Birthdayte - Parte II

2.1K 382 148
                                    

E então é meu aniversário, certo? Certo. Isso quer dizer que eu posso fazer o que eu quiser, inclusive falar para a minha mãe que irei para a aula e.. não ir.

Nem preciso me sentir o pior ser humano de todos os tempos por causa disto, porque na verdade, não existem pecados no seu dia. Uma vez por ano, papai do céu fala "Ei, moça, tá liberado! Pode ser feliz! Não vou nem contar as calorias que você ingerir, divirta-se!", e quem sou eu para contestar uma ordem divina?

Acordei, coloquei meu uniforme e sai de casa às sete e quinze da manhã com minha carteira, celular, fones de ouvido e uma muda de roupas na mochila.

Eu já tinha passado por experiências traumáticas demais para suportar mais um aniversário.

Estava decidido: meu auto-presente deste ano seria não fazer aniversário.

Simples assim.

Eu ignoraria todas as ligações, não interagiria com nenhuma pessoas, faria coisas totalmente ordinárias e não-aniversarísticas, como cortar o cabelo, levar a Afrodite ao petshop para tosar e... e ir ao dentista.

Sim, ir ao dentista.

Afinal, não há nada mais anticlimático do que ter alguém cutucando a sua boca.

Com objetos, eu digo. Não com uma língua.

E para não correr riscos, agendei a consulta com um dentista novo (desconhecido!) que JAMAIS saberia que hoje "é" meu "aniversário".

O problema é que com isso, calculei errado o tempo e acabei chegando lá muito mais cedo do que o horário marcado. Meu relógio de pulso permanentemente dois minutos atrasado indicava que eu ainda tinha mais quinze até a hora certa.

Mas o dia estava lindo, com o céu limpo, azul, pintado por nuvens simpáticas e geométricas, implorando pela minha criatividade para nomeá-las. A brisa batia suave em meu rosto e ameaçava levantar meu vestido azul marinho, enquanto meu uniforme jazia soterrado no fundo da mala.

Escolhi um assento vazio... O mais longe de um grupo de fumantes, e apoiei as duas mãos nas laterais de madeira, inclinando meu tronco para trás para que o sol pudesse beijar toda a extensão da minha pele. Era delicioso.

Acolhedor, confortável, carinhoso.

Tentei observar as nuvens que se moviam preguiçosas e pacíficas, refletindo com perfeição meu estado de espírito, mas a claridade me impedia de encarar por muito tempo.

E então fechei os olhos.

E deixei minha cabeça pender.

E sorri ouvindo o cantar dos passarinhos misturado com os clássicos ruidos da cidade.

A música urbana ia lentamente me embalando em um cochilo.

Mas meu momento durou no máximo três minutos, pois logo ouvi rodinhas de skate arranhando o chão e despertei instantaneamente, irritada com quem quer que fosse que havia me arrancado de meu transe.

E então eu abri os olhos.

E deixei minha cabeça processar o que estava acontecendo.

E sorri com a imagem diante de mim.

Era um menino alto (altíssimo!), com a pele bronzeada, as bochechas levemente coradas, e o cabelo na altura das orelhas, todo bagunçado.

Ele calçava tênis (obviamente, o que mais ele poderia usar para andar de skate por aí?), mas calça e camisa sociais. Tirou da mochila uma corrente e prendeu o carrinho em um poste com todo o cuidado, como se ele fosse uma bicicleta. Guardou a chave no bolso e sentou-se no banco ao meu lado, ignorando minha presença completamente.

Nossos 12 mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora