Cinco - Parte 6

1K 189 11
                                    



5/5/2011

Sabe quando você não quer ir pra um lugar, mas todas as pessoas do seu convívio social te forçaram a isso, e aí quando você viu não tinha mais jeito?

Era eu naquele domingo.

Minhas amigas da faculdade de jornalismo tinham praticamente me arrastado pra uma cervejada de outra universidade, e agora eu estava morrendo de tédio. Não havia nada mais sem graça no mundo pra mim do que um monte de gente enchendo a cara ao som de sertanejo universitário, e os níveis musicais naquela festa estavam me incomodando pra caramba. Pra ajudar, minhas duas supostas amigas já tinham me esquecido e estavam nesse momento engraçadas com caras aleatórios, me deixando à deriva.

Maravilhoso.

O negócio era mesmo encher a cara. Não havia solução. Eu ia beber umas cervejas, aguentar mais uma horinha, depois ia procurar um jeito de dar o fora dali.

A festa estava acontecendo na casa de deus sabe quem, num lugar relativamente afastado do centro da cidade. A casa em si estava fechada, nos limitando ao espaço do enorme quintal, da piscina e da área da churrasqueira. Não que tivesse algum churrasco. Ou coisas pra comer. Se resumia a pinga e mais pinga, o que deixava as minhas opções um pouco limitadas.

Os coolers enormes e cheios de cerveja estavam todos na região da churrasqueira, então fui até lá. Eu daria meu braço esquerdo por um pouco de coca-cola, mas como opções não alcoólicas não estavam disponíveis, tive que me contentar com uma garrafinha de Smirnoff Ice. Peguei uma e tentei abri-la, sem sucesso. A tampinha parecia colada.

Enrolei os dedos na minha blusa e tentei mais uma vez. Não fez a menor diferença. Mas que merda, nem beber nessa festa eu ia conseguir?

- Quer ajuda? – alguém ofereceu.

Eu estava pronta pra dizer pro cara bêbado que não, eu não queria ajuda, porque eu preferia morrer de sede a ter que conversar com qualquer um naquela festa. Mas quando me virei, a resposta seca e torta já na ponta da língua, me calei. Porque não era um bêbado qualquer, e muito menos um cara.

Era a menina mais linda que eu já tinha visto.

Ela não era muito alta – talvez uns cinco centímetros maior que eu – mas a magreza a fazia parecer de certa forma mais comprida. O cabelo louro escuro estava cortado bem rende à cabeça, e ela tinha três brincos em uma orelha. Estava com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans e uma camiseta escura, tão magra que não parecia ter seios; mesmo assim, eu sabia que não era um cara, fosse pelas feições mais delicadas, fosse apenas por um instinto maior.

Eu já citei que ela era linda?

Sem esperar que eu respondesse, ela tirou a garrafa das minhas mãos, e fez uma tentativa. Fracassou. Fez uma careta de surpresa, como se não esperasse ser traída pela garrafa.

- Tá difícil mesmo. – disse, me dando vontade de rir.

- Eu vou pegar outra. – falei, já me adiantando pro cooler.

- Não, como assim! Agora é questão de honra! – ela me parou, erguendo a mão na minha direção – Não podemos deixar a garrafa vencer. Só um segundo!

Ela sumiu entre a multidão por alguns minutos, e voltou com a garrafa aberta.

- Pronto. Aí está. – disse, me entregando a bebida.

- Olha só! – aceitei e dei um gole, erguendo a garrafa em sua homenagem – Não vai me contar meu segredo?

- Um grande mágico nunca revela seus truques! – brincou, e nós duas rimos – Ainda mais quando ele inclui um cara que você detesta e um abridor de garrafas.

- Não vou contar pra ninguém. – fingi selar os lábios com os dedos – Quer um gole?

- Não, valeu. Eu não bebo.

- Então o que você veio fazer aqui?

Ela coçou a cabeça e olhou em volta, como se estivesse se fazendo exatamente essa mesma pergunta.

- A minha irmã encheu o saco pra eu vir. A festa é do pessoal do curso dela. – disse, com um meio sorriso embaraçado – Mas aparentemente eu não sou uma companhia muito legal e ela foi procurar alguém mais... interessante.

- Sei. Minhas amigas fizeram a mesma coisa comigo. – foi a minha vez de olhar em volta, praquele monte de gente bêbada curtindo uma festa onde eu não queria estar – Acho que vou embora daqui a pouco. Procurar um táxi ou alguma coisa do gênero.

- Ah, não. Fica. – ela me surpreendeu ao dizer. Estava sorrindo quando a olhei de volta – Eu acabei de te conhecer.

Crispei os lábios, sem saber o que responder. Queria ser o tipo de pessoa que sempre tem a resposta perfeita pronta, mas eu não era muito boa com palavras. Demorei pelo menos um minuto de timidez, entre goles de bebida, pra formular algo bom pra dizer.

- Tudo bem. – falei, por fim – Mas você vai ter que fazer valer a pena.

- Sem problema. É a minha especialidade.

Nossos 12 mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora