Flashback 4- Lindsey

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Estendeu o braço esquerdo para o lado tateando os lençóis bagunçados na cama em busca de Lindsey, só então, depois de não conseguir tocá-la abriu os olhos. Não demorou para vê-la sentada, nua na beirada cama, próxima a seus pés, então, como um efeito automático da visão, a boca curvou-se amplamente. Os movimentos que fez em seguida foram cautelosos, aproximou-se felino por trás postando um beijo no ombro da jovem que contorceu-se de surpresa, rindo baixo.

- Ei, já acordada? – Perguntou de forma carinhosa a envolvendo em seus braços e, depois, inclinando-a para trás, de modo que deitasse em seu peito.

A voz feminina ressoou pelo cômodo mais uma vez, demonstrando sua satisfação enquanto virava o pescoço para beijá-lo rapidamente nos lábios. A cena ilustrava com perfeição os pensamentos que rondavam sua mente a maior parte do tempo e, por um segundo, a infelicidade comprimiu o coração. Não que se sentisse feliz em qualquer outro momento (principalmente nos últimos dias), mas o sentimento ruim lhe acometia em especial em situações como aquela.

Era impossível não se lembrar de seu marido e sua onipresença fantasmagórica. Então as reflexões seguiam seu rotineiro curso; o comparava ao rapaz que tinha ao seu lado e a culpa se materializava. O que vinha depois era uma ligeira raiva, por Gerard nunca ter se esforçado para dar o que ela precisava, ele sabia, via em seus olhos, estava escrito em sua testa. Só um pouco de romance e seria plenamente feliz.

E, tão logo quanto o furor lhe tomava, era substituído pela massacrante e pesarosa realidade. Não importava os motivos pelos quais estava na cama com outro, estava errada. E sentia-se errada porque ainda o amava. Por isso estar deitada em Jack, sentindo o calor transpassar de sua pele para si, lhe doía mais do que qualquer outra coisa. Lindsey era uma saudosista nata, flagrava-se constantemente sentindo falta de algo que nunca havia vivido. Talvez isso se desse graças às inúmeras cenas que criou em sua mente ao longo dos anos, maneira de amenizar a relação insuficiente.

Entretanto, havia procurado por aquilo, havia feito o diabo para ter a maldita aliança no dedo. Cada vez que as íris focavam no adereço, via em seu brilho dourado o sentimento ainda vivo dentro de si.

- Não consegui dormir direito, na verdade. – Respondeu afagando os cabelos do rapaz.

Jack então afastou-se com um pesaroso suspiro, obrigando a jovem a ajeitar-se novamente na cama, desta vez, de frente para si. Trocaram olhares antes de ter coragem de iniciar o assunto que tanto evitava:

- É ele, não é? – Ante a resposta muda de Ballato, continuou sentindo um grande e indesatável nó na garganta. – Por que se martiriza tanto?

A jovem levou alguns segundos para responder, as sobrancelhas juntaram-se em uma expressão desacreditada. Era extremamente difícil quando ouvia o amante proferir palavras tão insensíveis e, por se sentir tão pouco compreendida, o desejo de vociferar aos quatro ventos o amor que ainda sentia por Gerard se fazia presente em uma espécie de vingança.

- Acha que o que fazemos está certo? – Indagou perplexa. – Talvez você não sinta nada, mas eu? Eu, Jack? Estou enganando meu marido.

- Eu não sinto nada? – Riu sarcástico desviando os orbes das duras feições da amante. – Estamos nessa há dois meses, acha mesmo que eu não sinto nada?

Frustração. Talvez esse fosse o sentimento predominante de relações extraoficiais. De repente as discussões tornavam-se grandes batalhas para ver quem dava mais de si pelo relacionamento, quem sofria mais, quem sentia-se mais prejudicado. Esse não era o ponto, não chegariam a lugar nenhum cuspindo suas aflições um ao outro.

In The Dark || FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora