Chocólatras Anônimos - 2

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PARTE 2 — QUEBRA DE CONTRATO

— Você pode trocar a música se quiser.

— Eu sei, eu só... — Suspirei. Troquei a música para não precisar falar mais nada.

— Você tá muito calada — Henrique observou.

— Desculpa — eu murmurei, me encolhendo mais perto da janela. — Eu só... Desculpa.

Henrique parou no acostamento e ligou o pisca-alerta.

— Catharina... — chamou suavemente. Ao invés de virar minha cabeça na direção dele, eu apenas apertei os olhos. — Catharina — ele insistiu, e dessa vez colocou a mão sobre a minha no banco.

Como sempre acontecia quando Henrique me tocava, um pequeno choque percorreu meus nervos, anestesiando o resto do meu corpo. Respirei fundo e olhei para ele.

— Oi — tentei sorrir.

Ele sorriu de volta de um jeito que só fazia quando eu era a única testemunha e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. As pontas de seus dedos se demoraram na pele da minha bochecha, e eu precisei engolir em seco.

Era ridículo o efeito que Henrique tinha em mim. Era mais ridículo ainda porque ele tinha o mesmo efeito em todas as garotas existentes nesse planeta, e nenhuma garota gosta de se sentir apenas mais uma na multidão.

Quando a gente começou a se beijar escondido, mais ou menos no começo do ano, eu jurei a mim mesma que nunca me apaixonaria por ele. Eu não queria sofrer como as garotas de Henrique sofriam, então eu protegi meu coração contra isso. Ou eu achei que tivesse protegido... Mas, quando ele me tocava daquela maneira, eu sabia que talvez já fosse tarde demais.

Mas daí tinha Lipe, que era o melhor amigo de Henrique e tão completamente diferente dele. Lipe, que era gentil e excessivamente carinhoso, e tinha charmes joviais e covinhas. Lipe, que me fazia rir e me consolava quando eu estava chorosa. Lipe, que era a definição mais pura e clara de "borboletas dançando no estômago". Lipe, meu Lipe, e nosso beijo proibido naquela maldita festa de Carnaval. Lipe, que havia me feito prometer que não iríamos estragar a dinâmica do grupo com um relacionamento sem sentido, mas que havia concordado que um pouco de diversão não faria mal a ninguém.

E como alguém podia se apaixonar por dois caras ao mesmo tempo?

Eu não sei. Até hoje não sei. Quando tento me lembrar do que estava se passando pela minha cabeça naquela época, nada faz muito sentido. Eu não devia ter me apaixonado por nenhum deles, e ainda assim tinha caído de amores pelos dois. Tinha sido sem querer. De repente. De surpresa. Quando dei por mim, já estava enlaçada demais naquele novelo de lã para conseguir escapar. E eu estava ferrada, sabia que estava ferrada.

— O que tá rolando? — Henrique perguntou com a voz rouca. — Por que você tá assim?

— Nada — sacudi a cabeça.

Ele segurou meu queixo.

— Catharina. Não é nada. — Ele apoiou a palma de sua outra mão contra meu rosto em um gesto notadamente gentil demais para ele. — Quando planejamos isso, achamos que você iria ficar bem radiante. Mas você parece estar indo de carona para a própria execução. Se é que isso faz algum sentido.

— Desculpa, Ricky, é só que eu... — Eu estou pegando outro cara além de você. E esse é outro cara é seu melhor amigo. E eu gosto de você, gosto mesmo, gosto mais do que a gente tinha combinado que ia se gostar... Mas eu também gosto dele. Muito. E eu não sei o que fazer, porque no cenário ideal nós três seríamos o mais lindo caso de poliamor... Mas eu sei que você é marrento demais para aceitar algo assim, e o Lipe é ciumento demais, e nada daria certo. E eu estou absolutamente ferrada. — É só que eu estou emocionada com tudo o que vocês fizeram — digo em vez disso, porque, não sei se vocês já notaram, mas eu sou bem covarde. Quer dizer. Não dá para se esperar muito de uma garota que se esconde no apartamento novo com uma garrafa de vinho e uma caixa de bombons por mais de uma semana só para não precisar socializar com estranhos ou encarar o mundo desconhecido de uma cidade nova.

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