Capítulo 18

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O homem perscrutou o rapaz tatuado em todo o seu trajeto até o balcão. Os olhos esgueiravam-se ora ou outra, temendo estar sendo pouco discreto quanto ao seu interesse pelo jovem. A pequena demora começava a incomodá-lo um bocado, o fazendo questionar a legitimidade do que fazia o outro. Mas, passados mais alguns instantes, uma ínfima curva tomou seus lábios que até então formavam uma linha reta, resultado de vê-lo novamente se aproximar, desta vez com uma taça entre os dedos.

- Não dei nem um gole. – Afirmou, orgulhoso, quando perto o bastante, oferecendo, em seguida, a bebida.

Gerard levou alguns segundos para aceitar a taça, e só o fez depois de analisar o menor, o medindo devagar, de cima a baixo, as pálpebras minimamente fechadas. Frank esperou em silêncio, ponderando sobre a expressão impassível no rosto do outro.

- Notei como o barman o entreteve. – Enfim, comentou o homem em um tom crítico que denotava seu desprazer.

Iero temia sua sagacidade. As íris experientes pareciam tudo ver com clareza e profundidade, habituadas às minúcias e essências, garantindo que nada lhes escapasse. Uma característica rara que deixava todas as células do rapaz em alerta, cheias de frisson ante aquilo que reconheciam como perigo.

Mas, demonstrando leveza, Frank soltou um riso atrevido, umedecendo o lábio inferior.

- É ciumento, Way? – O foco era mudar o rumo da conversa, ainda que estivesse muito interessado no que lhe seria respondido.

- Possessivo é a palavra. – Sem qualquer cerimônia o corrigiu e, assim, deu o primeiro gole na bebida adocicada.

- Uh... – Soltou o ar pelos lábios em um sopro, arqueando as sobrancelhas. – Sinceridade, não é mesmo?

O outro meneou a cabeça com obviedade.

- Temo não poder esconder os defeitos que tenho.

Vendo na sentença do maior uma boa oportunidade para provocá-lo, Frank permitiu que um sorriso cínico brotasse em seus lábios.

- Já eu, não tenho defeitos.

As feições até então imperturbáveis deram lugar à perplexidade. Gerard quis sorrir ante a insolência, mas conteve-se acreditando que a atitude seria um catalisador para sua rebeldia.

- Acho intrigante que considere sua falta de disciplina uma virtude.

- Como poderia não ser, se é exatamente a parte que você mais gosta? – Disse e, dando-lhe as costas, dirigiu-se à pista de dança, exatamente como havia feito da outra vez, o olhar convidativo para que o homem o seguisse.

Way deixou a taça em uma das mesas mais próximas e, assim como era a vontade do outro, o acompanhou sentindo os músculos se retesarem em expectativa. Misturaram-se entre os corpos ao ritmo da música e, parando um em frente ao outro, viram suas peles mudarem de cor com rapidez. A visão era entorpecente e fez com que se mantivessem estáticos, admirando-se por alguns segundos.

Então Frank pronunciou-se.

- Lembra-se da última vez? – Os braços tatuados envolveram o pescoço do outro. – Aqui mesmo.

- Essa pergunta deveria ser minha. – Comentou divertido, referindo-se à falta de sobriedade do jovem na ocasião.

- Eu me lembro. – Foi quase um sussurro, uma artimanha para que o homem mantivesse a atenção voltada para sua boca. – Não quis me beijar.

A excitação do jovem era evidenciada pelas pupilas dilatas e lábios entreabertos.

- Eu queria... Só não o fiz.

In The Dark || FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora