Histórias

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-Eu pensei em começarmos pelo começo...-disse.

-Acho que você não tem tanto tempo assim- ele sorriu divertido.

-Tá, vampiro original, eu sei - revirei os olhos, analisei as folhas que tinha sobre ele- você matou muitos dos namorados da sua irmã, não é?

-Só a protejo de idiotas- ele deu de ombros.

-Proteção, isso é meio possessivo?-encarei ele, que estava tranquilo.

-Rebeka busca seus objetivos de modo feroz, disposta a arriscar tudo para que um dia possa ser feliz- seu olhar era enigmático.

-Te preocupa, não é?- estava curiosa- que ela possa ser feliz sem você.

Por um momento, vi uma sombra no seu olhar, só o suficiente pra ele beber mais um pouco da sua bebida.

-Não me importo que ela seja feliz - ele deu de ombros- contando que ela não nos coloque em risco.

-De um jeito totalmente errado isso é fofo, possessivo e paranoico, mais fofo- ele sorriu sarcástico.

Ele não admitiria seu medo de ficar sozinho, com toda certeza não, resolvi seguir com o assunto.

-E quanto a Marcel? É contra ele toda essa guerra por poder, pensei que vocês fossem amigos- ele me fitava com um sorriso torto.

-Marcellus, me lembro claramente do dia que o encontrei - seu olhar estava distante- vi um pouco de mim nele, eramos parecidos. Eu o libertei, para que ele começasse a ter uma vida.

-E o que aconteceu? -estava empolgada com o fato de ele finalmente estar falando algo concreto.

-Ele começou a desejar algo que não poderia ter. Eu dei tudo pra ele, e ele me traiu...

-Rebeka- disse, me lembrando do que Elijah tinha falado sobre os dois.

-Os dois viviam e esgueirando pelas minhas costas, como eu se eu fosse um idiota - sem tom era carregado de ironia.

-É difícil, esse medo de perder as pessoas que você ama, medo de ser abandonado- ele me encarou sem dizer nada- e o que você fez a respeito?

-Cravei uma adaga no coração da minha querida irmã, e pus pra dormir por algumas décadas- ele riu divertido.

-Imaginei que sim- balancei a cabeça em sinal negativo- quanto a Marcel.

-Eu dei uma escolha a ele, e é obvio que ele não escolheu Rebeka - o modo tranquilo como ele falava era perturbador- deu tempo dele se tornar o que é hoje.

-O rei de New Orleans?-perguntei.

-Veja bem, depois de muito tempo, viemos pra cá, New Orleans, meus irmãos e eu erguemos essa cidade, tornamos ela o que é hoje.

-O que e aconteceu, vocês tiveram que ir embora?

-Pra nosso azar, Mikael, nosso querido pai - era clara sua ironia- nos encontrou, colocou fogo na cidade, ele queria seus filhos mortos. Fugimos, fui embora pensando que Marcel havia morrido no incêndio.

Ele parecia realmente se importar com Marcel, aquilo era interessante, muito

-Mas ele não morreu- ele continuou- estava aqui esse tempo todo, brincando de ser rei na minha cidade.

-E agora você a quer de volta - entendi- isso é bem pretensioso. Querer o que ele tem, porque você acredita que é seu.

-É meu - ele disse convicto.

-Deixa eu avinhar, ele não entregou a cidade assim, pelo simples fato de você a querer.

-Não esperaria outra coisa dele - ele sorriu com certa admiração.

-Você gosta disso - deduzi surpresa- de certa forma você se orgulha do que ele construiu. Você é complexo.

-Mil anos me deixaram assim- ele piscou pra mim.

Suspirei e rabisquei algumas informações importantes, levantei o olhar e ele me encarava.

-E então?- acho que não era pra ele soar tão divertido.

-Primeiro, adaga no coração dos seus irmãos, não é uma boa solução, nunca - ele arqueou a sobrancelha- e eu entendo que você queira o que Marcel tem, já percebi que você é possessivo. Mas a lealdade, o que ele tem com os vampiros, você nunca vai ter, não assim. Você tem consciência disso, não é?

-Isso eu posso conquistar depois- ele deu de ombros.

Tinha muito mais por trás daquele olhar do que ele disse, o que eu não daria pra poder ler sua mente agora.

Olhei o relógio, hora do jantar. Algo me dizia que a noite ia ser longa, então eu teria que preparar um ótimo jantar. Comida boa sempre melhorava um dia tenso.

-Terminamos por hoje - sorri me levantando- vou preparar o jantar.

Ele me olhou, como se eu fosse o jantar, acho que ele estava tentando ser ameaçador. Apenas dei de ombros e segui para a cozinha.

Podia até ser perturbador, mas eu não me preocupava em saber que iria passar a noite na mesma casa que Klaus Mikaelson.

Estava calmamente preparando o jantar, quando ele apareceu com um garrafa de vinho.

-Você quer?-algo no modo como seus lábios se moveram o deixaram muito atraente.

-Claro - peguei a taça.

-Bem, agora é a minha vez- ele estava animado demais pro meu gosto.

-Estou te ouvindo- virei de costas pra ele e comecei a mexer a panela.

-Não encontrei muitos detalhes do seu caso, adoraria ouvir a história inteira - não precisei olhá-lo pra saber que ele sorria.

-Apesar de não haver nenhuma criatura sobrenatural na minha família, nós sempre fomos muitos ligados ao mundo sobrenatural, principalmente de bruxas.

Quando eu tinha 16 anos, meus pais tiveram uma briga feia com uma bruxa, nunca soube o motivo, tenho certeza que foi algo sério. Tinha magia negra envolvida. Meu pai a matou.

Respirei fundo e tomei um gole de vinho.

-Acontece que ela tinha uma irmã, e bruxas são vingativas - encarei o molho vermelho na panela- ninguém na minha família poderia imaginar que ela faria o que fez.

-E o que ela fez? -ele estava interessado.

-Fez um feitiço, uma maldição - suspirei cansada- naquela noite, com uma força fora de mim, eu peguei o machado e... os matei.

Virei o rosto o suficiente pra encarar ele, tinha um pouco de surpresa em seus olhos.

-Era pra ter sido só o meu pai, mas eu não consegui parar, era algo além de mim. E eu não parei só pela minha família, vizinhos, amigos. Demorou um pouco, mas uma bruxa de confiança da nossa família reverteu o feitiço.

Terminei de preparar a comida, ele me fez companhia no jantar.

-O que?-perguntei ao perceber que ele me encarava.

-Você nunca se perguntou porque você não conseguiu parar?-o tom da sua voz me deixou tensa.

-Você tem um teoria-fingi a indiferente.

-Com sua família, foi trágico e doloroso - ele mantia seu olhar preso ao meu- mas então você já havia ultrapassado a linha tênue que existe entre sanidade e loucura. Você esbarrou na sua escuridão e então não conseguiu parar.

-Faria sentido- dei de ombros- se eu não estive sob efeito de um feitiço.

Ele me analisou, como se tentasse ver por de trás das minhas palavras, vendo se eu acreditava mesmo nisso, então sorriu divertido.

-Você lida muito bem com sua escuridão -seu olhar me deixou incomodada.

-Não posso dizer o mesmo de você- sorri divertida.

DarkSide ♦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora