Confusa

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Sangue. Muito sangue.

Encarei o machado nas minhas mãos, o que foi que eu fiz?

Segui pelo corredor escuro, pela trilha de pegadas ensanguentadas. Dava para ouvir os gritos. Nada daquilo fazia sentido, além de ser tudo muito assustador.

Parei em frente a única porta que havia ali.

Era como se algo me chamasse, me senti atraída pelo que havia atrás dela.

Frustrada, percebi que estava trancada. Mas eu precisava entrar, eu queria entrar.

Segurei firme o machado e acertei o primeiro golpe na porta.

-Está trancada por um motivo, April - uma voz feminina ecou pelo corredor- não tente entrar.

-Eu preciso - sussurrei e acertei outro golpe.

-Não comece algo que você não pode terminar- ela disse ríspida.

Ofegante e suada, me levantei da cama. Ainda era de madrugada. Nada daquilo fazia sentido, o que tinha atrás daquela porta que eu não podia ver?

Passei os resto das horas encarando o o relógio na parede. Quando amanheceu, suspirei aliviada. Algo na luz do dia me acalmava.

Depois de um banho tranquilizante, fui pra cozinha, estava faminta.

Peguei uma xícara de café e quando me virei, lá estava ele.

-Jesus!- ofeguei assustada.

-Bom dia- ele sorriu- dormiu bem?

Sua expressão me deixou confusa, ele me olhava como se soubesse algo, algo muito ruim. Analisei ele, encostado no batente da porta, com um copo nas mãos, ele parecia tranquilo. Havia algo errado, com toda certeza.

-Você andou mexendo com a minha cabeça?-perguntei desconfiada.

Ele pareceu surpreso, o que me deixou em duvida.

-Porque é que eu faria isso?-ele sorriu de lado.

-Isso é possível? -minha preocupação era visível, controlei o resto- eu estou cheia de verbena, não pensei que...

-Eu não fiz nada com sua mente, April- seu tom era sincero.

-Não?-repeti em duvida.

Eu não tinha esse tipo de sonho a muito tempo, Klaus era a única resposta pra isso.

-Mas agora estou curioso, o que você viu pra te deixar tão perturbada?- senti seu olhar sobre mim.

-Eu não estou perturbada- respirei fundo- e o paciente aqui é você, não eu.

Ser encarada por Klaus, ainda mais quando aquela duvida pesava na minha mente, não estava ajudando em nada. Respirei fundo e retomei o foco, afinal eu tinha uma sessão com o hibrido psicopata, eu tinha que ter a cabeça no lugar.

Quando achei que estava mais tranquila, iniciei nossa sessão.

-Uhm - encarei o nome na folha- o que você me diz da sua relação com a sua mãe?

-Bruxas mortas deveriam continuar mortas- ele riu sombrio.

-Você a ...matou?-pensei que tinha entendido errado, mas era o que estava escrito- porque?

-Foi necessário- ele deu de ombros.

-Mais do que duas palavras por favor?-disse encarando ele.

-Minha querida mãe -ele disse irônico- foi ela que nos transformou nos monstros que somos, no que eu sou hoje. Ela queria nos deixar fortes, então decidiu que não podia deixar as abominações que ela criou vivos. Então eu a matei.

-Não foi só por isso, não é?- eu sabia que tinha mais.

-Ela mentiu sobre meu pai- seu olhar ficou distante, ele sorriu amargo- ela teve sua punição.

Quando ele falava assim me deixava assustada. Era uma escuridão que me intrigava.

-Você se arrepende?- perguntei, ele me encarou.

-Você se arrepende?-ele usou minhas palavras contra mim.

Não consegui reprimir a careta, aquilo era um terreno perigoso, pelo qual eu não sabia se queria andar.

-Me arrependo- ele sorriu, diante do meu silencio- de não ter garantido que ela permaneceria morta para sempre.

-Culpá-la deixa as coisas mais fáceis- disse escrevendo o que ele havia dito sobra a mãe- mas é só uma distração das memorias em que ela ainda era quem você amava. Elas são vívidas, cheias de magoa. A raiva e vingança, elas tornam o imperdoável mais fácil. Mas os sentimentos ainda estão lá, a espreita, prontos pra te atacar.

Quando percebi o que tinha falado, não tinha certeza se falava dele ou de mim. Levantei o olhar, ele me encarava de uma forma intensa.

-Ainda estamos falando de mim?-ele arqueou a sobrancelha.

-Terminamos por hoje- disse, ele continuou a me encarar, me analisando.

Tudo bem, talvez não tenha sido uma ideia tão inteligente vir pra cá.

-Não comece algo que você não pode terminar- sussurrei contra o meu travesseiro.

DarkSide ♦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora