Capítulo 4

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            Alguma coisa estava errada. Um calafrio percorreu toda a espinha assim que notou, ainda do começo da rua, a movimentação presente frente à casa. Olhou para o banco do passageiro, o qual acomodava confortavelmente o rapaz; a expressão transtornada não mais tomava seu rosto agora que dormia.

"Algo dentro de si remexia-se incomodado com o fato de ter sido sumariamente deixado de lado. Teve vontade de ficar somente mais alguns minutos, não pela desconsideração do outro – já um bom motivo para tal – mas sim pela maneira como o havia feito.

Diferente do que é natural para si, não quis provocá-lo ou incitá-lo a lhe dar a atenção devida. Só quis observá-lo, amaldiçoando-se por não poder fazê-lo profundamente e agradecendo por não ter tido a oportunidade; precisava se manter forte e continuar com a privação de suas práticas, para isso, o controle de sua imaginação e criatividade era indispensável. Mas sendo ignorado como estava (e detestava), deu-se uma pequena trégua deixando as íris perpassarem sobre o rapaz, buscava entender o que havia lhe causado aquele comportamento tão imprevisto.

Dose atrás de dose; o que queria esquecer? Os traços de seu rosto bem marcados pela expressão perturbada, orbes sem foco, lábios trêmulos que depois de cada gole soltavam com ar dos pulmões com pesar; desgosto por ser quem era, desespero por nem por um segundo conseguir mudar a realidade.

Way conhecia bem a sensação."

- Ei! – Cutucou-o sem muita delicadeza, esperando que acordasse rapidamente. Frank permaneceu imóvel. – Ei, acorda! – Repetiu o gesto, alterando um pouco a voz de maneira autoritária. Desta vez, as íris carameladas se abriram assustadas e logo voltaram a fechar-se com força; a mão direita foi levada à testa automaticamente. A dor era insuportável.

- Alguém apague o sol. – Disse em um grunhido.

- Não tenho esse poder. – Respondeu Gerard, sério.

Até então, Iero não tinha notado onde estava; a mente havia lhe pregado uma peça o fazendo, por um momento, acreditar que tudo era como antes. Mas não teve tempo para sentir o baque da verdade; assim que se situou, examinando rapidamente o veículo em que estava, reparou no homem ao seu lado, já sem máscara, e nas íris esverdeadas que o fitavam.

"- Mais uma – Ordenou assim que entornou o último copo.

- Fui desaconselhado a encher seu copo. – Revelou o barman contrariado, enquanto revirava os olhos sabendo que estava sendo observado.

Iero focou-se em Way que assistia à cena com curiosidade.

- Ele ainda está ali? E agora acha que pode mandar em mim... – Sorriu descrente, o gesto distoando da expressão cansada que se mostrava em seu rosto.

- Acredite, ele acha que pode fazer isso com todo mundo. – Esclareceu enquanto voltava a virar o conteúdo da garrafa no copo de vidro, prevendo o desgosto do outro.

- Então ele sempre é assim? – Confrontou Gerard com o olhar e bebeu com vontade a outra dose.

- Sempre."

Sem ter o que dizer, Frank desviou o olhar do homem mais velho voltando-se para onde estavam e, quebrando de súbito o silêncio, focou-se no lado de fora. As sobrancelhas juntaram-se e a boca se abriu na busca por um rápido entendimento do que ocorria. A mão foi ao rosto automaticamente livrando-se da máscara que ainda o cobria, assim pode ver com mais clareza os três carros de polícia estacionados no jardim.

In The Dark || FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora