, dando de ombros, sentindo meu coração apertar no fundo do meu peito. – É loira ou morena?

A menina com quem eu flagrei ele me traindo era loira. Um mês mais tarde encontrei com ele na rua (encontrei não é uma boa palavra. O vi a distância e entrei numa loja antes de precisar cruzar com ele) e ele estava com uma morena.

— Ruiva – Pedro respondeu.

— Nossa.

— Pode ser a mesma menina... Ela só pode gostar de mudar a cor do cabelo. – Pedro tentou consolar.

— Claro, Pedro.

Para mim tanto fazia, na verdade. O cabelo da menina podia ser verde, azul, roxo, vermelho, da cor do maldito arco íris inteiro. Meu problema não era a mulher com quem Gregório estava. Inclusive, pobre coitada. Meu problema ainda era com Gregório e com a maneira que ele me fazia sentir.

Não era amor, claro que não. Como poderia ser amor depois de tanta mágoa? Mágoa. Era mágoa mesmo. Era tristeza de confiar tanto da sua vida a alguém para depois ver tudo ir por água abaixo da pior maneira. Era tristeza de lembrar de momentos gostosos, de juras de amor e de planos para o futuro que não existem mais. Era tristeza de saber que entreguei meu coração na mão de alguém que não fazia nem ideia do que fazer com ele.

Tanto não sabia que deixou cair no chão.

Eu ainda estava catando os pedaços.

— Pode olhar agora, mas seja discreta – Pedro disse. – E Lontra... Ele sentou na sua zona de atendimento.

— Maravilha – respondi, virando-me para encará-lo.

Fazia um tempo que não o via. Um mês, talvez? Se eu contar a vez que o encontrei na rua com a morena, um pouco menos. Não sei se esperava alguma coisa diferente. Talvez esperasse algum sinal de arrependimento. Não. Ele estava exatamente como sempre. O sorriso ainda preenchia quase todo seu rosto, deixando os olhos pequenos e criando ruguinhas. Não que eu estivesse reparando propositalmente. Mas é que eu conhecia tudo aquilo bem demais para não reparar.

— Para mim já chega! – um grito invadiu o salão.

Eu desviei meu olhar de Gregório e encarei a confusão. Dani estava jogando o avental no chão, na frente da mesa dos garotos, gritando meia dúzia de palavrões e dizendo que estava fora. Ela veio caminhando enfurecida na nossa direção, mas quando chegou perto de nós, deu um sorriso simpático e disse, com uma voz calma:

— Não aguento mais esse assédio diário. Preciso tirar férias. E se Davi não me der, vou me demitir. Amanhã eu volto para conversarmos sobre isso. Vou aproveitar o resto do dia dos namorados da maneira devida.

Da mesma maneira enfurecida que chegou, ela partiu, passando pela porta com o nariz empinado e deixando um legado de mesas esperando por atendimento.

Pelo meu atendimento, visto que éramos as duas únicas garçonetes do pub do Brownie.

Inclusive, a mesa 15, recentemente ocupada pelo meu ex-namorado estava querendo atendimento. Ou isso, ou ele estava acenando para mim. Há, até parece.

— E agora, Pedro? – perguntei, sem saber o que fazer.

— Já estou ligando para... Oi, Davi? Então, desculpa atrapalhar seu jantar de dia dos namorados, mas temos um probleminha...

Nossos 12 mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora