Carnis Levale - 3

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Bem vinda ao meu pesadelo.
(A Hora do Pesadelo)

Era uma casa de dois andares. As paredes de pedra, escurecidas pela ação do tempo, contrastavam com as molduras das janelas que um dia haviam sido brancas.

Nós estacionamos o carro na lateral do terreno e, sob a chuva torrencial, corremos até a varanda da pousada. Era de se esperar que nada pudesse se fazer ouvir em meio às descargas elétricas despejadas pelo céu, no entanto, quando tocamos a campainha o som ecoou alto e forte, sobrepujando o barulho da tempestade.

Não demorou muito até que ouvíssemos o clique das fechaduras, uma a uma, abrindo-se. Não sei se devido à conversa que estávamos tendo anteriormente ou, quem sabe, o clima tempestuoso já bastara para incutir um humor paranoico em minha mente, mas não pude deixar de ponderar o porquê de tantas trancas em um local tão remoto e de difícil acesso.

Meus receios irracionais, porém, não tiveram tempo para florescer na forma de palavras ou ações pois, antes houvéssemos nos preparado psicologicamente para o que encontraríamos naquele lugar, a porta se abriu.

O homem que surgiu na entrada da residência era alto e magro, vestindo-se inteiramente de preto. Ele trajava blusa e calça sociais e seus olhos combinavam com o tom de suas vestes. As feições eram enigmáticas, o que tornava difícil de adivinhar sua idade ou suas emoções.

- Boa noite. - ele desejou em uma voz profunda, tão desprovida de sentimentos quanto suas expressões - Bem vindos à mansão Verus.

**

Octavius, que se apresentou logo após saudar-nos, utilizou um guarda-chuva indescritivelmente amplo para nos ajudar a recuperar nossas bagagens no veículo. Para um homem tão magro, ele era surpreendentemente forte, e carregou sozinho boa parte dos nossos pertences.

- Em qual nome está a reserva? - perguntou quando todas as malas estavam devidamente seguras da chuva, no hall de entrada.

Nicolas caminhou junto a ele até a recepção, uma mesa de mogno localizada ao lado da escadaria principal que parecia pequena para acomodar alguém tão alto quanto Octavius, para realizar nosso check-in.

- E aí, o que achou? - Flora gesticulou, abarcando o cômodo ao nosso redor com um gesto amplo - Melhor presente de aniversário da vida?

Observei o ambiente pela primeira vez desde que havíamos entrado ali. As paredes, cujo papel já se mostrava ligeiramente amarelado, contavam com intrincados desenhos em tom de vinho e os quadros que as enfeitavam retratavam paisagens remotas e cenas tempestuosas como o clima que nos cercava. Por fim, o carpete de um marrom avermelhado e os móveis de tonalidades escuras finalizavam o atmosfera sombria.

Era maravilhoso.

- Como vocês encontraram esse lugar? - perguntei, impressionada.

Flora me enviou um sorriso presunçoso.

- Horas e horas de pesquisa. - respondeu, feliz.

Fui incapaz de conter meu sorriso.

- É esplêndido. - respondi, mesmo sabendo que aquela revelação faria o ego da minha amiga flutuar até as alturas.

Como estudante de cinema e, mais do que isso, como grande apreciadora de obras de suspense e ação, estar em um lugar como aquele era como entrar no cenário de um filme.

Enquanto eu e Flora conversávamos, Nicolas terminou de nos registrar. Assim que meu amigo assinou o último dos papéis, Octavius ergueu-se da mesa de mogno e olhou para nós três com um sorriso de prazer em seus lábios.

Nossos 12 mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora