Capítulo 3

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A primeira reação de Iero assim que pôs os pés para dentro do local foi olhar para Diana que apenas curvou os lábios vermelhos em um sorriso simples sabendo que caminhava sob a análise das íris carameladas. Não havia necessidade de dizer palavra alguma, sabia que compreenderia sozinho; tinham uma ligação única.

Logo de início, o grande salão ocupado por tantas pessoas causara no rapaz um certo desconforto. Estava acostumado a conviver com aquela sensação de perseguição, apostar em um comportamento defensivo para que não lhe associassem a qualquer problema na cidade – não que adiantasse, porque o faziam, só não havia provas –, e por esse motivo, o temor incorporado a si o fazia rejeitar qualquer evento social.

Mas, como previsto, não demorou para que compreendesse os objetivos de sua amiga e, mais uma vez, se lembrasse do porquê a tinha como uma espécie de luz no fim do túnel. Era assombroso como o conhecia tão bem apesar de todos os anos em que se mantiveram afastados. O ambiente se encarregava de garantir o anonimato de cada alma presente, fosse pela máscara que carregavam em seus rostos, fosse pela pouca luminosidade.

O poder do anonimato. Os corpos entrelaçando-se impudicos na pista de dança, apenas vultos aos olhos dos observadores, misturando-se com as luzes tremeluzentes ao ritmo da música. Obscura e misteriosa, responsável pelo calor que emanava do centro do salão, tornando o ambiente quase impenetrável se não tão convidativo.

Foi então que finalmente Wood voltou seu olhar ao amigo ligeiramente enfeitiçado aproximando seus lábios de seu ouvido.

- Sei que vai gostar daqui...– Afastou-se para encarar Iero deixando um riso desafiador escapar antes de continuar – Você pode ser quem quiser. – Tendo a atenção do rapaz para si, sentiu-se à vontade para puxá-lo pelo braço até a pista de dança.

Focado no rosto de Diana, via seu sorriso mudar de cor tão rápido quanto as palavras cantadas que saiam das caixas tão próximas a si; os corpos ardentes ao seu redor quase em câmera lenta tocando-o sem qualquer permissão ou intenção de pedi-lo. Em questão de segundos não se via mais como um mero observador, estava ali pele a pele com a lascívia, deixando-a envolvê-lo febril e desejosa e quanto mais entregava-se às novas sensações, mais submergia na afrodisia tornando-se parte daquele cenário libidinoso.

Os olhos desfocaram-se da amiga para se perderem na multidão. Algo naquele lugar libertava um sentimento oculto de dentro de si, quase obscuro; uma necessidade avassaladora de se deixar levar pelo desconhecido. Os orbes claros logo foram descobertos por íris negras que se confundiam com a máscara no rosto pálido; o olhar era intenso e demandava atenção. Em qualquer outra circunstância, Iero a teria rejeitado, mas não sentiu como se pudesse ignorá-la.

A garota sorriu assim que o viu se aproximar, deu alguns passos encurtando o espaço e facilitando o encontro, então levou a mão até a nuca de Frank e com delicadeza o trouxe para mais perto de si. A boca encostou de leve em seu ouvido garantindo que seria compreendida:

- Você é novo aqui.

O rapaz naquele momento não soube discernir se a afirmativa dita com tanta segurança era algo bom ou ruim. Mas apesar de se importar em saber o motivo de tal conclusão, foi contemplado mais uma vez com a sensação de ser um completo ninguém. E então que um largo sorriso formou-se em seus lábios e, tomado pelo súbito bem estar, puxou a garota para perto de si.

Sentiu os dedos finos perpassarem sobre o desenho em seu pescoço, não demorando para que o toque fosse substituído por beijos calorosos no local. Os olhos cor de mel passaram a procurar Diana por entre os corpos em movimento, mas a tarefa parecia ser impossível ante as luzes vertiginosas. Um súbito incômodo lhe atingiu em cheio; nunca antes havia se importado em ficar sozinho e apesar de tal sensação lhe parecer ridícula ante a multidão ao seu redor, decidiu que iria procurar Wood.

In The Dark || FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora