Capítulo 1 - Bad Memories

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Tudo começou depois daquele feriado, naquele fim de semana chuvoso. Não que alguém se importasse com a chuva quando se tratava de Hogsmeade. Fui uma das únicas a continuar no castelo. Odiava chuva.

O "tic tac" irritante do relógio soava bem ao meu lado, a biblioteca estava semi-deserta e silenciosa. Tentei me concentrar no livro em minhas mãos, mas meus olhos pesavam devido a uma noite mal dormida, as palavras pareciam se soltar das páginas e pular em minha direção, tudo tornava-se embaçado e, para piorar mais, sentia incômodos olhos queimarem sobre mim.

Irritada, levantei o rosto fitando o garoto que me encarava logo a frente. imaginando que logo ele iria voltar ao seu livro, porém, isso não aconteceu. Seus olhos metálicos continuaram presos em mim, intensos e profundos e por um mínimo segundo, me pareceu que um pequeno choque elétrico perpassou pelo meu corpo.

Pisquei os olhos e me forcei a voltar para o livro em minhas mãos. Os olhos continuaram sobre mim, me incomodavam, me irritava toda a observação. Por fim, me levantei rapidamente da cadeira, provocando um estardalhaço exagerado fazendo a velha Pince me olhar severamente e o garoto a minha frente, soltar uma baixa e leve risada.

Caminhei por entre os corredores de Hogwarts. Tudo passava em minha cabeça como um borrão, os constantes sermões da minha família, a perfeita Rose Weasley sempre ofuscando tudo o que eu fazia, todos os meus esforços para ser notada por alguém, para ser, pelo menos uma vez, o orgulho da família.

Aquele estranho garoto de olhos metálicos havia, com o seu simples olhar, conseguido levar a tona tudo aquilo que eu tentava, inutilmente, guardar para mim mesma.

Os corredores estavam desertos, mas de longe eu podia escutar algumas pessoas retornando de Hogsmeade. Ouvi passos se aproximando, mas não virei para trás. Continuei andando rapidamente, tentando tirar aqueles pensamentos da minha cabeça, tirar os olhares de decepção que, por vezes, meus pais e meus tios me lançavam. Afinal, eu era a ovelha negra da família, uma Potter, sim, mas uma Potter que havia ido para a Sonserina.

Após alguns segundos de caminhada, me deparei em um corredor estreito e bem ilumidado, porém, era sem saída. Odiava essas passagens que apareciam ou sumiam do nada. Me virei para refazer o caminho, mas alguém se encontrava bloqueando a passagem.

– O que está fazendo aqui? - perguntei ríspida ao garoto em minha frente.

– Tá irritada? - sorriu de modo infantil.

Eu apenas bufei.

– O que você quer? - perguntei sem rodeios.

– Por que acha que eu quero alguma coisa? - se fingiu de ofendido - Não posso querer simplesmente conversar com a minha priminha?

Eu o fitei, em uma mistura de incredulidade e indignação. Dentre todos os meus primos, Hugo era um dos que mais falava comigo, mas geralmente queria algum favor meu, ou um doce.

– Ah, qual é Lilian, você devia ser menos cismada com tudo - murmurou descontraído - Quer um Sapo de Chocolate? - ofereceu, enquanto pegava um e colocava na boca. Seus olhos brilhavam enquanto ele comia.

– Não, obrigada - falei seca.

– Ah Lily, é só um Sapo de Chocolate. Não é nenhuma bomba de bosta ou coisa parecida...

Peguei o chocolate, contrariada, o que eu menos queria agora era escutar Hugo falando sobre como eu sou isso ou aquilo, ou como Sapos de Chocolates são bons. Meu primo era muito infantil. Mesmo eu tendo a mesma idade que ele, eu sentia uma grande diferença em relação à maturidade.

– Era só isso? - perguntei enquanto tentava passar por ele.

– Poxa, é só isso que eu ganho vindo aqui te dar um presente? - bloqueou minha passagem - Você está cada vez mais afastada de todos, depois daquela vez que quebrou a perna da minha irmã.

O sangue subiu a minha cabeça ao ouvir as palavras dele, e as lembranças daquele dia inundaram a minha mente com tudo, fazendo com que meus olhos ardessem rapidamente.

– Eu. Não. Quebrei. A perna. Dela. - murmurei pausadamente, tentando controlar minha raiva e minhas lágrimas. Elas insistiam em cair copiosamente toda vez que aquele assunto surgia, insistiam em demonstrar o quanto eu era fraca, insistiam em deixar minha máscara, que por todos aqueles meses conseguira levantar em meu rosto, cair.

Hugo arregalou os olhos ao perceber o que acabara de dizer. Entre a família, o assunto do feriado passado estava terminantemente proibido, o que para mim era ótimo, mas de certa forma, sufocante.

– Lils... – murmurou ele dando um passo em minha direção e aproveitei a brecha, para passar por ele – Desculpe... Eu...

– Me deixe em paz, Hugo! – exclamei andando a passos pesados – Vá embora...

Por alguns instantes, ainda o sentia atrás de mim, mas logo ele parou me deixando ir sozinha. Os meus passos tornaram-se mais pesados e mais violentos provocando um estardalhaço do qual eu pouco me importava.

Sentia raiva, não sabia exatamente do quê, sabia apenas que sentia raiva. Meus olhos ardiam contra o vento que batia em minha direção e eu os fechei, deixando a primeira e única lágrima rolar. Eu a sequei rapidamente e ainda de olhos fechados, senti meu corpo colidir com algo.

Abri os olhos, reparando que o algo era alguém. A raiva voltou quando reconheci os olhos metálicos.

– Me desculpe... – murmurei com a voz abafada – Eu... Eu estava distraída com outras coisas e se não bastasse o meu primo infantil, ainda ter que aturar as malditas lembranças do feriado passado e todos me apontando como uma prisioneira de Azkaban em condicional. Então... Me desculpe e... – minha voz se foi quando percebi que acabara de fazer um breve resumo da minha insignificante vida para aquele estranho garoto que eu nem mesmo sabia quem era.

Esperei que ele começasse a rir, me abandonasse no corredor indo correr para os seus amigos e contar a ele sobre a infeliz e medíocre vida de Lílian Luna Potter. Mas não. Ele continuou imóvel, os olhos metálicos sob a luz do dia pareciam misteriosos e intrigantes.

Um fraco sorriso se abriu em em seus olhos e ele levou a mão para os meus cabelos tirando as migalhas do chocolate.

– Tudo bem... – riu ele. Olhei para as suas vestes negras da qual pendiam o brasão serpentino da Sonserina.

Estendi-lhe a mão, hesitante.

– Acho que não nos conhecemos... – murmurei – Lílian Luna Potter.

Ele tocou minha mão e um estranho choque elétrico passou pelo meu corpo ao seu toque.

– Scorpius Malfoy – e se possível, seu sorriso se alargou ainda mais – É um prazer, Lílian Luna.

Better Than MeOnde histórias criam vida. Descubra agora