Capítulo 22

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Naquele momento, o pensamento de que as coisas aconteciam por algum motivo lhe confortou. Apenas uma única certeza: não havia como voltar atrás em sua decisão. Tampouco acreditava que Gerard poderia fazê-lo. Não era também como se quisesse ou fosse mudar algo ainda se tivesse o poder – Seus pés caminhavam por um terreno muito frágil e desconhecido que eram os seus sentimentos por Way.

Mas, apesar de sentir-se desolado, estava completamente grato.

O tempo que passara com o homem havia lhe reconstruído física e emocionalmente. Talvez por essa razão parecesse tão equivocado deixá-lo, soava tão desonesto que a sensação lhe dava ânsia de vômito. Ainda que a decisão do rompimento tivesse sido de comum acordo, o estômago rejeitava toda e qualquer substância como se o castigasse pela atitude tomada.

O que havia acontecido com o líder dos Leviathans? De repente, por mais que estivesse em frente a um espelho, fitando-se por minutos em silêncio não se reconhecia.

Havia criado sua própria evasiva, uma tentativa inútil de isentar-se da culpa de causar o afastamento. Chegou à conclusão que os sentimentos de Gerard haviam caminhado para um lado que jamais poderia corresponder.

Mas não contava que o homem usasse da mesma tática.

Este preferiu acreditar que protegia o menor, o mantendo longe – de alguma forma a qual não sabia explicar, sempre trazia o mal para pessoas queridas.

Em algum ponto, ambos estavam certos, mas no fundo nenhum deles acreditava em suas próprias razões. Isso porque ansiavam por estarem juntos a cada nova respiração e sabiam que, uma vez que estivessem, fariam tudo pelo outro. Mas desconhecendo os sentimentos alheios, encontravam-se em um estágio em que eram incapazes de mudar qualquer coisa.

Na noite seguinte ao rompimento, Frank percebeu o movimento na frente da casa vizinha bem quando saía para a faculdade. Em um gesto rápido voltou para dentro, encostando novamente a porta e ali esperou em silêncio, sentindo seu coração afundar no peito com o próprio comportamento. Doía. Não queria ter de evita-lo, mas não estava pronto para agir como se nunca tivessem se relacionado.

Durante o resto da semana, não o viu, mas a sensação de tê-lo lhe observando não lhe abandonou um só instante. Era como um alerta que lhe despertava de tempos em tempos todos aqueles sentimentos contraditórios.

A verdade é que era um louco. Imaginar que o maior ainda lhe dava alguma atenção, ainda que indiretamente, soava reconfortante. Era nisso e mais nada que queria acreditar.

Entretanto não podia se dar ao luxo de permitir que toda a mente fosse preenchida por esses pensamentos; isso porque sabia que algo concreto estava para acontecer. E a aproximação da festa de sua faculdade anunciava a iminência daquilo que mais temia.

O desconhecido.

Ainda podia sentir a mesma inquietação que teve quando respondeu a última mensagem de Rob. Nutria dúvidas quanto a legitimidade de sua autoria. Havia suspeitado no segundo em que leu, antes mesmo de começar a digitar a resposta, mas ainda assim, o fez.

Impulso?

Passara a vida inteira agindo sem grandes questionamentos, o que vez ou outra lhe trouxera consequências irreparáveis, mas quanto a esse caso específico, sabia que não importava a verdade. Nada o faria mudar de atitude.

Sentia algo que permeava entre a coragem e a impaciência prestes a irromper dentro de si; uma necessidade que, se deixasse passar, seria fatal. Precisava se livrar da sobrevida que havia imposto a si mesmo como uma espécie de autoflagelo.

In The Dark || FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora